terça-feira, 10 de abril de 2012

O que fará Khamenei?

O que fará Khamenei?

Autor(es): Karim Sadjadpour
O Estado de S. Paulo - 10/04/2012
 

Nenhum acordo nuclear pode ser fechado sem o líder supremo, mas é quase impossível alcançar um com ele
O aiatolá Ali Khamenei nunca foi afeito ao jogo. Depois de se tornar líder supremo do Irã, em 1989, ele buscou preservar o status quo evitando decisões transformadoras. Mas conforme pressões políticas e econômicas sem precedentes o deixam cada vez mais cercado, Khamenei parece ter diante de si dois rumos para a salvação: uma concessão nuclear ou uma arma nuclear. Cada uma das opções pode trazer perigos para ele; ambas seriam transformadoras para o Irã.
Todos conhecem a aversão de Khamenei às concessões. Faz tempo que ele diz que o verdadeiro objetivo de Washington para Teerã não é uma mudança de comportamento, e sim uma mudança de regime. Assim como a perestroika acelerou a queda da União Soviética, Khamenei acredita que fazer concessões nos ideais revolucionários pode levar à desestabilização dos alicerces da República Islâmica.
Em comparação, os testes nucleares realizados pelo Paquistão, em 1998, ajudaram a transformar a pressão estrangeira e as sanções contra o país em disposição de negociar e incentivos oferecidos pelo exterior.
Mas, por mais que Khamenei seja avesso às concessões, o rumo que leva à bomba seria perigoso. É muito provável que sinais claros do desenvolvimento de armas - a expulsão dos inspetores internacionais ou o enriquecimento de urânio ao nível necessário para a fabricação de armas - desencadeiem uma ação militar por parte dos EUA ou de Israel.
A não ser que Khamenei queira provocar um ataque militar ao Irã para atender a finalidades domésticas - uma possibilidade improvável, mas plausível -, o líder supremo vai seguir favorecendo uma abordagem para ganhar tempo. Neste ritmo, o Irã ainda está a pelo menos dois anos da obtenção de uma bomba.
Mas o tempo pode não ser mais o aliado de Khamenei. Ele deve calcular se o seu regime será capaz de suportar uma pressão econômica aguda e crescente durante o período necessário à obtenção da bomba. Ele deve calcular se seu regime será capaz de suportar uma pressão econômica aguda e crescente durante o período necessário para a obtenção da bomba. E o avanço no rumo da arma nuclear não seguiria uma linha reta.
As poucas vezes nas quais o Irã cedeu de maneira significativa - como no fim da guerra contra o Iraque em 1988 ou a suspensão do enriquecimento de urânio em 2003 - ocorreram quando o regime temeu pela própria existência. Por mais que o país se veja hoje sob intensa pressão, dois fatores são diferentes. Primeiro, quando o Irã sentiu a necessidade de fazer concessões no passado, o barril de petróleo custava menos de US$ 25. Hoje, este preço é cerca de quatro vezes superior, aliviando o impacto das sanções.
Segundo, as situações em que o Irã cedeu foram lideradas pelo astuto ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani.
E aí que jaz o enigma político que Washington precisa decifrar: nenhum acordo nuclear com Teerã pode ser fechado sem Khamenei, mas é quase impossível que um acordo do tipo possa ser feito com ele.

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