terça-feira, 5 de novembro de 2013

BATALHA CONTRA VÂNDALOS - SP USA LEI DE SEGURANÇA E RIO PROMETE ENDURECER

BATALHA CONTRA VÂNDALOS - SP USA LEI DE SEGURANÇA E RIO PROMETE ENDURECER

SÃO PAULO - RIGOR EXTREMO
Autor(es): Lino Rodrigues, Leonardo Guandeline e Germano Oliveira
O Globo - 09/10/2013
 
Grupo formado por promotores e policiais vai acelerar ações contra detidos em manifestações
São Paulo- O govemo paulista endureceu contra o vandalismo depois que um protesto, na noite de segunda-feira, no Centro da capital, terminou com a destruição de agências bancárias, postos de gasolina, lojas e um carro da Polícia Civil. Presos durante o quebra-quebra, o pintor Humberto Caporalli, de 24 anos, e a estudante Luana Bernardo Lopes, de 19, foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional (LSN), promulgada no regime militar. Com eles, a polícia diz ter encontrado uma mochila com explosivos e bombas de gás lacrimogêneo. Ainda na bolsa, havia : uma câmera com fotos feitas durante o protesto. Segundo a acusação, os dois aparecem nas imagens atacando um posto de gasolina e um carro da polícia. As fotos serão usadas como provas.
Os jovens vão responder pelo artigo 15 da lei, de abril de 1983 (govemo Figueiredo), que prevê pena de três a dez anos de prisão e trata da prática de "sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, meios e vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragens, depósitos e outras instalações congêneres" Luana é estudante de artes na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, e Humberto, além de pintor, diz que é artista.
I Em outra frente, o governador Geraldo Alck-min autorizou a PM a usar novamente balas de borracha para reprimir vandalismo. Em junho passado, elas haviam sido proibidas, após denúncias de abusos. Para tentar acelerar o trâmite jurídico contra os detidos, será formado um gru-
po com promotores, policiais civis e militares.
— A polícia está agindo e vai agir com rigor I na defesa da lei, na proteção das pessoas. É preciso separar manifestação legítima, em | que a polícia protege os manifestantes para i que eles possam exercer sua liberdade de expressão, e vandalismo, depredação. Isso é inaceitável — afirmou o governador.
Além de enquadrados na LSN, Humberto e Luana vão responder por dano qualificado, incitação ao crime, formação de quadrilha, porte ilegal de explosivos e crime contra o meio ambiente (por causa de pichações em prédios e equipamentos públicos). Segundo a polícia, o pintor se identifica no Facebook como Humberto Badema.
Durante o protesto, outras quatro pessoas, incluindo um menor, foram detidas. Os três maiores serão indiciados por roubo e formação de quadrilha.
O delegado Antônio Luis Tuckumantel, titular do 3y Distrito Policial, afirmou que a prisão de Humberto e Luana vai servir de exemplo a outros que quiserem agir da mesma forma. Segundo ele, gravações na câmera apreendida com o casal mostram que os dois fazem parte de um grupo que usa o mesmo apelido de Humberto — Badema — para trocar mensagens e combinar ataques:
— Estamos identificando todos os que pertencem a esse grupo criminoso.
ESPECIALISTAS: CÓDIGO PENAL É MAIS ADEQUADO
Daniel Biral, de um grupo de advogados ativistas que acompanham os manifestantes presos, pedirá a liberdade provisória deles:
— É um exagero utilizar uma lei da época da ditadura para criminalizar jovens que estavam numa manifestação legítima. O fato de criminalizar manifestantes é uma demonstração clara de que o Estado não respeita seus cidadãos.
Segundo ele, a bomba encontrada na mochila do casal já havia sido detonada e jogada pelos policiais contra os manifestantes. Os jovens admitem que picharam muros, mas negam ter participado do ataque a um carro da polícia e a um posto de gasolina.
Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, o uso do Código Penal é mais adequado que o da LSN. Segundo o advogado criminalista Euro Bento Maciel Filho, da PUC-SP, enquanto a Lei de Segurança Nacional pode punir os baderneiros com penas de três a dez anos de prisão, o Código Penal prevê de seis meses a três anos.
— Com até três anos, o sujeito condenado não vai para a cadeia e responde em liberdade. Já com a Lei de Segurança Nacional, o cidadão fica preso em regime fechado — disse.
O jurista Dalmo Dallari entende que o Código Penal é mais adequado para enfrentar os manifestantes responsáveis por atos de vandalismo:
— A Lei de Segurança Nacional só podèria ser usada em três situações: quando expõe a perigo a integridade territorial e a soberania nacional, o regime democrático ou quando atinge os chefes dos poderes da União. Em nenhum desses casos, os black blocs se enquadram. 

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