quarta-feira, 28 de março de 2012

Mesmo com Selic em queda, crédito encarece

Mesmo com Selic em queda, crédito encarece

Mesmo com a Selic em queda, custo do crédito sobe pelo 2º mês seguido
Autor(es): FERNANDO NAKAGAWA , ADRIANA FERNANDES
O Estado de S. Paulo - 28/03/2012
 
Apesar da queda do juro básico e dos bons indicadores de emprego e renda, o crédito está cada vez mais caro. Na média, o preço dos financiamentos avançou de 38% ao ano, em janeiro, para 38,l%, em fevereiro. O encarecimento é liderado pelas operações para pessoas físicas, cuja taxa alcançou 45,4% no mês passado, e a tendência de alta permanece. O Banco Central atribui o fenômeno à inadimplência

Apesar da queda do juro básico desde agosto do ano passado e dos bons indicadores de emprego e renda, o crédito está cada vez mais caro. Segundo o Banco Central (BC), a inadimplência recorde no financiamento de veículos levou os bancos a adotar uma postura mais conservadora: aumentaram as margens nos empréstimos, o chamado spread, e por consequência as taxas de juros nessas operações.
Dados apresentados ontem pelo BC mostram que o preço dos financiamentos subiu pelo segundo mês seguido. Na média, o juro avançou de 38% ao ano, em janeiro, para 38,1%, em fevereiro. O encarecimento é liderado pelas operações para pessoas físicas, cuja taxa alcançou 45,4% no mês passado. Dado preliminar de março mostra que a tendência de alta segue e o custo já atingiu 45,5% no dia 15, o maior desde setembro.
O chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Túlio Maciel, avalia que a inadimplência que resiste em cair é a grande culpada da alta do juro aos clientes, especialmente no crédito para compra de veículos.
Nessa operação, o calote subiu de 5,3% em janeiro para 5,5% no mês passado, novo recorde. Boa parte dessa inadimplência, diz Maciel, nasceu em operações realizadas em 2010. Naquele ano, o governo incentivou o crédito via bancos públicos e o total de empréstimos para veículos cresceu impressionantes 49,1%.
A inadimplência geral entre todos os financiamentos para famílias e empresas está estacionada em 5,8%, o pior resultado para fevereiro. Diante do calote alto, bancos estariam "se defendendo" com a aumento das margens. "Bancos estão com uma posição mais cautelosa e mais seletiva", explica Maciel.
Historicamente, a inadimplência elevada faz com que bancos aumentem a margem para compensar possíveis perdas. Hoje, a cada R$ 100 pagos em juro por uma pessoa física, R$ 78,85 vão para o caixa da instituição. Um ano atrás, a fatia era de R$ 71,23. O restante do dinheiro vai para o investidor que depositou o dinheiro usado pela instituição para fazer o empréstimo.
"O comportamento do crédito para veículos em 2010 foi exagerado. Agora que o carro deixa de ser novidade, as famílias comprometem a renda com outras coisas e o financiamento perde prioridade no fim do mês", diz o professor de finanças pessoais do Insper, Ricardo José de Almeida. Ele comenta que atualmente muitos consumidores preferem manter outros pagamentos em dia - como telefonia e internet - porque a recuperação de um carro, pelo banco que deu o financiamento, é mais demorada que o cancelamento de serviços.
Mesmo com a preocupação dos bancos, Tulio Maciel mantém a previsão otimista de que a inadimplência deve melhorar em breve. "Há perspectiva de reversão no médio prazo", disse o chefe do Depec do BC.

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