Enade: 30% dos cursos reprovados
Reprovação de 30% |
O Globo - 08/10/2013 |
instituições privadas de ensino superior respondem por 92% das piores notas
-Brasília-
Quase um em cada três cursos de graduação que participaram do Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) no ano passado recebeu
conceito 1 ou 2, o que eqüivale à reprovação, na escala que vai até 5.
Balanço divul-j gado ontem pelo Ministério da Educação (MEC) mostra que
30% dos cursos em todo o país obtiveram conceitos 1 ou 2. Esse
percentual chegou a 36% nas faculdades de Administração e 33%, nas de
Direito. Ao todo, fizeram a prova 536 mil for-mandos em 17 áreas do
conhecimento.
O
Enade avaliou estudantes de 6.306 cursos, atribuindo o conceito
insuficiente a 1.887 deles, dos quais 149 no Rio de Janeiro. O resultado
do exame por si só, porém, não basta para que o MEC tome providências
em relação a essas faculdades. Elas só sofrerão sanções, como suspensão
de vestibulares, se forem reprovadas no chamado Conceito Preliminar de
Cursos (CPC), no qual a nota do Enade tem peso de 55%.
O
CPC, que considera também a infraestrutura das faculdades e o corpo
docente, será divulgado em novembro. Nesse caso, cursos que tiraram
conceito 1 ou 2 serão considerados reprovados pelo MEC. No Enade, porém,
o ministério classifica as notas 1 e 2 como insuficientes.
As
instituições particulares de ensino, que respondem por 73% das
matrículas no país, foram responsáveis por 91,7% das piores notas no
Ena-de. De 1.887 conceitos 1 e 2, nada menos do que 1.731 foram obtidos
por cursos privados. As públicas ficaram com 156 conceitos
insuficientes.
— No ensino superior, em geral, o ensino público continua bem melhor do que o privado — disse o ministro Aloizio Mercadante.
PARTICULARES ATACAM FÓRMULA DE AVALIAÇÃO
Já
o integrante do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior
Particular, Paulo Cardim, atacou o governo, criticando o uso do Enade
como instrumento de avaliação, já que as notas individuais dos
estudantes não são divulgadas. Para Cardim, os alunos não têm motivação
na hora de fazer a prova. Ele criticou o sistema de avaliação do ensino
superior, afirmando que o CPC não tem amparo legal e serve para o
ministério executar uma tarefa para a qual não tem fôlego, que seria
enviar comissões de avaliação in loco para avaliar todas as instituições
de ensino do país.
— Governo nenhum, do PT nem do PSDB, prioriza a Educação. É na base da improvisação.
0 Enade e o Provão têm 18 anos e há 18 anos o setor de ensino superior particular pede que a lei seja cumprida — disse Cardim.
O
Enade foi criado em 2004 para substituir o antigo Provão. O exame
sofreu modificações e atualmente é feito pelos estudantes que estão
concluindo o curso de graduação. A nota de cada curso corresponde à
média dos alunos.
No
estado do Rio, os 149 cursos que tiraram as notas mais baixas
correspondem a 36% de conceitos nas instituições fluminenses submetidas
ao teste. O Rio foi o segundo estado com maior número absoluto de
"reprovações" no Enade, atrás de São Paulo, onde 542 cursos receberam
notas 1 ou 2. O Paraná ficou em terceiro, com 142 cursos nessa situação,
seguido por Minas Gerais (140) e Bahia (99). Considerando-se apenas as
piores notas (conceito 1), São Paulo teve 46, o maior número do país, e o
Rio, 11, o segundo pior resultado, igual a Mato Grosso do Sul.
No
outro extremo, 24% dos cursos avaliados no pais tiraram conceitos 4 e
5. A maior parte ficou com 3 (44%), que é considerado suficiente pelo
MEC. Para Mercadante, "houve melhora significativa" No caso da nota
máxima 5, apenas 5% das faculdades atingiram esse patamar, o equivalente
a 339 cursos. A exemplo do que ocorreu no total de faculdades com
desempenho insuficiente, o estado de São Paulo também lidera o ranking
de maior número absoluto de cursos com nota 5: 84, seguido por Minas
(45), Rio Grande do Sul (44), Paraná (27) e Rio de Janeiro (15), que
aparece na quinta posição empatado com Santa Catarina.
N0 NORDESTE, SÓ PUBLICIDADE LIDERA RANKING
Em
2012, o Enade avaliou estudantes de 17 áreas do conhecimento. Uma
análise dos dez cursos com notas mais altas em cada área — portanto, 170
faculdades — revela que somente oito são do Rio. E nenhuma delas lidera
o respectivo ranking nacional.
Das
17 áreas do conhecimento submetidas ao Enade no ano passado, só seis
tinham cursos do Rio entre os dez melhores do país: administra -ção,
economia, relações internacionais, tecnologia em gestão de recursos
humanos, tecnologia em processos gerenciais e turismo. No caso de
relações internacionais, porém, os dois cursos do Rio classificados
entre os dez melhores tiraram nota 4 e não 5 no Enade, uma vez que nem
todos os dez melhores do país nessa área alcançaram o conceito máximo.
Entre
as 17 áreas avaliadas, publicidade e propaganda foi a única em que um
curso do Nordeste, da Universidade Estadual do Piauí, lidera
o
ranking nacional. Nenhum curso do Rio aparece na primeira posição em
nenhuma das áreas. O Rio Grande do Sul lidera com cinco primeiros
lugares, seguido por São Paulo (4), Minas (3), Paraná (3) e Santa
Catarina (1).
Majoritárias
entre os cursos com piores notas, as faculdades particulares são
maioria também entre as que tiraram nota máxima. Dos 339 cursos com
conceito 5,191 (56%) são privadas e 148 (44%), públicas. As 17 áreas
avaliadas pelo Enade em 2012 foram: Administração, Ciências Contábeis,
Economia, Design, Direito, Jornalismo, Psicologia, Publicidade e
Propaganda, Relações Internacionais, Secretariado-Executivo, além de
Tecnologia em gestão de recursos humanos, Tecnologia em gestão
financeira, entre outros.
ANÁLISE DOS CURSOS A CADA TRÊS ANOS
As
diferentes áreas do conhecimento são avaliadas a cada três anos. Para
um curso participar do Enade, é preciso que já tenha uma turma prestes a
se formar. Dos 6.306 cursos inscritos, efetivamente 6.195 receberam
notas. Os demais 111 ficaram na categoria sem conceito.
Pela
metodologia adotada pelo MEC, sempre haverá cursos com notas de 1 a 5
no Enade, já que as notas são atribuídas mediante comparação do
desempenho dos alunos que acertam mais e menos questões no teste. De
acordo com o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (ínep), Luiz Cláudio Costa, isso ocorreria mesmo que todas
as faculdades do país tivessem o nível de aprendizagem da Universidade
Harvard, símbolo de excelência nos Estados Unidos.
— Mas, no Brasil, na fase em que estamos, (os conceitos) 1 e 2 são deficientes — explicou Luiz Cláudio
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