segunda-feira, 22 de julho de 2013

Na Copa do protesto: Manifestações crescem em estádios

Na Copa do protesto: Manifestações crescem em estádios

"Ola" de protesto Manifestantes tomam a arquibancada do Maracanã
Autor(es): Carolina Oliveira Castro, Débora Gares, Eduardo Maia e Lauro Neto
O Globo - 21/06/2013
 
Com centenas de cartazes e gritos de ordem, torcedores engrossam os atos que se multiplicam nas ruas do Brasil

 Cartazes bilíngues. Após tentativa de repressão, manifestantes mostram faixa contra Copa
Torcedores unidos. Bandeira do Brasil acompanha protesto, que teve direito a Hino Nacional

Quem achava que a Copa das Confederações e as manifestações populares que têm tomado as ruas jogavam em times diferente percebeu ontem que não precisa ser assim. Diferentemente do primeiro jogo da competição no Maracanã, entre Itália e México, quando os manifestantes foram mantidos do lado de fora, o que se viu ontem foram cartazes em diversos pontos do estádio, inspirando gritos de "O povo unido jamais será vencido" e coro para o Hino Nacional.
As manifestações começaram na metade do segundo tempo. Num primeiro momento, os seguranças do estádio tentaram tomar os cartazes e foram vaiados pela torcida, o que levou ao coro de "O Maraca é nosso". Com a arquibancada falando mais alto, vários outros cartazes foram mostrados, e até o tradicional canto de "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor", comum em jogos de seleção, ganhou novo brilho.
- Quando os protestos começaram, eu disse que não iria mais ao jogo para me unir aos manifestantes. Mas depois vi que o Maracanã seria melhor vitrine que as ruas, que já estão tomadas - disse o advogado Marcus Garcia, que havia preparado três cartazes, mas só pôde entrar com um, com o artigo 37 da Constituição, que trata dos princípios da administração pública.
Adotando outra técnica, o geofísico Pedro Jonas Amaral conseguiu entrar com dois cartazes: um pedindo escolas e hospitais no padrão Fifa de qualidade e outro onde se lia "corrupção também é vandalismo":
- Trouxe folhas em branco e só pintei os dizeres quando entrei. Foi uma emoção ouvir a galera apoiando. Essa é a ideia, ver o povo unido por uma causa.
Outros cartazes criticavam ainda a privatização do Maracanã e as remoções forçadas que acompanham as obras. Em muitos se lia a frase "O gigante acordou". Entre os espanhóis que foram ao jogo, muitos se mostraram solidários à causa. Morando há dois meses no país, Marcos Miranda portava um cartaz com a frase, em espanhol: "Uma mensagem direta a todos os governos de repúdio à corrupção". Morador de Brasília, o espanhol Sergio Mota participou da manifestação da última segunda-feira, na capital, quando as rampas do Congresso Nacional foram ocupadas.
- Nisso, espanhóis e brasileiros se aproximam. Estamos cansados do abuso de poder e da política que tem prioridades diferentes das nossas.
No clima dos protestos, surgiram até cartazes bem-humorados, como o de um grupo de estudantes paulistas com camisetas floridas e colares havaianos que dizia "Não é por R$ 0,20. É por um gol do Taiti".
Barreiras geram atrasos
Antes de a partida começar, com medo de novos protestos, a polícia resolveu pedir ingresso de quem desembarcava das estações de metrô e trem. Quem não tinha era obrigado a voltar. O publicitário Marcello Caetano foi um dos barrados porque seu ingresso estava com uma amiga. Só quando se encontraram, ele pôde deixar a estação. Situações assim fizeram alguns torcedores perder o início do jogo. Nem os moradores da região conseguiam sair das estações.
Quem tinha ingresso e chegava até a segunda barreira policial e portava cartazes tinha que abri-los para que o conteúdo fosse avaliado. A advogada Ana Luiza Capanema também teve seu cartaz barrado, mas, por sorte, quando saiu do jogo, fez o mesmo caminho e conseguiu recuperá-lo a tempo de seguir para a manifestação.
- Queria me manifestar no estádio. Não deixaram, mas não tem problema, vou lá protestar com todo mundo.

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