BC avisa: PIB será menor; e inflação, maior
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Autor(es): Gabriela Valente |
O Globo - 28/06/2013 |
BC revê projeções para o ano e aposta em cenário de menos crescimento e mais inflação Depois da decepção com o Pibinho no primeiro trimestre, o Banco Central já trabalha com um cenário de crescimento menor e preços mais altos. De acordo com relatório divulgado ontem, a previsão de expansão do PIB este ano passou de 3,1% para 2,7%. De outro lado, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 5,7% para 6%. O número poderia ser ainda pior se o BC não tivesse, na última hora, incluído nas contas a redução das passagens de ônibus anunciada por causa dos protestos nas ruas de todo o país. A queda das tarifas foi determinada após 7 de junho, último dia com informações incluídas no documento divulgado ontem. No entanto, os técnicos não atualizaram o valor do dólar, o que poderia jogar para cima as projeções de índices de preços. Segundo especialistas, o arranjo favoreceu o número do BC. O diretor de Política Econômica da autarquia, Carlos Hamilton Araújo, não explicou o motivo de não ter atualizado o valor do dólar. Disse apenas que "não era oportuno". No fim do ano passado, a equipe econômica foi acusada de maquiar as contas públicas com manobras fiscais. Questionado se uma mudança não poderia afetar a credibilidade do BC, ele disse que não responderia "ilações" feitas por uma repórter. - Não há (manipulação). Procuramos ser o mais transparente possível. Para Antônio Madeira, economista da LCA Consultores, a decisão é justificável, mas acabou favorecendo o BC. - Atualizar o valor do ônibus é simples e mexer em câmbio significa ter de fazer alterações em todo o sistema, mas isso tudo jogou a favor do número do BC - afirmou Madeira. Na avaliação do BC, a economia terá uma expansão maior dos investimentos: a projeção passou de 4% para 6,1%. Já o consumo das famílias, que tem servido como motor do crescimento, foi revista de 3,5% para 2,6%. chance de 29% de estourar meta O economista Sérgio Vale, da MB Associados, criticou o documento, afirmando que ele continua sem sinalizar os caminhos do banco e reforça uma visão de indexação da economia. - Ele tem uma visão de atividade ainda forte que não é mais o caso. É um documento para justificar o injustificável, dado que a decisão foi muito abrupta e totalmente diferente do que o banco pensava apenas algumas semanas antes, quando a inflação já estava muito elevada. Pior ainda, ela está sistematicamente acima de 4,5% há muito tempo - disse o analista. O Banco Central admite que a inflação está alta. No entanto, para o diretor de Política Econômica, isso não significa fora de controle. Apesar de o BC afirmar que existe probabilidade de 29% de o teto da meta ser estourado neste ano, Hamilton acredita que a inflação terminará o ano menor do que os 5,84% vistos no ano passado. De acordo com ele, a promessa do presidente do BC, Alexandre Tombini, "está de pé", apesar de a projeção mostrar o contrário. Carlos Hamilton lembra que a previsão oficial não leva em consideração as próximas ações do Comitê de Política Monetária (Copom), numa indicação de que a taxa de juros (Selic), que está em 8% ao ano, deve continuar a subir. - Essa é uma mensagem importante: apesar do quadro de curto prazo mostrar elevação, a inflação está sob controle e continuará sob controle - garantiu o diretor. Para o ano que vem, a previsão para a inflação também aumentou. Passou de 5,3% para 5,4% e se afastou ainda mais do centro da meta de 4,5%, mas ainda dentro da margem de tolerância de dois pontos percentuais. O Copom avisou que há 25% de chance de o limite máximo ser ultrapassado. Perguntado sobre o relatório do Banco Central, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o importante é que as metas de inflação estabelecidas não devem ser ultrapassadas. - Com a previsão que ele (BC) faz significa que estaremos dentro do teto da meta mais um ano consecutivo - disse. O BC voltou a alertar para o alto nível de indexação da economia brasileira e que isso é uma resistência importante à queda da inflação no Brasil. Apesar da alta do dólar, o BC afirma que a importação de bens tende a contribuir para a redução da inflação no Brasil, porque promove a competição com os produtos nacionais. Em relação à política fiscal, o BC deixou apenas como hipótese de trabalho o abatimento dos investimentos sobre a meta de 3,1% do PIB. De outro lado, o Ministério da Fazenda se compromete com uma meta de 2,3% do PIB, o que pressupõe também o abatimento das despesas com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). |