Fórum Mundial de Ciência e o desenvolvimento sustentável global
Autor(es): Helena Nader |
Correio Braziliense - 26/11/2013 |
"A
complexidade crescente de grandes desafios para a humanidade requer que
a comunidade científica internacional assuma novos papéis, pois cada
vez mais o mundo é moldado pela ciência e tecnologia, que devem ser
considerados e assumidos como legado comum da humanidade." A assertiva
aparentemente utópica em um mundo desigual, consta da Declaração de
Budapeste do Fórum Mundial de Ciência (FMC) de 2011 sobre o tema nova
era para a ciência global. O evento bienal que reúne academias e
sociedades científicas de todo o planeta tem vez neste ano no Rio de
Janeiro, entre os dias 24 e 27 de novembro, e carrega o ineditismo de
ser realizado pela primeira vez fora da cidade de Budapeste.
O
tema deste 6º fórum, Ciência para o Desenvolvimento Sustentável Global,
resulta de extensa agenda de debates, trabalhos e propostas
apresentados durante os encontros anteriores, que tiveram origem na
Conferência Mundial de Ciência, organizada pela Unesco em Budapeste em
1999. No último fórum, em 2011, os participantes debateram e deliberaram
sobre temas cruciais para determinar o futuro da humanidade e o papel
da ciência.
Entre
eles destacamos a questão da ética na pesquisa e na inovação, a
necessidade de ampliar e fortalecer o diálogo com a sociedade sobre as
implicações morais e éticas da ciência e da tecnologia, a implantação de
políticas científicas colaborativas entre os países, o fortalecimento e
a ampliação das capacidades científicas, sobretudo de mulheres
(bandeira atual da Unesco), e a elaboração de políticas nacionais e
internacionais que facilitem a equidade e a participação nos avanços da
ciência e da tecnologia.
Não
é pouca coisa. Tanto que o tema central do evento propõe um foco de
todas essas questões, amalgamadas no problema específico do
desenvolvimento sustentável global, presente hoje, ainda que em graus
díspares, nas agendas de empreendimentos sociais, econômicos e políticos
de todos os países. Como ramificações, os participantes se dedicarão a
debates sobre as desigualdades como barreiras para o desenvolvimento
global, a aplicação do conhecimento científico e tecnológico na
preservação dos recursos naturais, as políticas públicas dedicadas à
área, a educação em engenharia. Muitos dos tópicos serão debatidos com a
participação de cientistas vencedores do Prêmio Nobel, convidados para o
evento.
Estamos
nos preparando há mais de um ano. O Ministério da Ciência Tecnologia e
Inovação (MCTI), coordenador local do fórum, em parceria com as
principais organizações brasileiras representativas de ciência e
tecnologia, realizou sete encontros preparatórios nas principais cidades
do país — o primeiro deles em agosto do ano passado, em São Paulo —
para promover ampla discussão nacional sobre o tema central do FMC. O
resultado foi consolidado em um documento a ser apresentado durante o
fórum.
O
fato de o Brasil ser escolhido para realizar pela primeira vez o FMC
fora da Hungria significa que nossa ciência atingiu maturidade,
significa credibilidade dos cientistas brasileiros. O evento será também
oportunidade para mostrar o avanço da ciência feita no Brasil. Nossa
produção científica cresceu muito nas últimas décadas e hoje somos
responsáveis por 2,7% do total mundial, o que nos coloca na 14ª posição.
Contudo, apesar da colocação entre as oito maiores economias do mundo, o
Brasil é o quarto país com maior desigualdade da América Latina.
O
Fórum Mundial de Ciência do Rio de Janeiro não ficará alheio aos
problemas causados pelas desigualdades. Nossa expectativa é que o
encontro notável de cientistas, representantes de organizações
internacionais, academias, legisladores e meios de comunicação
apresentem propostas de soluções concretas para os desafios urgentes que
a humanidade enfrenta em todo o planeta.
HELENA B. NADER Biomédica, professora titular da Escola Paulista de Medicina, é presidente da SBPC
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