O Brasil no futuro do Bird
Autor(es): John Briscoe |
O Globo - 08/04/2012 |
A primeira visão - no meu entendimento a correta - concebe o Bird como uma cooperativa financeira que oferece financiamento e consultoria para promover a prosperidade econômica inclusiva, ajudando os governos a realizar as suas funções centrais - gestão de economia, lei e ordem, educação, saúde, infraestrutura, agricultura, regulação e gestão ambiental. A aplicação dessa visão resultou num Banco Mundial que ajuda o Brasil a enfrentar, nas palavras da presidente Dilma, "os desafios paradigmáticos", tais como o delicado equilíbrio entre desenvolvimento e conservação da Amazônia, a construção de uma plataforma para o crescimento inclusivo no Nordeste e a modernização do setor público. Para liderar uma instituição com esta visão, é preciso uma pessoa que tenha interesse e qualificação para compreender o que há de específico em cada um dos países onde o Bird atua. Adicionalmente, é preciso ter experiência na avaliação das consequências de diferentes políticas econômico-financeiras e na gestão de uma organização multicultural de grande porte. É o caso de Ngozi Okonjo-Iweala, uma mulher com uma profunda experiência em países em desenvolvimento, que é amplamente respeitada pela coragem e experiência, amplamente testada quando exerceu a segunda posição em comando do Bird. A segunda visão concebe o Banco Mundial como uma agência assistencialista que deve atuar, frequentemente por intermédio de ONGs, para assegurar às camadas mais pobres da população o respeito aos seus direitos fundamentais, principalmente o de ter acesso a uma vida saudável. Porém, não enxerga o desenvolvimento econômico como pré-requisito básico para que esses avanços sejam sustentáveis, e não episódicos. Para liderar uma instituição com essa visão, os EUA propõem Jim Yong Kim. Trata-se de um médico com currículo respeitável, atuante no meio acadêmico da medicina e que fundou uma ONG que recebe recursos de pessoas ricas para ajudar a resolver as necessidades de saúde dos pobres em países como Haiti e Ruanda. Além de seus primeiros cinco anos na Coreia, ele não viveu em um país em desenvolvimento, e não tem experiência fora dos setores de saúde e educação. Escreveu um livro que afirma que o crescimento econômico leva a mais pobreza e não mostra interesse no caminho seguido pela sua terra natal, Coreia, ou por outros países de renda média como o Brasil. Ao contrário, exalta o modelo de desenvolvimento cubano. Como o Brasil é um país importantíssimo no Conselho do Bird, é altamente desejável que se evite a opção aparentemente neutra de dar um voto guiado pela solidariedade regional em favor de um terceiro candidato com baixíssima probabilidade de vitória - um colombiano - que sequer é nomeado por seu próprio governo. Ao contrário, o Brasil deve exercer a liderança legitimamente conquistada entre as nações, mostrando que tem claro entendimento sobre as qualificações necessárias para quem pretenda exercer a direção do Bird. E que tem independência para avaliar objetivamente quem melhor satisfaz essas qualificações, se a ministra Ngozi ou o dr. Kim. Como a administração Obama está empenhada em evitar, num ano eleitoral, o constrangimento de enfrentar acusações do tipo "perderam o Banco Mundial", o dr. Kim fará uma viagem eleitoral a sete países, inclusive o Brasil. Será uma oportunidade para as autoridades brasileiras avaliarem suas qualificações e mostrarem o que preferem: o dr. Kim, que dá o peixe, ou a ministra Ngozi, que ensina a pescar. Este é um momento para o Brasil se levantar e ser ouvido como um líder mundial. JOHN BRISCOE é professor da Universidade de Harvard e foi diretor do Banco Mundial para o Brasil |
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