A PARTILHA DO PETRÓLEO - LIBRA VAI A LEILÃO SEM PLANO CONTRA VAZAMENTO
RISCO EM ALTO-MAR |
Autor(es): Danilo Fariello |
O Globo - 21/10/2013 |
Leilão de Libra, no pré-sal, começa hoje sem plano de contingência contra vazamento
BRASÍLiA- O leilão da área de Libra, o primeiro do pré-sal sob o regime de partilha e maior área já licitada no país, com reservas estimadas entre oito e 12 bilhões de barris de petróleo, acontece hoje sem que o governo tenha um plano de contingência aprovado para minimizar o impacto de um possível desastre ecológico em caso de vazamento de petróleo no mar. Há mais de um ano permanece em alguma gaveta do Palácio do Planalto um relatório elaborado com a participação de 16 ministérios carregando os princípios básicos a serem adotados nesses casos, sem que a análise tenha sido concluída e o plano aprovado.
Em
abril de 2012, o Ministério de Minas e Energia (MME) apresentou na
Câmara dos Deputados um desenho completo de como funcionaria o Plano
Nacional de Contingência (PNC), previsto para ser implementado pelo
govemo desde a sanção da Lei 9.966, em 2000. Isso significa que há 13
anos o govemo descumpre a lei federal. A audiência pública ocorreu após
os acidentes no campo do Frade, na Bacia de Campos, explorado pela
Chevron, em novembro de 2011 e março de 2012, e o megavaza-mento no
campo de Macondo, no Golfo do México, explorado pela BP, em 2010.
Coordenador
da proposta, o MME respondeu ao GLOBO que "os estudos sobre o PNC foram
concluídos pelos ministérios responsáveis e estão sob a avaliação da
Presidência da República" A Casa Civil informou, porém, que o tema ainda
está "em discussão" no govemo, mas não soube informar quando ocorreu a
última reunião. O último debate no govemo sobre o plano de contingência
de que se tem notícia ocorreu em 10 de maio de 2012.
O
PNC deve definir os papéis de entidades federais como Marinha, Ibama e
Agência Nacional do Petróleo (ANP) — que seriam os coordenadores
operacionais do PNC — em caso de acidentes de grandes proporções. Depois
do vazamento de Frade, o plano foi ampliado para incorporar
procedimentos até então não previstos em casos de vazamentos menores.
Encerrada
a discussão técnica, entre fevereiro e abril do ano passado, o MME e o
Ministério do Planejamento trataram da fonte de recursos para a
cobertura de despesas de implementação do plano e decidiram que as
despesas do PNC seriam incluídas no Orçamento Geral da União, com
dotações específicas e limites anuais de pagamento.
Os
custos referem-se a despesas temporárias, uma vez que "as ações de
resposta a qualquer incidente de poluição por óleo são sempre repassadas
ao agente poluidor" segundo a apresentação da secretaria de Petróleo e
Gás do MME na Câmara, de abril do ano passado.
Apesar
de o PNC não existir, o governo alega que alguns de seus princípios já
foram postos em prática. Por exemplo, os sistemas de interlocução entre
Marinha, ANP, Ibama, na forma proposta do PNC, já foram adotados no
segundo vazamento de Frade, em março de 2012.
De
acordo com o professor Segen Estefen, especialista em engenharia
oceânica da Coppe/ UFRJ, falta ao Brasil uma melhor estruturação dos
sistemas de proteção ao oceano já existentes, o que inclui o
estabelecimento do PNC:
— O Brasil tem a oportunidade de liderar questões ambientais em águas profundas.
Para
ele, além da tecnologia de exploração do pré-sal, o Brasil poderia
também consolidar e até exportar essas tecnologias de mitigação de
riscos que estão espalhadas por empresas, universidades e institutos de
pesquisa no país, com equipamentos — de satélites a laboratórios:
—
O tempo de exploração de Libra, que vai durar quatro ou cinco anos, é
estratégico para estruturarmos o sistema de proteção aos oceanos e
exportar essa tecnologia.
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