Dilma critica 'políticas expansionistas' de países ricos
Atualizado em 14 de abril, 2012
Discursando ao lado dos
presidentes da Colômbia, Juan Manuel Santos, e dos Estados Unidos,
Barack Obama, durante um evento empresarial da Cúpula das Américas,
Dilma Rousseff voltou a criticar as estratégias dos países ricos para
enfrentar a crise econômica mundial.
Segundo a presidente brasileira, as "políticas
expansionistas" adotadas pela Europa e pelos Estados Unidos, com
impressão de moeda e sucessivos empréstimos para estimular o crédito,
prejudicam os países emergentes.A valorização das moedas, por sua vez, prejudica a indústria local, ao tornar os produtos do país mais caros no mercado internacional e o baratear as importações. "É obvio que temos de tomar medidas para nos defender", disse a presidente.
No entanto, ela afirmou que o governo brasileiro não está assumindo uma postura protecionista.
"Defender é diferente de proteger. A defesa significa que nós vamos ter de perceber que não podemos deixar que nossos setores manufatureiros sejam canibalizados. E achamos que seria muito virtuoso por parte dos países superavitários se eles pudessem usar, além de políticas monetárias, políticas de expansão do investimento."
'Embraer'
Momentos antes, Dilma alfinetou o presidente americano sobre um impasse envolvendo a compra de aviões brasileiros pelo governo americano.Durante o evento, Obama foi questionado pelo mediador, o jornalista americano Chris Matthews, se as ambições do Brasil não se contrapunham aos interesses dos Estados Unidos.
Ele respondeu que não, pois o desenvolvimento da economia brasileira criaria oportunidades para que empresas americanas vendessem seus produtos, como "iPads e Boeings".
Ao mencionar a marca americana de aviões, Obama foi interrompido por Dilma, que citou a companhia brasileira Embraer.
Obama, então, respondeu: "só queria ver como ela reagiria a essa", provocando risos na plateia.
Recentemente, a Embraer teve cancelada uma licitação que venceu para a venda de 20 aviões Super Tucano ao governo dos Estados Unidos, ao custo de US$ 355 milhões (R$ 651 milhões).
A Boeing, por sua vez, disputa uma concorrência com a francesa Dassault e a sueca Saab para a venda de caças para a Força Aérea brasileira. O valor do negócio é estimado em cerca de US$ 6 bilhões.
Durante seu discurso, no entanto, Dilma elogiou a economia americana.
"Temos que reconhecer a importância da economia dos Estados Unidos, que possui importantes características neste mundo multipolar que está surgindo: uma imensa flexibilidade, uma enorme liderança em ciência, tecnologia e inovação, e suas raízes democráticas", disse.
Em seguida, ela ressaltou que as alianças entre a América Latina e os Estados Unidos devem ocorrer em "pé de igualdade".
Intercâmbio
Em seu discurso, Obama também citou iniciativas entre Estados Unidos e Brasil para promover o intercâmbio de estudantes e elogiou a expertise brasileira em biocombustíveis."O Brasil tem o poder de exportar essa energia mas também de ensinar as melhores práticas (sobre biocombustíveis e energia hidrelétrica) para outros países da região, criando novos mercados para energias limpas."
"Quando se vê o crescimento extraordinário que ocorreu no Brasil(...), quando se pensa no enorme progresso que foi feito aqui na Colômbia (...), o que se vê é que muitos dos velhos argumentos da esquerda e da direita não se aplicam mais."
Barack Obama, presidente dos EUA
Numa provável referência a Cuba, disse que grande parte do êxito recente de Brasil e Colômbia se deve aos valores democráticos em voga nos dois países.
"Não é possível, creio eu, ter no longo prazo economias bem-sucedidas se você não seguir princípios básicos, como democracia e respeito à lei, observância dos direitos humanos, liberdade de expressão. E também creio que segurança pessoal – a capacidade das pessoas de sentir que, se trabalharem duro, terão êxito."
Apesar de apelos de países latino-americanos para que Cuba participasse da Cúpula das Américas pela primeira vez, o país caribenho segue fora do encontro, por influência dos Estados Unidos.
Os organizadores colombianos temiam que, caso o líder cubano, Raul Castro, comparecesse ao evento, Obama o boicotasse, esvaziando a importância da reunião.
No entanto, muitos países latino-americanos, inclusive a Colômbia, têm defendido nos últimos dias que esta seja a última Cúpula sem Cuba. O presidente do Equador, Rafael Corrêa, boicotou o evento devido à ausência do país caribenho.
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