segunda-feira, 9 de abril de 2012

Exigência síria inviabiliza plano de paz

Exigência síria inviabiliza plano de paz

Autor(es): JAMIL CHADE
O Estado de S. Paulo - 09/04/2012
 

Às vésperas da data estabelecida para o início do cessar-fogo na Síria, Bashar Assad praticamente enterrou o plano de paz feito pelo enviado da ONU, Kofi Annan. Ontem, Damasco fez exigências de última hora e disse que só retira seus tanques de zonas urbanas se receber o compromisso por escrito da oposição de que também respeitará o pacto - os rebeldes rejeitaram e já dão como certo o fracasso do plano.
Annan tinha dado até amanhã para que o governo sírio e rebeldes começassem uma retirada de armas pesadas de centros urbanos. No dia 12, às 6 horas de Damasco, um cessar-fogo completo teria de entrar em vigor para permitir que o diálogo político fosse iniciado. Uma missão de 250 soldados de uma força internacional seria enviada para garantir o cessar-fogo enquanto uma solução política fosse negociada.
Segundo Annan, Assad havia concordado com o plano por meio de uma carta. Ontem, porém, Damasco alegou que sua posição foi mal interpretada e sugeriu que, pelas condições atuais, não respeitará o cessar-fogo. O ditador sírio apresentou novas exigências, incluindo um compromisso de que governos estrangeiros não financiarão os rebeldes.
"Annan interpretou que a Síria havia confirmado que retiraria suas tropas das cidades no dia10 de abril. Mas esclarecemos que tal interpretação é errônea, sobretudo porque Annan não deu garantia escrita sobre a aceitação dos grupos terroristas armados de deter a violência em todas suas formas. Dizer que a Síria vai retirar suas forças das cidades em 10 de abril é inexato", indicou a chancelaria síria em comunicado.
Fracasso. A declaração foi recebida como um alerta de que o regime pode simplesmente não cumprir o acordo fechado com Annan no final de março. "A Síria não vai repetir o que ocorreu durante a missão da Liga Árabe, quando se comprometeu a retirar as tropas das cidades e, então, os grupos terroristas armados se aproveitaram para armar seus membros, fazer todas as formas de terrorismo, reorganizar-se e controlar bairros inteiros, ampliando assassinatos e sequestros", afirmou o porta-voz da chancelaria, Jihad Maqdisi.
No fim do ano passado, a Liga Árabe havia deslocado uma missão de observadores internacionais para a Síria na esperança de que um outro acordo fosse respeitado, o que acabou não ocorrendo.
Para o Conselho Nacional Sírio, que reúne boa parte dos opositores e recentemente foi reconhecido pelos EUA como legítimo representante dos sírios, as exigências de última hora são uma tática de Assad para rejeitar o plano de paz. Em declarações às agências internacionais na Turquia, o comandante da oposição armada, Riad Asaad, negou-se a enviar uma carta e alertou que o plano de Annan estava praticamente morto. "O regime não irá implementar o plano. Esse plano fracassará", disse.
Outras exigências. Asaad garantiu que seus homens respeitarão o acordo feito por Annan, mas que irão responder ao primeiro tiro dado pelas forças do regime. "O Exército não reconhece o regime e, por isso, não daremos garantias", afirmou o líder rebelde. "Ninguém nos pediu nada por escrito durante as negociações. Ninguém discutiu conosco a entrega de armas. Nunca iremos entregar nossas armas", insistiu. "Nós demos nossa palavra de que, se o regime se comprometer com o plano, nós também o faremos. Nós somos honestos."
As exigências de Damasco não se limitam ao compromisso por escrito por parte dos rebeldes. Assad quer que os governos de Catar, Turquia e Arábia Saudita declarem oficialmente que suspenderão o financiamento que estariam dando aos rebeldes.
Os três países anunciaram recentemente a criação de um fundo para alimentar o conflito, enquanto o governo turco já sugeriu o estabelecimento de uma área de proteção para os rebeldes sírios.
Ajuda russa. Uma última esperança pode estar nas mãos da Rússia, um dos poucos aliados de Damasco. Hoje, o chanceler sírio, Walid Moallen, estará em Moscou. Ontem, Annan fez em Genebra um apelo para que as potências mundiais que tenham influência sobre as partes usem o momento para convencê-las a aderir ao acordo de cessar-fogo. O Kremlin tem declarado seu apoio a Annan. No entanto, Moscou não deu ontem garantias de que usaria o encontro de hoje para fazer o regime de Assad abandonar suas mais recentes exigências.

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