Dilma degola seus líderes
Rebelião castigada |
Autor(es): » PAULO DE TARSO LYRA » DENISE ROTHENBURG » JOSIE JERONIMO » ERICH DECAT |
Correio Braziliense - 13/03/2012 |
Motim organizado por partidos da base e derrotas em plenário provocam a substituição do líder do governo no Senado, Romero Jucá. Cândido Vaccarezza também está próximo de sair do posto na Câmara Cinco dias depois de sofrer a primeira derrota no Senado — a não recondução de Bernardo Figueiredo para a Presidência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) —, a presidente Dilma Rousseff afastou o senador Romero Jucá (PMDB-RR) do cargo de líder do governo e indicou o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) para o seu lugar. Dilma também deixou encaminhada a troca do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP) — o substituto será confirmado hoje. O mais cotado é o ex-líder do PT na Casa, Paulo Teixeira (SP). "Sou líder até amanhã (terça-feira). Depois, não sei", disse Vaccarezza, constrangido. A destituição de Jucá foi um sinal explícito de autoridade da presidente Dilma. Na semana passada, após a votação da ANTT, o Correio mostrou que Dilma tinha ficado "profundamente irritada" com a derrota e que pedira à ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que promovesse uma "caça às bruxas" para procurar os culpados pela votação — para complicar, Bernardo Figueiredo é muito próximo da presidente e ela considerou a recusa ""uma questão pessoal". Por isso, no fim da manhã de ontem, a presidente chamou o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), para comunicar a decisão de afastar Jucá. Ela já havia avisado ao vice-presidente Michel Temer que promoveria as mudanças. Justificou, na reunião que durou cerca de uma hora e quarenta minutos, o desejo de "promover um rodízio nas lideranças do governo no Congresso", o que justifica a entrada de Vaccarezza na dança das cadeiras. Renan apenas disse a Dilma que "o cargo de líder do governo é da presidente e ela pode pedi-lo a hora que quiser". Após a reunião, Renan se encontrou com Jucá para comunicar a decisão e, logo depois, procurou Eduardo Braga. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), também conversou com o indicado a novo líder do governo na Casa. Oficialmente, a decisão foi comunicada pela própria Dilma a Jucá, por volta das 18h de ontem. O mesmo ritual deve se repetir na manhã de hoje com Vaccarezza. Ele tem encontro marcado com Dilma às 9h. Depois, dará entrevista coletiva na Câmara às 10h15. Logo após ouvir a decisão da presidente, Jucá se encaminhou para a sala de Ideli Salvatti, onde os líderes partidários do Congresso estavam reunidos. Lá, agradeceu e disse que estava fora da liderança do governo no Senado. Na plateia, estavam os líderes do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), e na Câmara, Jilmar Tatto (SP); o líder no Congresso, senador José Pimentel (CE); e o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Após o anúncio, o clima foi de total constrangimento. "Estávamos lá para discutir a questão da tramitação das Medidas Provisórias. Depois do anúncio, não tínhamos mais o que fazer lá", relatou um líder. Lobby pelo cargo No início da noite de ontem, Braga afirmou estar disposto a assumir a liderança, mas disse que só se pronunciará depois do anúncio oficial de Dilma. "Se a presidente entender que eu posso prestar um serviço ao Brasil, eu teria o maior prazer de fazer um bom serviço para o povo brasileiro." A escolha de Braga começou a ser maturada graças a um telefonema na semana retrasada. Braga havia percebido os riscos para o governo no Senado e sugeriu a Ideli um jantar dela com a bancada de senadores do partido na terça, véspera da votação da ANTT. De tão sutil, a mensagem não foi captada. No dia seguinte, o Planalto amargou a derrota. No encontro com o líder do PMDB, Dilma questionou a Renan se a indicação de Eduardo Braga poderia trazer ainda mais sequelas à convivência no partido. "O convite para o Eduardo Braga só faria sentido se fosse para a unidade do partido", teria dito a presidente Dilma a Renan. Na noite de ontem, o novo líder reuniu-se com a cúpula peemedebista em jantar no Palácio do Jaburu. Questionado sobre a saúde do relacionamento entre PMDB e governo, Braga afirmou que a fase é de "crescimento da relação". "Quando a relação é feita em bases verdadeiras, ela cresce. Em base falsa, corre o risco de trincar. Isso só faz melhorar e aprimorar a relação." Colaborou Júnia Gama |
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