Acenos entre Irã e EUA
Rouhani pede que Obama não ceda à "pressão de míopes" |
O Globo - 25/09/2013 |
Presidente do Irã defende acordo nuclear; e americano acena com diálogo
Nova
YORK- Logo pela manhã, o presidente americano, Barack Obama, citou em
seu pronunciamento de 40 minutos a "humildade" aprendida com as guerras
de Iraque e Afeganistão para justificar a escolha pelas vias
diplomáticas no Irã. E num dos discursos mais esperados desta Assembleia
Geral da ONU, o novo chefe de Estado do Irã alimentou as expectativas
de negociação. Mesmo tendo rejeitado a oferta da Casa Branca de um
encontro com Obama, Hassan Rouhani fez sua estreia no púlpito das Nações
Unidas com promessas de moderação, abertura e "cooperação responsável"
para uma nova diplomada intemadonal — e para resolver o impasse nuclear.
Ele
surpreendeu ao mencionar Obama nominalmente e disse esperar que o
presidente americano não ceda às pressões contrárias para alavancar o
diálogo entre os dois países. Essa referên-da parecia ser um recado
velado a Israel, que promete manter sobre Obama o lobby para uma
política severa quanto a Teerã.
—
Eu ouvi atentamente o discurso do presidente Obama hoje na Assembleia
Geral. Espero que eles se abstenham de seguir os interesses míopes de
grupos de pressão belicista para que possamos chegar a um meio de gerir
nossas diferenças. Nós esperamos ouvir uma voz consistente de Washington — afirmou.
A
delegação israelense fora instruída pelo premier Benjamin Netanyahu a
boicotar a aparição do iraniano, Rouhani conclamou os países-membros da
ONU a participarem de um esforço coletivo intitulado "Mundo contra a
violência e o extremismo" Mas também não poupou críticas duras, embora
elegantes, aos EUA.
—
A ameaça iraniana serviu de desculpa para justificar crimes nas últimas
três décadas: Armar Saddam Hussein com armas químicas e estabelecer a
al-Qaeda no Afeganistão... — lembrou ele, garantindo que "o Irã não
representa ameaça ao mundo ou à região"
DRIBLE NO ALMOÇO DE BAN
Como
de costume em seu país, o presidente iraniano abriu o discurso com um
pedido de clemência a Deus. Falou numa era de medo da guerra e esperança
pela escolha do diálogo. E não poupou críticas ao unilateralismo dos
EUA, criticando, mais uma vez, uma "mentalidade bipolar de Guerra Fria"
—
Os esforços de redesenhar as fronteiras políticas são extremamente
perigosos e provocativos. O centro do poder do mundo é hegemônico.
Relegar o Sul à periferia provocou um monólogo nas relações
internacionais — criticou Rouhani.
Conforme
vinha anunciando nas últimas semanas, o presidente reafirmou estar
pronto para negociar sobre o programa nuclear que, assegurou, tem fins
pacíficos.
—
É uma oportunidade única. A República Islâmica do Irã acredita que
todos os desafios podem ser resolvidos com sucesso, inclusive a questão
nuclear.
Mais
cedo, Rouhani faltou ao almoço oferecido aos chefes de Estado pelo
secretário-geral da ONU Ban Ki-moon. Seria essa a 1 maior chance de um
encontro, ainda que casual, com Obama — seria o primeiro entre líderes
americano e iraniano em 36 anos. Segundo a rede iraniana , Press TV a
ausência se justificpelo fato de o anfitrião servir vi-! nho aos
convidados — bebida alcoólica cujo consumo é proibido aos muçulmanos.
UMA NOVA DOUTRINA OBAMA
A
polêmica sobre o cardápio não se confirmou. Mas, horas depois, fontes
da Casa Branca revelaram ter feito uma oferta de encontro com Obama à
dele- i gação do Irã. Os iranianos declinaram o convite, alegando que i
"questões políticas internas" tornavam "complicado" tal encontro. Houve,
porém, uma reunião do iraniano com o presidente francês, François
HoÜande.
Por
sua vez, o presidente americano também tentou usar a ONU para
apresentar mudanças. Segundo ele, os EUA não vão mais agir sozinhos para
buscar seus interesses vitais, mas estarão prontos para usar a forçai
incitar a comunidade intemacional a agir. Foi o que fez com a Síria e o
que pretende fazer no Oriente Médio até o fim de seu govemo, garantiu
Obama.
Síria
e Irã dominaram o discurso. Sobre o primeiro, o presidente disse ser um
"insulto"! duvidar dos crimes de guerra cometidos pelo regime def
Bashar al-Assad. E sobre o segundo, ressaltou ter ordenado ao
secretário de Estado John-Kerry buscar um acordo.
—
O caminho diplomático deve ser testado — afirmou, antes de fazer a
ressalva — As palavras conciliatórias terão; que estar em linha com
ações! transparentes e verificáveis.
Apesar
de frustrarem quem apostava num aperto de mão,! Obama e Rouhani ainda
podem, esperar avanços amanhã. É quando os chanceleres de EUA e Irã
estarão frente a frente num primeiro encontro sobre as negociações
nucleares com o grupo chamado P5+1, formado pelas cinco potências do
Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha, sob o comando da chefe da
diplomacia europeia, Catherine Ashton.
"Temos uma oportunidade histórica de resolver a questão nuclear" escreveu no Twitter o chanceler do Irã, Javad Zarif.
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