quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Fórum Mundial de Ciência e o desenvolvimento sustentável global

Fórum Mundial de Ciência e o desenvolvimento sustentável global

Autor(es): Helena Nader
Correio Braziliense - 26/11/2013
 
"A complexidade crescente de grandes desafios para a humanidade requer que a comunidade científica internacional assuma novos papéis, pois cada vez mais o mundo é moldado pela ciência e tecnologia, que devem ser considerados e assumidos como legado comum da humanidade." A assertiva aparentemente utópica em um mundo desigual, consta da Declaração de Budapeste do Fórum Mundial de Ciência (FMC) de 2011 sobre o tema nova era para a ciência global. O evento bienal que reúne academias e sociedades científicas de todo o planeta tem vez neste ano no Rio de Janeiro, entre os dias 24 e 27 de novembro, e carrega o ineditismo de ser realizado pela primeira vez fora da cidade de Budapeste.
O tema deste 6º fórum, Ciência para o Desenvolvimento Sustentável Global, resulta de extensa agenda de debates, trabalhos e propostas apresentados durante os encontros anteriores, que tiveram origem na Conferência Mundial de Ciência, organizada pela Unesco em Budapeste em 1999. No último fórum, em 2011, os participantes debateram e deliberaram sobre temas cruciais para determinar o futuro da humanidade e o papel da ciência.
Entre eles destacamos a questão da ética na pesquisa e na inovação, a necessidade de ampliar e fortalecer o diálogo com a sociedade sobre as implicações morais e éticas da ciência e da tecnologia, a implantação de políticas científicas colaborativas entre os países, o fortalecimento e a ampliação das capacidades científicas, sobretudo de mulheres (bandeira atual da Unesco), e a elaboração de políticas nacionais e internacionais que facilitem a equidade e a participação nos avanços da ciência e da tecnologia.
Não é pouca coisa. Tanto que o tema central do evento propõe um foco de todas essas questões, amalgamadas no problema específico do desenvolvimento sustentável global, presente hoje, ainda que em graus díspares, nas agendas de empreendimentos sociais, econômicos e políticos de todos os países. Como ramificações, os participantes se dedicarão a debates sobre as desigualdades como barreiras para o desenvolvimento global, a aplicação do conhecimento científico e tecnológico na preservação dos recursos naturais, as políticas públicas dedicadas à área, a educação em engenharia. Muitos dos tópicos serão debatidos com a participação de cientistas vencedores do Prêmio Nobel, convidados para o evento.
Estamos nos preparando há mais de um ano. O Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), coordenador local do fórum, em parceria com as principais organizações brasileiras representativas de ciência e tecnologia, realizou sete encontros preparatórios nas principais cidades do país — o primeiro deles em agosto do ano passado, em São Paulo — para promover ampla discussão nacional sobre o tema central do FMC. O resultado foi consolidado em um documento a ser apresentado durante o fórum.
O fato de o Brasil ser escolhido para realizar pela primeira vez o FMC fora da Hungria significa que nossa ciência atingiu maturidade, significa credibilidade dos cientistas brasileiros. O evento será também oportunidade para mostrar o avanço da ciência feita no Brasil. Nossa produção científica cresceu muito nas últimas décadas e hoje somos responsáveis por 2,7% do total mundial, o que nos coloca na 14ª posição. Contudo, apesar da colocação entre as oito maiores economias do mundo, o Brasil é o quarto país com maior desigualdade da América Latina.
O Fórum Mundial de Ciência do Rio de Janeiro não ficará alheio aos problemas causados pelas desigualdades. Nossa expectativa é que o encontro notável de cientistas, representantes de organizações internacionais, academias, legisladores e meios de comunicação apresentem propostas de soluções concretas para os desafios urgentes que a humanidade enfrenta em todo o planeta.
HELENA B. NADER Biomédica, professora titular da Escola Paulista de Medicina, é presidente da SBPC

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