segunda-feira, 22 de julho de 2013

O Brasil nas ruas: Capitais já baixam tarifas de ônibus; protestos continuam

O Brasil nas ruas: Capitais já baixam tarifas de ônibus; protestos continuam

Em mais um dia de protesto, São Paulo se divide entre paz e atos de vandalismo
O Globo - 19/06/2013
 
Manifestantes agiram para conter grupo que atacou prefeitura e provocou destruição, incêndios e saques na cidade

No dia seguinte à manifestação que registrou como único incidente a tentativa de invasão à sede do governo paulista, São Paulo ficou dividida. De um lado, milhares de pessoas protestaram pacificamente na Praça da Sé, seguindo tranquilamente por avenidas do Centro até chegar à Paulista. Do outro, um grupo de jovens foi às ruas para transformar a cidade em praça de guerra. Sem o aval da liderança do movimento, parte dos manifestantes que estava na Sé seguiu até a prefeitura. Lá, eles quebraram vidraças, picharam o prédio com palavras de ordem, viraram e tocaram fogo em um veículo da TV Rercord e, com rostos tapados, ainda queimaram uma cabine de polícia naquela área. Do outro lado da rua, o grupo destruiu portas e caixas automáticos de um banco privado.
manifestantes entram em choque
Pelas ruas quase sem a presença de policiais, o grupo seguiu saqueando o comércio local, levando roupas e televisores. Trens foram depredados em uma das linhas da CPTM, fazendo com que o governo suspendesse a operação. Durante a noite, milhares de pessoas ainda se concentravam, pacificamente, na Avenida Paulista e os saques e incêndios prosseguiam na região da prefeitura. Oito pessoas foram presas até o fechamento desta edição.
A confusão começou quando alguns manifestantes romperam o cordão de isolamento do prédio da prefeitura. A fachada foi apedrejada e pichada. Grades que cercavam o local foram atiradas contra a prefeitura e vidraças e holofotes, destruídos. Diante da situação, os próprios manifestantes tentaram conter a ação do grupo mais violento.
Alguns recolocaram as grades de proteção em frente à prefeitura, mas o clima foi tenso durante a noite. Os guardas municipais recuaram e se protegeram dentro do saguão do prédio, enquanto manifestantes jogavam pedras e grades contra o prédio.
Coordenadora de um dos grupos organizados para o protesto, Karen Maria disse que estava na prefeitura durante o quebra-quebra.
- A gente não estava com liderança suficiente para segurar todo mundo. A primeira vez que pegaram uma grade eu tentei impedir. Mas o número de pessoas que queriam quebrar tudo era muito maior - afirmou.
Muitos manifestantes que estavam na prefeitura seguiram para a Paulista.
- Vim pra manifestação pela segunda vez porque gostei do clima pacífico de ontem (anteontem). Saí da prefeitura porque o clima pesou e fui para a Paulista. Não queremos vandalismo queremos mudar o Brasil - contou o estudante de medicina Carlos Bonasso.
Entre os manifestantes houve briga. Um rojão explodiu, e um mendigo que estava no meio do grupo desmaiou, sendo socorrido por estudantes. Algumas pessoas tentavam expulsar do protesto o rapaz que estava com a bomba. Um carro de uma emissora de TV que estava estacionado em frente à prefeitura foi incendiado por manifestantes, por volta das 20h. Mais cedo, uma repórter da TV Bandeirantes foi agredida.
O prefeito Fernando Haddad (PT) não estava na prefeitura durante os protestos. Enquanto o prédio era alvo de vandalismo, Haddad estava reunido com a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula no saguão reservado às autoridades no aeroporto de Congonhas. Ninguém divulgou a pauta do encontro. Funcionários públicos ficaram presos dentro do prédio por horas.
guarda não solicitou apoio da PM
A assessoria do governador Geraldo Alckmin (PSDB) informou ontem que o apoio da PM não foi solicitado pela Guarda Civil Municipal para conter os vândalos. A PM somente chegou ao local quando os manifestantes começaram a depredar o comércio da região. Depois de mais de duas horas de quebra-quebra, a Tropa de Choque foi acionada e, com bombas de gás, os policiais começaram a dispersar os manifestantes.
No outro ponto da cidade, na Avenida Paulista, a multidão tomou conta das pistas. Sem qualquer registro de violência, caminharam pela via fechando os dois sentidos. Algumas pessoas circulavam pela região em clima de festa, dançando e cantando. Por volta das 22h, a Avenida Paulista ainda estava tomada pelo protesto.
Centenas de manifestantes também interditaram a Rodovia Raposo Tavares para protestar, sem tumultos.
Palco do comício da Diretas Já, em 1984, a Praça da Sé começou a ser ocupada pelos manifestantes por volta das 16h. Durante a espera cantaram palavras de ordem e empunharam bandeiras e faixas com reivindicações diversas.
Em nota, o grupo diz que a prefeitura e o governo estadual "continuam a fechar os olhos e os ouvidos para a vontade da população". E ainda: "Mais um dia se passou e o aumento não foi revogado. Mais de 100 mil pessoas foram para as ruas e mesmo assim a Prefeitura e o governo do Estado continuam a fechar os olhos e os ouvidos para a vontade da população. Hoje estaremos novamente ocupando as ruas para barrar o aumento", diz o texto.
Anteontem, a passeata organizada pelo Movimento Passe Livre (MPL) reuniu cerca de 65 mil pessoas, segundo o Instituto Datafolha, e transcorreu de forma pacífica por vias importantes da cidade. O único episódio de violência foi registrado em frente à sede do Palácio dos Bandeirantes, à noite, quando um grupo tentou invadir a sede do governo e foi reprimido pela polícia.
Temendo problemas, o governo de São Paulo, em nota oficial, já havia convocado as lideranças para que mantivessem "contato contínuo" com oficiais da PM que acompanhariam. O secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, foi quem pediu para que o grupo mantenha o acordo firmado com o governo para evitar problema.

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