Pyongyang garante que satélite tem fins pacíficos
Autor(es): CLÁUDIA TREVISAN |
O Estado de S. Paulo - 09/04/2012 |
O recluso regime da Coreia do Norte iniciou uma ofensiva de relações públicas para tentar convencer o mundo de que o lançamento de satélite previsto para esta semana não é um teste de míssil balístico disfarçado, como dizem os americanos e seus aliados na região. O Estado foi o único brasileiro entre os cerca de 50 veículos de comunicação estrangeiros que puderam visitar ontem a estação Tongchang-ri, 200 quilômetros a noroeste da capital, Pyongyang. Foi a primeira vez que jornalistas de outros países puderam ver de perto instalações do tipo na Coreia do Norte. Apesar da oposição internacional, o lançamento ocorrerá entre os dias 12 e 16, como parte das comemorações do centenário de nascimento de Kim Il-sung, venerado como pai do povo norte-coreano. "Não estamos fazendo um ato de provocação", afirmou o chefe do centro, Jang Myong-jin, que respondeu às perguntas dos repórteres e foi categórico ao dizer que o foguete não tem fins militares. A visita convenceu Christian Lardier, francês editor da revista Air & Cosmos, que há 38 anos escreve sobre questões espaciais e já acompanhou lançamentos de satélites na Rússia, China, EUA e Guiana Francesa. "Não há nada escondido. Não há mistério. Se eles estão fazendo um míssil, não é aqui", disse. Lardier, porém, ressaltou que há sinergia entre o uso pacífico e militar da tecnologia de foguetes. Isso significa que o lançamento poderá deixar os norte-coreanos mais próximos do desenvolvimento de mísseis de longo alcance com capacidade para transportar armas nucleares. Os jornalistas visitaram o centro de comando da estação, o satélite e a torre de lançamento. EUA, Japão e Coreia do Sul afirmam que o disparo viola resolução do Conselho de Segurança da ONU, que proíbe a Coreia do Norte de realizar lançamentos que usem tecnologia de mísseis balísticos - os dois primeiros estágios do Unha-3 têm origem no míssil Taepodong-2. Jang disse que a resolução do Conselho de Segurança não pode se sobrepor ao Tratado Espacial, que dá a todos os países o direito de explorar o espaço de maneira pacífica. Segundo ele, o satélite será usado para monitorar florestas, colheitas e catástrofes naturais. A decisão da Coreia do Norte de levar adiante o lançamento do satélite levou os EUA a cancelarem a doação de 400 mil toneladas de alimentos em troca da promessa de Pyongyang de suspender o programa nuclear, incluindo os testes de mísseis. Os norte-coreanos sustentam que o lançamento do satélite foi planejado há anos e não estava entre os compromissos assumidos na negociação. Além do possível impacto militar, o fato é visto pelo governo como uma conquista tecnológica, que deverá inflar o orgulho nacional no centenário de Kim Il-sung. Japão e Coreia do Sul ameaçam derrubar o satélite e destruir eventuais fragmentos, caso caiam sobre seus territórios. Os ministros das Relações Exteriores dos dois países se reuniram ontem com o chanceler chinês, Yang Jiechi, para chegar a um consenso, mas, ao fim do encontro, o japonês Koichiro Gemba reconheceu que os três países não têm a mesma posição. Apesar de estar insatisfeito com a decisão de Pyongyang, o governo de Pequim adotou um tom mais ameno. "O lado chinês está perturbado com os desenvolvimentos e encoraja os envolvidos em todos os lados, nos altos e baixos escalões, a permanecerem calmos e razoáveis", declarou Yang Jiechi. |
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