Rio +20: ações contra terror e hackers
Rio+20: os inimigos agora são outros |
Autor(es): Antônio Werneck |
O Globo - 08/04/2012 |
Na era das UPPs, esquema de segurança da conferência terá como foco o combate a crimes cibernéticos e terrorismo Preocupação com a Favela da Rocinha existe, mas o Exército, que vai cuidar este ano da segurança da Rio+20, conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, já não encara o tráfico de drogas como inimigo número um, como fez há duas décadas, durante a Rio 92, quando a cidade vivia uma onda de violência. Com a pacificação das principais favelas cariocas, resultado da expansão das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o medo agora é de ações terroristas e crimes cibernéticos, como os recentes ataques de hackers a páginas do governo brasileiro e de bancos do país. O planejamento do Exército prevê segurança máxima pelo ar, no mar e em terra. Haverá bloqueios próximos aos locais de eventos, com proibição do uso do espaço aéreo; vigilância nos aeroportos internacionais e domésticos do Rio e de São Paulo; pente-fino nas estradas federais e estaduais e monitoramento de embarcações próximo à costa do Rio. Estruturas críticas como a usina nuclear de Angra dos Reis, a Reduc e complexos de abastecimento de água, luz e gás serão vigiadas. As lagoas de Jacarepaguá - nas imediações do Riocentro - serão tomadas pelas forças de segurança. Além disso, mergulhadores da Marinha já estão prontos para inspecionar até os cascos das embarcações na Baía de Guanabara. General da pacificação comandará segurança O controle de toda a segurança da Rio+20 será feito de um salão no Comando Militar do Leste (CML), no Centro. Haverá, inclusive, um centro de comando e controle móvel na área das conferências. À frente das decisões, estará o general Adriano Pereira Júnior, comandante Militar do Leste - oficial que participou do processo de pacificação dos complexos da Penha e do Alemão. A partir de 4 de junho, funcionará no CML o Centro de Coordenação de Operações de Segurança, com a presença de representantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e de todos os setores de segurança de estado e município. Apenas no dia 26 o esquema de segurança deverá ser desmobilizado. Em comparação a outros grandes eventos na cidade, a novidade será a instalação, paralela à sala principal, de um Centro de Monitoramento Cibernético, com agentes especializados em acompanhar movimentação suspeita na internet e capazes de rastrear pessoas intrometidas. O grupo também vai proteger o trânsito de informações trocadas pelos chefes de estado pela grande rede, além de assegurar o pleno funcionamento dos sistemas de comunicação, comando e controle dos eventos, que estarão em funcionamento durante a conferência. - A defesa cibernética é a grande novidade em comparação à segurança de outros grandes eventos na cidade. Um núcleo de defesa cibernética já foi ativado no país, mas vamos montar no CML uma coisa inédita: um centro capaz de permitir segurança aos usuários do espaço cibernético da Rio+20, preparado também para enfrentar ataques de "crackers" - diz o coronel Saulo Chaves dos Santos, chefe de Comunicação do CML. Os detalhes do esquema de segurança ainda estão sendo traçados, mas é certo que ele será mais discreto do que há 20 anos. No lugar de homens armados com fuzis automáticos, tanques e blindados sobre rodas ostensivamente em estradas, avenidas, túneis, morros e favelas, as Forças Armadas planejam um aparato mais "clean" (limpo), como explicou o coronel Saulo: - Os blindados serão usados, vamos empregar aeronaves e mais de dez mil homens e mulheres. Teremos atiradores de elite (snipers), forças especiais, grupo antiterror e helicópteros. Se a população vai ver, é outra coisa. A ideia é usar a máxima segurança sem atrapalhar a rotina e o dia a dia da cidade. Efetivo terá aumento de 33% em relação à Rio 92 Apenas o Exército deve mobilizar dez mil homens e mulheres. Outros dois mil virão da Marinha e cerca de 800 da Força Aérea, além de agentes da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e das polícias Civil e Militar do Rio. Contando com guardas municipais e soldados do Corpo de Bombeiros, o efetivo total poderá chegar em alguns dias a 20 mil homens. Um aumento de 33% em comparação ao aparato militar usado há 20 anos, durante a Rio 92. - Não temos históricos de ações terroristas no país, mas quando assumimos o compromisso de sediar um evento dessa magnitude, importamos preocupações. Cada delegação estrangeira tem uma particularidade, um grau de segurança que vai de baixo, passa por médio e chega a alto risco - diz o delegado Victor Cesar Santos, da Polícia Federal, escolhido para cuidar da segurança dos grandes eventos que a cidade sediará. A Rio+20 - que será realizada de 13 a 22 de junho - marca os 20 anos de realização da Rio 92. São esperados 120 chefes de estado ou de governo. O Riocentro sediará a reunião de cúpula. A segurança empregada no evento será estendida à Arena do HSBC, na Barra; à Quinta da Boa Vista; ao Píer Mauá; e ainda ao Aterro do Flamengo, onde são esperadas milhares de pessoas em discussões paralelas. A organização estima que cerca de 50 mil pessoas serão credenciadas. Os gastos com o aparato, segundo o Ministério da Defesa e o Comando Militar do Leste, devem chegar à casa do R$150 milhões. Para as ações de contraterrorismo, serão empregados 300 militares dos destacamentos antiterror do Exército e da Marinha. A Polícia Federal também já tem homens prontos para a missão. A sede do Comando de Operações Táticas (COT) deverá ser transferida de Brasília para o Rio. Homens treinados para defesa química e bacteriológica estarão em estações de descontaminação para atuarem em caso de um eventual acidente ou "atuação proposital por algum agente estranho". Para escapar do trânsito do Rio, chefes de estado terão a opção de se locomover pelo ar. No Riocentro, serão instalados três helipontos. Existe planejamento até para um colapso na segurança pública do estado - como uma paralisação geral das polícias civil e militar. Segundo explicou em nota ao GLOBO o Ministério da Defesa, "a força de contingência prevê o emprego das tropas numa eventual necessidade de reforçar a segurança pública". O CML tem capacidade de mobilizar imediatamente 14 mil homens treinados para atuar na garantia da lei e da ordem. |
Rio+20: os inimigos agora são outros |
Autor(es): Antônio Werneck |
O Globo - 08/04/2012 |
Na era das UPPs, esquema de segurança da conferência terá como foco o combate a crimes cibernéticos e terrorismo Preocupação com a Favela da Rocinha existe, mas o Exército, que vai cuidar este ano da segurança da Rio+20, conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, já não encara o tráfico de drogas como inimigo número um, como fez há duas décadas, durante a Rio 92, quando a cidade vivia uma onda de violência. Com a pacificação das principais favelas cariocas, resultado da expansão das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o medo agora é de ações terroristas e crimes cibernéticos, como os recentes ataques de hackers a páginas do governo brasileiro e de bancos do país. O planejamento do Exército prevê segurança máxima pelo ar, no mar e em terra. Haverá bloqueios próximos aos locais de eventos, com proibição do uso do espaço aéreo; vigilância nos aeroportos internacionais e domésticos do Rio e de São Paulo; pente-fino nas estradas federais e estaduais e monitoramento de embarcações próximo à costa do Rio. Estruturas críticas como a usina nuclear de Angra dos Reis, a Reduc e complexos de abastecimento de água, luz e gás serão vigiadas. As lagoas de Jacarepaguá - nas imediações do Riocentro - serão tomadas pelas forças de segurança. Além disso, mergulhadores da Marinha já estão prontos para inspecionar até os cascos das embarcações na Baía de Guanabara. General da pacificação comandará segurança O controle de toda a segurança da Rio+20 será feito de um salão no Comando Militar do Leste (CML), no Centro. Haverá, inclusive, um centro de comando e controle móvel na área das conferências. À frente das decisões, estará o general Adriano Pereira Júnior, comandante Militar do Leste - oficial que participou do processo de pacificação dos complexos da Penha e do Alemão. A partir de 4 de junho, funcionará no CML o Centro de Coordenação de Operações de Segurança, com a presença de representantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e de todos os setores de segurança de estado e município. Apenas no dia 26 o esquema de segurança deverá ser desmobilizado. Em comparação a outros grandes eventos na cidade, a novidade será a instalação, paralela à sala principal, de um Centro de Monitoramento Cibernético, com agentes especializados em acompanhar movimentação suspeita na internet e capazes de rastrear pessoas intrometidas. O grupo também vai proteger o trânsito de informações trocadas pelos chefes de estado pela grande rede, além de assegurar o pleno funcionamento dos sistemas de comunicação, comando e controle dos eventos, que estarão em funcionamento durante a conferência. - A defesa cibernética é a grande novidade em comparação à segurança de outros grandes eventos na cidade. Um núcleo de defesa cibernética já foi ativado no país, mas vamos montar no CML uma coisa inédita: um centro capaz de permitir segurança aos usuários do espaço cibernético da Rio+20, preparado também para enfrentar ataques de "crackers" - diz o coronel Saulo Chaves dos Santos, chefe de Comunicação do CML. Os detalhes do esquema de segurança ainda estão sendo traçados, mas é certo que ele será mais discreto do que há 20 anos. No lugar de homens armados com fuzis automáticos, tanques e blindados sobre rodas ostensivamente em estradas, avenidas, túneis, morros e favelas, as Forças Armadas planejam um aparato mais "clean" (limpo), como explicou o coronel Saulo: - Os blindados serão usados, vamos empregar aeronaves e mais de dez mil homens e mulheres. Teremos atiradores de elite (snipers), forças especiais, grupo antiterror e helicópteros. Se a população vai ver, é outra coisa. A ideia é usar a máxima segurança sem atrapalhar a rotina e o dia a dia da cidade. Efetivo terá aumento de 33% em relação à Rio 92 Apenas o Exército deve mobilizar dez mil homens e mulheres. Outros dois mil virão da Marinha e cerca de 800 da Força Aérea, além de agentes da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e das polícias Civil e Militar do Rio. Contando com guardas municipais e soldados do Corpo de Bombeiros, o efetivo total poderá chegar em alguns dias a 20 mil homens. Um aumento de 33% em comparação ao aparato militar usado há 20 anos, durante a Rio 92. - Não temos históricos de ações terroristas no país, mas quando assumimos o compromisso de sediar um evento dessa magnitude, importamos preocupações. Cada delegação estrangeira tem uma particularidade, um grau de segurança que vai de baixo, passa por médio e chega a alto risco - diz o delegado Victor Cesar Santos, da Polícia Federal, escolhido para cuidar da segurança dos grandes eventos que a cidade sediará. A Rio+20 - que será realizada de 13 a 22 de junho - marca os 20 anos de realização da Rio 92. São esperados 120 chefes de estado ou de governo. O Riocentro sediará a reunião de cúpula. A segurança empregada no evento será estendida à Arena do HSBC, na Barra; à Quinta da Boa Vista; ao Píer Mauá; e ainda ao Aterro do Flamengo, onde são esperadas milhares de pessoas em discussões paralelas. A organização estima que cerca de 50 mil pessoas serão credenciadas. Os gastos com o aparato, segundo o Ministério da Defesa e o Comando Militar do Leste, devem chegar à casa do R$150 milhões. Para as ações de contraterrorismo, serão empregados 300 militares dos destacamentos antiterror do Exército e da Marinha. A Polícia Federal também já tem homens prontos para a missão. A sede do Comando de Operações Táticas (COT) deverá ser transferida de Brasília para o Rio. Homens treinados para defesa química e bacteriológica estarão em estações de descontaminação para atuarem em caso de um eventual acidente ou "atuação proposital por algum agente estranho". Para escapar do trânsito do Rio, chefes de estado terão a opção de se locomover pelo ar. No Riocentro, serão instalados três helipontos. Existe planejamento até para um colapso na segurança pública do estado - como uma paralisação geral das polícias civil e militar. Segundo explicou em nota ao GLOBO o Ministério da Defesa, "a força de contingência prevê o emprego das tropas numa eventual necessidade de reforçar a segurança pública". O CML tem capacidade de mobilizar imediatamente 14 mil homens treinados para atuar na garantia da lei e da ordem. |
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