segunda-feira, 22 de julho de 2013

PETROBRAS PODE TER PREJUÍZO TRIMESTRAL COM ALTA DO DÓLAR

PETROBRAS PODE TER PREJUÍZO TRIMESTRAL COM ALTA DO DÓLAR

CÂMBIO AMEAÇA RESULTADO DA PETROBRAS NO SEGUNDO TRIMESTRE
Autor(es): Por Cláudia Schüffner e Fernando Torres | Do Rio e de São Paulo
Valor Econômico - 21/06/2013

A desvalorização do real deve fazer estragos no balanço da Petrobras. Com o dólar cotado a R$ 2,20, o impacto no lucro do segundo trimestre ficará perto de R$ 6,6 bilhões, segundo cálculo do Itaú BBA. Os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes estimam que se o dólar fechar junho a R$ 2,30 a Petrobras deverá ter prejuízo no segundo trimestre, assim como ocorreu em igual período do ano passado. O impacto maior será na dívida em moeda estrangeira da empresa, que será corrigida pela cotação do dólar no último dia do mês - data de encerramento do trimestre.

A desvalorização do real, em meio ao nervosismo nos mercados em todo mundo, deve fazer estragos no balanço do segundo trimestre da Petrobras.
O impacto maior será na dívida em moeda estrangeira da empresa, que será corrigida pela cotação do dólar no último dia do mês - data de encerramento do trimestre.
Projeções feitas pela corretora Itaú BBA mostram que, com o dólar em R$ 2,20, o lucro líquido do segundo trimestre ficaria perto de R$ 6,6 bilhões. Se a moeda americana avançar para os R$ 2,30, a Petrobras deverá fechar com prejuízo o segundo trimestre, assim como ocorreu em igual período do ano passado.
A correção da dívida em dólar não significa que a empresa terá de desembolsar o novo valor - o que depende das datas de vencimento -, mas o efeito imediato sobre o lucro líquido poderá ter reflexos sobre os dividendos, especialmente dos detentores de ações ordinárias (com direito a voto). Os analistas do Itaú lembram que as preferenciais (sem direito a voto) têm dividendo mínimo garantido, calculado a partir do patrimonio líquido, o que protege o investidor que tem esse tipo de papel.
A ação preferencial fechou ontem em R$ 17,02, queda de 1,05%. A ordinária ficou em R$ 16,05, estável em relação a quarta-feira.
Além do efeito sobre o pagamento aos acionistas, o aumento da dívida mexe com indicadores usados por credores e agências de risco para avaliar a situação financeira das empresas.
Como a exposição da Petrobras ao dólar é de aproximadamente R$ 100 bilhões, uma desvalorização de 10% no real representa uma despesa financeira a mais de R$ 10 bilhões.
Segundo as projeção dos analistas do Itaú BBA Paula Kovarsky e Diego Mendes, se o dólar chegar ao fim de 2013 cotado a R$ 2,25, a Petrobras fechará o ano com dívida líquida de R$ 204,67 bilhões, comparada aos R$ 150,39 bilhões registrados no balanço do primeiro trimestre. Já com o câmbio no patamar de R$ 2,30, a dívida chegará a R$ 207,24 bilhões.
Para se ter uma ideia do que isso representa, esse aumento na dívida equivale a quase metade do investimento anual da companhia, que tem sido de US$ 50 bilhões em média.
No exercício feito pelo Itaú BBA em relatório recente, com o câmbio a R$ 2,15, a despesa financeira decorrente de variação cambial somaria R$ 6 bilhões. Nesse cenário, o lucro da empresa ficaria em torno de R$ 3,6 bilhões de abril a junho, metade do que o banco previa sem o efeito cambial.
Há de se considerar que, do ponto de vista operacional, o impacto do câmbio para a Petrobras é reduzido. Embora a empresa tenha cerca de 40% da receita travada em reais com a venda de gasolina e diesel, outros 60% estão atrelados ao dólar - ou seja, a moeda mais cara representa receitas maiores. Do lado dos gastos, a importação de combustíveis, paga em dólar, tem peso de 30% no total.
O analista Marcus Sequeira, do Deutsche Bank, chama a atenção ainda para o fato de a última emissão de dívida da Petrobras, uma captação de US$ 11 bilhões que foi a quinta maior entre companhias de capital aberto, deve ser usada em parte para abater empréstimos do BNDES atrelados a moedas estrangeiras, enquanto o saldo deve permanecer no caixa.
Por isso, Sequeira não espera que essa emissão mude significativamente a posição líquida da dívida da Petrobras no segundo trimestre de 2013.
Já os investimentos da estatal, ressalta o analista do Deutsche, são altamente relacionados ao câmbio, apesar da regra de conteúdo local que obriga a aquisições de equipamentos e serviços no Brasil. O problema é que os custos das matérias-primas e equipamentos mais complexos tendem a ter preços alinhados com os mercados globais.
Nesse cenário pouco animador, o Itaú BB considera que o único ponto positivo para Petrobras com relação ao câmbio é que o fortalecimento do dólar em relação a outras moedas, especialmente o euro, leva a uma redução dos preços do petróleo. Por mais paradoxal que possa parecer, o lucro da empresa sobe quando o preço do petróleo cai.
Outra preocupação que o câmbio em R$ 2,30 traz, ressaltam os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes, do Itaú BBA, é que a defasagem de preço da gasolina e do diesel aumentará para 30%, criando pressão sobre o governo para um novo aumento dos combustíveis, tema incendiário para a inflação.
No plano de negócios até 2017, uma das premissas da companhia para manter o grau de investimento é a taxa de câmbio de R$ 2,00 em 2013. Ontem, a moeda americana fechou cotada a R$ 2,258, alta de 1,71%.
No relatório em que avalia o efeito do câmbio sobre petroleiras brasileiras de menor porte, o Itaú BBA estima que o maior impacto do câmbio é sobre a OGX devido ao tamanho da dívida denominada em dólares, de US$ 2,7 bilhões.
A Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP) é afetada porque o gás produzido em Manati é atrelado ao IGP-M, mas os analistas acham que o mercado não prestará muita atenção nessas companhias.

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