terça-feira, 5 de novembro de 2013

Acenos entre Irã e EUA

Acenos entre Irã e EUA

Rouhani pede que Obama não ceda à "pressão de míopes"
O Globo - 25/09/2013
 
Presidente do Irã defende acordo nuclear; e americano acena com diálogo

Nova YORK- Logo pela manhã, o presidente americano, Barack Obama, citou em seu pronunciamento de 40 minutos a "humildade" aprendida com as guerras de Iraque e Afeganistão para justificar a escolha pelas vias diplomáticas no Irã. E num dos discursos mais esperados desta Assembleia Geral da ONU, o novo chefe de Estado do Irã alimentou as expectativas de negociação. Mesmo tendo rejeitado a oferta da Casa Branca de um encontro com Obama, Hassan Rouhani fez sua estreia no púlpito das Nações Unidas com promessas de moderação, abertura e "cooperação responsável" para uma nova diplomada intemadonal — e para resolver o impasse nuclear.
Ele surpreendeu ao mencionar Obama nominalmente e disse esperar que o presidente americano não ceda às pressões contrárias para alavancar o diálogo entre os dois países. Essa referên-da parecia ser um recado velado a Israel, que promete manter sobre Obama o lobby para uma política severa quanto a Teerã.
— Eu ouvi atentamente o discurso do presidente Obama hoje na Assembleia Geral. Espero que eles se abstenham de seguir os interesses míopes de grupos de pressão belicista para que possamos chegar a um meio de gerir
nossas diferenças. Nós esperamos ouvir uma voz consistente de Washington — afirmou.
A delegação israelense fora instruída pelo premier Benjamin Netanyahu a boicotar a aparição do iraniano, Rouhani conclamou os países-membros da ONU a participarem de um esforço coletivo intitulado "Mundo contra a violência e o extremismo" Mas também não poupou críticas duras, embora elegantes, aos EUA.
— A ameaça iraniana serviu de desculpa para justificar crimes nas últimas três décadas: Armar Saddam Hussein com armas químicas e estabelecer a al-Qaeda no Afeganistão... — lembrou ele, garantindo que "o Irã não representa ameaça ao mundo ou à região"
DRIBLE NO ALMOÇO DE BAN
Como de costume em seu país, o presidente iraniano abriu o discurso com um pedido de clemência a Deus. Falou numa era de medo da guerra e esperança pela escolha do diálogo. E não poupou críticas ao unilateralismo dos EUA, criticando, mais uma vez, uma "mentalidade bipolar de Guerra Fria"
— Os esforços de redesenhar as fronteiras políticas são extremamente perigosos e provocativos. O centro do poder do mundo é hegemônico. Relegar o Sul à periferia provocou um monólogo nas relações internacionais — criticou Rouhani.
Conforme vinha anunciando nas últimas semanas, o presidente reafirmou estar pronto para negociar sobre o programa nuclear que, assegurou, tem fins pacíficos.
— É uma oportunidade única. A República Islâmica do Irã acredita que todos os desafios podem ser resolvidos com sucesso, inclusive a questão nuclear.
Mais cedo, Rouhani faltou ao almoço oferecido aos chefes de Estado pelo secretário-geral da ONU Ban Ki-moon. Seria essa a 1 maior chance de um encontro, ainda que casual, com Obama — seria o primeiro entre líderes americano e iraniano em 36 anos. Segundo a rede iraniana , Press TV a ausência se justificpelo fato de o anfitrião servir vi-! nho aos convidados — bebida alcoólica cujo consumo é proibido aos muçulmanos.
UMA NOVA DOUTRINA OBAMA
A polêmica sobre o cardápio não se confirmou. Mas, horas depois, fontes da Casa Branca revelaram ter feito uma oferta de encontro com Obama à dele- i gação do Irã. Os iranianos declinaram o convite, alegando que i "questões políticas internas" tornavam "complicado" tal encontro. Houve, porém, uma reunião do iraniano com o presidente francês, François HoÜande.
Por sua vez, o presidente americano também tentou usar a ONU para apresentar mudanças. Segundo ele, os EUA não vão mais agir sozinhos para buscar seus interesses vitais, mas estarão prontos para usar a forçai  incitar a comunidade intemacional a agir. Foi o que fez com a Síria e o que pretende fazer no Oriente Médio até o fim de seu govemo, garantiu Obama. 
Síria e Irã dominaram o discurso. Sobre o primeiro, o presidente disse ser um "insulto"! duvidar dos crimes de guerra cometidos pelo regime def Bashar al-Assad. E sobre o segundo, ressaltou ter ordenado  ao secretário de Estado John-Kerry buscar um acordo. 
— O caminho diplomático  deve ser testado — afirmou, antes de fazer a ressalva — As palavras conciliatórias terão; que estar em linha com ações! transparentes e verificáveis. 
Apesar de frustrarem quem apostava num aperto de mão,! Obama e Rouhani ainda podem, esperar avanços amanhã. É quando os chanceleres de EUA e Irã estarão frente a frente num primeiro encontro sobre as negociações nucleares com o grupo chamado P5+1, formado pelas cinco potências do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha, sob o comando da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton. 
"Temos uma oportunidade histórica de resolver a questão nuclear" escreveu no Twitter o chanceler do Irã, Javad Zarif.

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