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Foto: Agência Brasil |
Em um evento que deveria marcar a comunhão de interesses entre Brasil e Alemanha, os chefes de Estado e de governo dos dois países entraram em rota de colisão em público, ontem, em Hannover.
Em entrevista concedida ao meio-dia de ontem, a presidente Dilma Rousseff voltou a criticar o "tsunami monetário" na Europa, advertindo que o país poderia adotar medidas para proteger o real das "desvalorizações artificiais" de outras moedas.
A resposta veio oito horas depois. Em discurso de improviso, a chanceler Angela Merkel advertiu que os países desenvolvidos observam "as medidas protecionistas unilaterais", em referência indireta aos emergentes.
A discussão foi o desdobramento da insatisfação do governo brasileiro com a crescente liquidez estimulada pelos BCs de países ricos. Citando números do Banco de Compensações Internacionais (BIS), Dilma disse que a injeção de US$ 8,8 trilhões no sistema financeiro nos últimos três anos causa "desvalorização artificial" das moedas e "equivale a barreiras tarifárias".
O tom das reclamações do Brasil cresceu quando o Banco Central Europeu (BCE) ofereceu mais € 530 bilhões aos seus bancos. De dezembro para cá, o valor chega a € 1 trilhão.
Questionada pelo Estado se o governo brasileiro estava pedindo a Merkel uma intervenção na autonomia do BCE, Dilma respondeu: "Não, sabe por quê? Porque estão interferindo na nossa". "O que o Brasil quer com isso é mostrar que está em andamento uma forma concorrencial de proteção de mercado, que é o câmbio. O câmbio virou uma forma artificial de proteção."
Dilma antecipou que o governo pode tomar medidas para evitar a valorização artificial do real. "Tomaremos todas as medidas para nos proteger. Vamos ver quais medidas, como essa que tomamos recentemente sobre o IOF" Questionada se pensava em quarentena de capital externo, reagiu: "Não estou defendendo quarentena".
Especulações. Nos últimos dias, aumentaram as especulações em torno da decisão de amanhã do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. Analistas interpretaram as medidas cambiais adotadas na semana passada e as declarações de Dilma sobre o "tsunami" como uma sinalização de que o BC poderá ser mais agressivo no corte de juros.
Nesse cenário, um corte mais forte da Selic seria uma forma de se antecipar ao "tsunami" de dinheiro que deverá chegar ao Brasil como resultado da ação do BCE nos bancos europeus.
Nos bastidores do governo, aumenta o desconforto com o câmbio valorizado. A possibilidade de uso do Fundo Soberano do Brasil (FSB) vem ganhando força. O Fundo pode atuar comprando dólares em ações de surpresa. O mercado de derivativos cambiais também permanece na mira do governo. |
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