PACTO COM IRÃ DÁ A OBAMA MAIOR TRIUNFO DIPLOMÁTICO
IRÃ ACEITA LIMITAR PROGRAMA NUCLEAR E OBAMA CELEBRA VITÓRIA DIPLOMÁTICA |
Autor(es): Cláudia Trevisan |
O Estado de S. Paulo - 25/11/2013 |
Aliados dos EUA na região criticam pacto assinado em Genebra; acordo prevê congelamento do processamento de urânio a mais de 5%
WASHINGTON
- O presidente americano, Barack Obama, conseguiu neste domingo, 24,
sua mais expressiva vitória diplomática no cargo ao alcançar um acordo
para frear o avanço do programa nuclear iraniano. O pacto foi assinado
em Genebra pelo secretário de Estado americano, John Kerry, e pelos
representantes de Irã, China, Rússia, Grã-Bretanha, Alemanha e França.
O
Irã aceitou limitar durante seis meses o seu programa nuclear em troca
da suspensão parcial de sanções que estrangularam sua economia. Nesse
prazo, os negociadores tentarão chegar a pacto definitivo, que garanta o
caráter pacífico de suas atividades de enriquecimento de urânio e
permita o fim de todas as sanções aplicadas à república islâmica.
Teerã
se comprometeu a não enriquecer urânio a mais de 5% e a neutralizar
todo seu estoque de urânio enriquecido a quase 20%, patamar acima do
qual o combustível pode ser usado na produção de armas. O país também
aceitou se submeter à supervisão da Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA).
Principal elemento que levou a França a resistiu a um acordo no início do mês, o reator de Arak terá suas atividades suspensas - o local poderia produzir plutônio.
Em troca, os EUA aceitaram suspender sanções no valor de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões ao longo dos próximos seis meses.
O governo americano apresentou o acordo fechado em Genebra como o mais importante avanço em torno do programa iraniano desde 2003, quando houve a primeira tentativa de limitar sua expansão. As conversas foram concluídas pouco depois das 3h do domingo em Genebra (meia-noite, no horário de Brasília).
Em
Washington, Obama fez um pronunciamento no qual atribuiu o sucesso das
negociações ao impacto das sanções econômicas e à “abertura para
diplomacia” trazida pela eleição de Hassan Rohani como novo presidente
do Irã, em junho.
A
obtenção de um saída pacífica para a questão nuclear iraniana é uma
prioridade de Obama desde que ele chegou ao poder, em 2009.
O
acordo representa uma rara vitória de sua política externa, abalada
pelas revelações de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA, na
sigla em inglês), a errática atuação em relação à Síria - e a
insegurança que ela gerou entre aliados americanos no Oriente Médio - e
divergências com o Afeganistão em torno de um pacto militar para
permanência de tropas americanas no país depois de 2014.
“A
diplomacia abriu um novo caminho na direção de um mundo que é mais
seguro - um futuro no qual nós podemos verificar que o programa nuclear
iraniano é pacífico e não pode construir uma arma nuclear”, declarou
Obama.
A
determinação dos EUA de negociar com o Irã afetou o relacionamento do
país com seu principal aliado na região, Israel, que se uniu a nações
árabes na condenação do acordo. Para eles, o pacto dará fôlego à
república islâmica para continuar a avançar na construção da bomba
atômica - Teerã nega que esse seja o objetivo e sustenta que o programa
tem fins pacíficos.
Na
tarde de domingo, Obama telefonou para Netanyahu e reafirmou o
comprometimento americano com Israel. O presidente reconheceu também em
seu discurso a existência de “boas razões” para o ceticismo do país em
relação ao Irã. “Como presidente e comandante em chefe, farei o que for
necessário para impedir o Irã de obter armas nucleares”, afirmou. “Mas
tenho uma profunda responsabilidade de tentar resolver nossas diferenças
pacificamente, em vez de me precipitar na direção de um conflito”,
justificou.
O
pacto é apenas o primeiro passo na direção do desfecho desejado pelos
EUA: congelar as atividades das usinas do país e dar tempo aos
negociadores para buscarem uma solução de longo prazo.
O
documento afirma que o eventual novo pacto deverá entrar em vigor no
prazo máximo de um ano. O acordo poderá ser prorrogado depois de seis
meses se houver concordância dos sete países envolvidos em sua
negociação.
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