Devastação da Amazônia deve crescer 20% este ano
Desmatamento em alta |
Autor(es): Danilo Fariello |
O Globo - 12/11/2013 |
Governo prevê que devastação na Amazônia Legal, em um ano, tenha aumentado até 20% BRASÍLIA - Após quatro anos em queda, o desmatamento na Amazônia Legal deverá voltar a crescer este ano, principalmente puxado pela derrubada da floresta em grandes áreas do Pará e do sul do Amazonas, onde havia uma trajetória de redução da devastação há anos. A área ambiental do governo ainda não possui os cálculos fechados sobre o período de agosto de 2012 a julho deste ano — quando se encerra o ano-base para o cálculo —, mas prevê um aumento de até 20% da área devastada em relação ao período anterior, quando se chegou a uma mínima histórica desde 1988, com supressão de apenas 4,57 mil quilômetros quadrados da floresta.
O
número oficial deverá ser anunciado até o fim deste mês. Apesar da
provável alta, o volume de área devastada não deverá superar a marca de
2011, quando foram desmatados 6,41 mil quilômetros quadrados, e ficará
certamente abaixo da média dos anos anteriores a 2008. É essa redução
estrutural na área desmatada por ano que deverá ser divulgada pelo
governo Dilma Rousseff durante a campanha eleitoral do próximo ano, em
que o tema ambiental deverá voltar à pauta com a participação de Marina
Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, ao lado do governador Eduardo
Campos (PSB-PE).
A
previsão de aumento do desmatamento tem base, principalmente, na
apuração feita por satélite (do sistema Deter) que indicou um aumento de
35% nas áreas com problemas, de 2012 para 2013. O número oficial a ser
divulgado (com base no sistema Prodes, do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais), porém, é mais abrangente.
ONG FALA EM AVANÇO DE 92% NA DEVASTAÇÃO
A
ONG Imazon, que também analisa dados de satélites, denuncia que, de um
ano-base para o outro, a área devastada avançou 92% — muito acima das
estimativas oficiais, portanto. Mas esse percentual de aumento é
descartado pelo governo federal. Como forma de mostrar que a ação
contra o desmatamento permanece na ordem do dia, o governo federal
deverá mostrar em breve os esforços que têm sido feitos por Ibama,
Polícia Federal e Força Nacional de Segurança Pública para identificar
as motivações para a ampliação da devastação em grandes áreas.
No
ano passado, os autos de infração do Ibama somaram R$ 1,6 bilhão em
ações contra desmatamento, valor que subiu ainda mais este ano. O
governo também tem usado a inteligência policial e da fiscalização para
conter máfias que acabam reduzindo o impacto das ações de contenção do
avanço do desmatamento. Neste ano, por exemplo, a superintendência
regional do Ibama em Barra do Garça, em Mato Grosso, teve afastados
todos os seus servidores após denúncias de envolvimento em
irregularidades que colaboravam para o avanço do desmatamento.
GOVERNO DIZ QUE HÁ SERVIDORES ENVOLVIDOS
Segundo
fontes do próprio governo federal, ou- tros servidores do governo
estariam vendendo o “desembargo” de áreas que já haviam sido em-
bargadas pelo órgão ambiental federal, e por is- 50 estão sob
investigação. — Esperamos que possa haver algum tipo de oscilação
natural. O que meu pessoal no campo me diz é que voltaram a ocorrer no
Pará grandes desmatamentos, em áreas acima de mil hectares, onde não
havia mais — admitiu a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
Segundo
ela, por isso também as ações do governo federal têm sido mais
ostensivas, principalmente nos eixos que envolvem o trajeto da rodovia
BR-163 (Cuiabá-Santarém) e também no eixo da rodovia Transgarimpeira, no
Pará. Apesar da indicação ruim dos números desse último ano, as
primeiras impressões do próprio Deter já são positivas para o novo
período de análise que se iniciou em agosto, segundo Francisco Oliveira,
diretor de Políticas para Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio
Ambiente.
No
trimestre, o volume de área sob risco caiu 24%, segundo ele. — Com
esse indicativo de redução, já estamos voltando para o patamar de antes,
em sinal positivo para se chegar à meta de 2020, que pode até ser
antecipada — disse Oliveira. A meta do governo exibida na apresentação
do balanço do ano passado era de uma redução média de 4% ao ano até
2020, quando se pretende reduzir a área de desmatamento a menos de 4 mil
quilômetros quadrados por ano.
Segundo
Beto Veríssimo, pesquisador do Imazon, aumentou em 2013 o chamado
desmatamento especulativo, que ocorre nessas áreas de fronteiras novas
no oeste do Pará e no sudeste do Amazonas, onde o governo está
melhorando a infraestrutura de estradas.
DEVASTAÇÃO MAIOR EM ÁREAS DE CONSERVAÇÃO
Além
disso, segundo Veríssimo, também há maior devastação em unidades de
conservação ambiental, como Floresta Nacional do Jamanxim (PA). Ele
aponta ainda um outro possível motivo para o aumento da devastação: as
mudanças no Código Florestal aprovadas pelo Congresso.
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O Código Florestal sinalizou para alguns agentes que a lei se acomoda à
realidade, que depois de um tempo eles podem ser anistiados, embora o
texto em si não aponte, nem o governo tenha indicado isso. Em 2004, o
governo lançou plano de combate ao desmatamento; depois, um segundo
plano entre fim de 2007 e início de 2008, quando houve um repique do
desmatamento, que assustou o governo, lembra Veríssimo.
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De lá para cá, o escopo do combate tem sido mantido, mas, se o
desmatamento, defato subir, está claro que o governo vai ter que fechar
todas as torneiras para evitar especulação com áreas de fronteira
agrícola.
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