Os presidentes da Câmara, Henrique Alves
(PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), assinaram a emenda
constitucional 76/2013 que "abole a votação secreta nos casos de perda
de mandato e de apreciação de veto presidencial", mas não prevê de forma
expressa que o voto terá de ser aberto.
Caso Donadon
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Em 28 de outubro de 2013, em votação secreta, a Câmara manteve o mandato de Natan Donadon (ex-PMDB-RO), condenado pelo Supremo. Com quórum de menos de 410 deputados, 233 votaram a favor de sua cassação, 131 contra e houve 41 abstenções. Para cassá-lo, eram necessários 257 votos, o que representa a metade do total de deputados mais um voto.
O deputado foi acusado de participação em desvio de cerca de R$ 8 milhões da Assembleia Legislativa de Rondônia em simulação de contratos de publicidade.
O caso Donadon foi o que inspirou a Câmara a votar a PEC do Voto Aberto, projeto que foi ao Senado, que a aprovou em segundo turno.
Henrique Alves lembrou que a PEC é uma resposta às reivindicações da
população que foi às ruas nos protestos do mês de junho deste ano. "Ao
aprovar o voto aberto, o Congresso caminha ao encontro dos legítimos
anseios na nossa gente. Não há mais espaço na política para o
obscurantismo. Que cada um assuma suas posições legítimas e busque em
cada eleição a aprovação popular", declarou.
"O Brasil está mudando, e as instituições precisam acompanhar as
mudanças sobre pena de verem afetada a sua credibilidade", afirmou Renan
Calheiros.
Ele explicou que a Constituição
determina, como regra geral, o voto aberto no Legislativo, mas prevê
algumas exceções. "A intenção é garantir, em questões específicas, que
ele [o parlamentar] decida de acordo com sua consciência a salvo de
pressões políticas e de governos", disse.
"Alguns votos secretos estão intrinsecamente associados às garantias de liberdade e da democracia", acrescentou.
A PEC que havia sido aprovada por unanimidade na Câmara também previa a
abertura do voto para indicações de autoridades (como embaixadores e
diretores de agências públicas) e eleições das mesas diretoras das duas
Casas, mas a maioria dos senadores rejeitou essa parte do texto.
"Não houve vencedores ou derrotados na longa sessão de terça-feira.
Gnahou o Brasil como um todo. Avalio que o Parlamento passa por um
histórico processo de amadurecimento, de aproximação com a sociedade",
disse Calheiros.
Conflito com regimentos internos
Parlamentares temem que, na falta de uma determinação clara na Constituição, seja adotada a regra dos regimentos internos da Câmara e do Senado, que estabelece que a votação deve ser secreta em casos de cassação de mandato."Se não remetermos ou não promulgarmos um texto que não provoque nenhuma dúvida de interpretação, vamos nos sujeitar, primeiro de tudo, a questionamentos da opinião pública e, depois, àquilo que o Senado votou. A consciência do voto do Senado poderá estar sub judice de interpretações", afirmou ontem o senador José Agripino (DEM-RN).
Segundo os senadores Wellington Dias (PT-PI) e Paulo Paim (PT-SP), a regra geral é que o voto seja aberto e de que casos de voto secreto devem estar expressos. O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) sugeriu que o regimento interno do Senado seja modificado, o que evitaria qualquer dúvida quanto ao assunto.
PEC do voto aberto é promulgada
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Constituição supera regimento, diz Renan sobre voto aberto -
Renan defende manutenção de voto secreto em alguns casos no Legislativo
Ele lembrou que uma reforma nas regras internas do Senado está sendo discutida na CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania).
Aprovação da PEC no Senado
Em uma sessão tumultada, o plenário do Senado aprovou com mudanças em segundo turno na terça-feira a PEC que acaba com o voto secreto no Legislativo.O texto-base da PEC, de autoria do ex-deputado Luiz Antônio Fleury (PTB-SP), que a propôs em 2001, foi aprovado por 58 votos a favor, quatro votos contra e nenhuma abstenção. A matéria estabelece que serão abertas as votações de cassações de mandatos parlamentares e de vetos presidenciais.
A proposta de por fim ao voto secreto ganhou força no Congresso após a sessão em que a Câmara, no final do mês de agosto deste ano, manteve o mandato do deputado Natan Donadon (sem partido-RO), condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a 13 anos de prisão por peculato e formação de quadrilha. Na opinião de especialistas, o voto aberto poderia ter evitado esse resultado.
Cassação de mensaleiros
Com a promulgação da PEC, quatro deputados condenados no julgamento do mensalão devem ter os seus processos de cassação examinados em sessões abertas.Foram condenados os deputados José Genoino (PT-SP), que ainda pode ser beneficiado por um pedido de aposentadoria, Valdemar Costa Neto (PR-SP), Pedro Henry (PP-MT) e João Paulo Cunha (PT-SP).
Na quarta-feira (27), o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), afirmou que, com a promulgação da PEC, o caminho para a abertura de processos de cassação fica aberto e que a Mesa da Câmara vai discutir "caso a caso" o que ocorrerá com os quatro deputados.
(Com informações da Agência Senado)
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