Primavera Árabe
29.03.2012
Publicado em Carta Capital
Altos níveis de desemprego e queda no PIB
Há
pouco mais de um ano dos levantes populares no norte da África que
derrubaram regimes ditatoriais na Líbia, Egito e Tunísia, sob a bandeira
da desigualdade social, falta de perspectiva aos jovens e corrupção,
entre outros motivos, os três países que passaram pelo processo
enfrentam um cenário econômico negativo e níveis de desemprego tão altos
quanto antes dos protestos.
Segundo levantamento da revista americana Bloomberg, somente no Egito, onde o ditador Hosni Mubarak não resistiu a 18 dias de manifestações na Praça Tahir em janeiro de 2011, 1 milhão de pessoas perderam seus empregos no último ano. A economia do maior país árabe também encolheu 0,8%.
Na Tunísia, o nível de desemprego subiu para 18%, contra os 13% registrados em 2010, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). O PIB do país caiu 1,8% em 2011 e o governo cortou a expectativa de 4,5% de crescimento para 3,5% em 2012.
Após os confrontos entre rebeldes e as tropas do general Muammar Kaddafi, a Líbia enfrenta problemas semelhantes ao Egito e Tunísia e registra um índice de desocupados de 26%.
Os resultados, no entanto, são vistos como naturais após revoltas, avalia Salem Nasser, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), doutor em Direito Internacional e especialista em Oriente Médio. “O levante popular evidenciou que o crescimento do PIB nestes países é um indicador pouco fiel à realidade social destes lugares, pois havia grande desigualdade da renda e altíssimos níveis de corrupção.”
“Tanto que para conter os problemas a medida principal era subsidiar o trigo e liberar o pão, uma resposta direta à fome.”
Reginaldo Mattar Nasser, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em relações internacionais, também acredita na inevitabilidade dos resultados, pois ainda não houve mudanças econômicas. “No Egito e Tunísia, ocorreram apenas alterações políticas que ainda demorarão a ter consequências sociais.”
Segundo ele, os altos níveis de desemprego também estão relacionados a modelos econômicos adotados anteriormente, como a falta de estímulo à agricultura no Egito, que importa cerca de 70% dos alimentos. “Os governos devem se convencer que estão no caminho certo, além de contar com a confiança popular para atingir os resultados.”
No Egito, o professor da FGV destaca que os militares – no comando do país desde a queda de Mubarak – possuem forte influência por deterem entre 30% e 40% da economia, como indústrias de diversos setores. “Eles não vão largar os privilégios sem um acordo compreensivo com as novas e antigas forças políticas.”
Após os levantes populares, Tunísia e Egito realizaram eleições parlamentares com vitória das correntes islâmicas. O pesquisador do Ipea acredita, porém, que um governo ligado a estes setores, mais conservadores nas tradições sociais, não teria necessariamente uma postura semelhante no campo econômico. “Ainda não temos como deduzir como esses governos serão. É preciso ter cuidado ao avaliar esse tipo de política, porque obtiveram maioria em Congresso e realizaram alianças para implementar a governabilidade.”
Após as revoltas, os governos de Tunísia e Egito precisam criar empregos para reativar suas economias. A coalisão tunisiana prometeu gerar 590 mil postos de trabalho até 2016 e a Irmandade Muçulmana, maioria no Congresso egípcio, pretende criar vagas dirigindo mais investimentos para a indústria, agricultura e tecnologia da informação.
Mas, de acordo com a Bloomberg, ambos devem precisar de ajuda do FMI. Nos próximos dois anos, o Egito necessitaria de 11 bilhões de dólares em financiamentos e a Tunísia, 5 bilhões de dólares para cobrir o balanço negativo dos pagamentos.
Uma situação, diz o professor da FGV, que reflete o caos gerado nestes países, a criar incerteza e atrapalhar o resultado econômico. “No Egito, onde a violência se espalhou, a grande indústria do turismo ficou praticamente imobilizada. Isso machuca a economia.”
Na Libia, destaca, o conflito armado entre rebeldes e as forças de Kaddafi prejudicaram fortemente a indústria do petróleo, o principal setor do país. “A recuperação demorará alguns anos, porque é necessário reconstruir a nação e criar um processo econômico sob novas bases.”
De acordo com o especialista em Oriente Médio, nestes países há ainda outro fator a afetar o crescimento econômico: os movimentos antirrevolução, incluindo as elites antigas, que tentam conter os resultados do levante popular. “É um processo que leva tempo para ser vencido, o que se junta a um cenário de caos e incerterza e na tentativa da manutenção de antigos privilégios.”
Para Salem Nasser, a solução desejável para as sociedades árabes seria vencer a corrupção e manter uma economia capaz de funcionar de forma mais igualitária. Por outro lado, uma integração maior com os países do mundo árabe, um mercado de cerca de 350 milhões de pessoas e com pouco comércio interno, no qual poderia também haver cooperação técnica, também é uma opção viável.
“O problema da corrupção, no entanto, continua no mapa. Não adianta aumentar o comércio se os recursos ficarem parados no funil da elite que sempre governou.”
Segundo levantamento da revista americana Bloomberg, somente no Egito, onde o ditador Hosni Mubarak não resistiu a 18 dias de manifestações na Praça Tahir em janeiro de 2011, 1 milhão de pessoas perderam seus empregos no último ano. A economia do maior país árabe também encolheu 0,8%.
Na Tunísia, o nível de desemprego subiu para 18%, contra os 13% registrados em 2010, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). O PIB do país caiu 1,8% em 2011 e o governo cortou a expectativa de 4,5% de crescimento para 3,5% em 2012.
Após os confrontos entre rebeldes e as tropas do general Muammar Kaddafi, a Líbia enfrenta problemas semelhantes ao Egito e Tunísia e registra um índice de desocupados de 26%.
Os resultados, no entanto, são vistos como naturais após revoltas, avalia Salem Nasser, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), doutor em Direito Internacional e especialista em Oriente Médio. “O levante popular evidenciou que o crescimento do PIB nestes países é um indicador pouco fiel à realidade social destes lugares, pois havia grande desigualdade da renda e altíssimos níveis de corrupção.”
“Tanto que para conter os problemas a medida principal era subsidiar o trigo e liberar o pão, uma resposta direta à fome.”
Reginaldo Mattar Nasser, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em relações internacionais, também acredita na inevitabilidade dos resultados, pois ainda não houve mudanças econômicas. “No Egito e Tunísia, ocorreram apenas alterações políticas que ainda demorarão a ter consequências sociais.”
Segundo ele, os altos níveis de desemprego também estão relacionados a modelos econômicos adotados anteriormente, como a falta de estímulo à agricultura no Egito, que importa cerca de 70% dos alimentos. “Os governos devem se convencer que estão no caminho certo, além de contar com a confiança popular para atingir os resultados.”
No Egito, o professor da FGV destaca que os militares – no comando do país desde a queda de Mubarak – possuem forte influência por deterem entre 30% e 40% da economia, como indústrias de diversos setores. “Eles não vão largar os privilégios sem um acordo compreensivo com as novas e antigas forças políticas.”
Após os levantes populares, Tunísia e Egito realizaram eleições parlamentares com vitória das correntes islâmicas. O pesquisador do Ipea acredita, porém, que um governo ligado a estes setores, mais conservadores nas tradições sociais, não teria necessariamente uma postura semelhante no campo econômico. “Ainda não temos como deduzir como esses governos serão. É preciso ter cuidado ao avaliar esse tipo de política, porque obtiveram maioria em Congresso e realizaram alianças para implementar a governabilidade.”
Após as revoltas, os governos de Tunísia e Egito precisam criar empregos para reativar suas economias. A coalisão tunisiana prometeu gerar 590 mil postos de trabalho até 2016 e a Irmandade Muçulmana, maioria no Congresso egípcio, pretende criar vagas dirigindo mais investimentos para a indústria, agricultura e tecnologia da informação.
Mas, de acordo com a Bloomberg, ambos devem precisar de ajuda do FMI. Nos próximos dois anos, o Egito necessitaria de 11 bilhões de dólares em financiamentos e a Tunísia, 5 bilhões de dólares para cobrir o balanço negativo dos pagamentos.
Uma situação, diz o professor da FGV, que reflete o caos gerado nestes países, a criar incerteza e atrapalhar o resultado econômico. “No Egito, onde a violência se espalhou, a grande indústria do turismo ficou praticamente imobilizada. Isso machuca a economia.”
Na Libia, destaca, o conflito armado entre rebeldes e as forças de Kaddafi prejudicaram fortemente a indústria do petróleo, o principal setor do país. “A recuperação demorará alguns anos, porque é necessário reconstruir a nação e criar um processo econômico sob novas bases.”
De acordo com o especialista em Oriente Médio, nestes países há ainda outro fator a afetar o crescimento econômico: os movimentos antirrevolução, incluindo as elites antigas, que tentam conter os resultados do levante popular. “É um processo que leva tempo para ser vencido, o que se junta a um cenário de caos e incerterza e na tentativa da manutenção de antigos privilégios.”
Para Salem Nasser, a solução desejável para as sociedades árabes seria vencer a corrupção e manter uma economia capaz de funcionar de forma mais igualitária. Por outro lado, uma integração maior com os países do mundo árabe, um mercado de cerca de 350 milhões de pessoas e com pouco comércio interno, no qual poderia também haver cooperação técnica, também é uma opção viável.
“O problema da corrupção, no entanto, continua no mapa. Não adianta aumentar o comércio se os recursos ficarem parados no funil da elite que sempre governou.”
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