quinta-feira, 1 de março de 2012

COREIA DO NORTE PARA SEU PROGRAMA NUCLEAR EM TROCA DE COMIDA

COREIA DO NORTE PARA SEU PROGRAMA NUCLEAR EM TROCA DE COMIDA

COREIA DO NORTE ACEITA SUSPENDER PROGRAMA NUCLEAR EM TROCA DE COMIDA
Autor(es): WASHINGTON -
O Estado de S. Paulo - 01/03/2012
 
Diplomacia atômica. Após negociação com EUA, Pyongyang diz que interromperá testes nucleares e o enriquecimento de urânio, além de permitir o retorno dos inspetores da ONU; em troca, Washington enviará 240 mil toneladas de alimentos ao país comunista

A Coreia do Norte concordou ontem em suspender seus testes nucleares, além do enriquecimento de urânio, e finalmente permitir a volta dos inspetores internacionais a suas instalações atômicas. Os compromissos foram alcançados em um acordo com os EUA, que, em contrapartida, fornecerão 240 mil toneladas de alimento aos norte-coreanos.
A notícia do pacto foi inicialmente divulgada pela imprensa estatal de Pyongyang e, em seguida, confirmada pelo Departamento de Estado dos EUA - os dois países vinham negociando a portas fechadas na China. O compromisso alcançado pode pôr fim a anos de um impasse que permitiu aos norte-coreanos prosseguir com seu programa nuclear livres de controles externos.
O governo Barack Obama qualificou os novos passos como "importantes, mas limitados". As autoridades americanas destacaram que o avanço poderá começar a desatar o nó do programa norte-coreano dois meses após a morte do ditador Kim Jong-il. O líder de Pyongyang foi substituído por seu filho Kim Jong-un, de 28 anos, e Washington vinha acompanhando de perto a sucessão para saber se a mudança teria efeitos no comportamento do regime.
A Coreia do Norte concordou também com uma moratória nos lançamentos de mísseis de longo alcance. Os disparos criavam forte tensão nos dois principais inimigos de Pyongyang no Extremo Asiático, a Coreia do Sul e Japão.
No passado, o regime norte-coreano chegou a concordar com uma suspensão do seu programa nuclear, mas sempre voltou atrás, exigindo novas concessões ou acusando os EUA de não cumprirem suas promessas. Segundo o comunicado feito ontem pela agência de noticias norte-coreana, os líderes de Pyongyang cumprirão suas promessas "desde que as conversações prossigam de modo frutífero".
Inspeções. A permissão para inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) retornarem ao país é uma concessão importante. Em 2006 e 2009, depois de anos de negociações, a Coreia do Norte expulsou os funcionários e levou adiante seus testes nucleares. Integrantes da inteligência dos EUA acreditam que o país tem combustível nuclear suficiente para seis a oito bombas.
Em Washington, a possibilidade de a Coreia do Norte cumprir o acordo e parar com o enriquecimento de urânio ajudaria a tranquilizar a Casa Branca num momento em que, sob a pressão eleitoral, tenta lidar com a crise nuclear iraniana.
Em Pyongyang, o acordo pode ser crucial para o jovem e inexperiente ditador consolidar seu poder e garantir o apoio de um Exército poderoso, dizem analistas na Coreia do Sul. Ele precisa mostrar nos seus primeiros meses que está procurando melhorar a vida da população depois de anos de escassez de comida e de fome devastadora. A chegada de 240 mil toneladas de alimento dos EUA deverá ajudá-lo.
A ocasião é também importante para o jovem Kim, pois seu pai havia declarado que este seria um ano excepcional para a Coreia do Norte, quando a economia deslancharia e o país seria palco de grandes celebrações, marcando a data em que completaria 100 anos Kim Il-sung, o fundador da nação e avô de Kim Jong-un. A ajuda alimentar e a melhora das relações internacionais podem dar ao novo líder condições de organizar uma festa abundante, o que ajudaria a manter a fé da população na dinastia.

 NYT, TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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