segunda-feira, 22 de julho de 2013

Tensão urbana: Confronto se agrava em SP, com mais prisões e feridos

Tensão urbana: Confronto se agrava em SP, com mais prisões e feridos

São Paulo sitiada
O Globo - 14/06/2013
 
Tropa de Choque avança sobre manifestantes e jornalistas; movimento promete novas ações
SÃO PAULO
O quarto e mais violento dia de protestos contra o reajuste da tarifa do transporte público transformou, novamente, o Centro da capital paulista em um campo de batalha - desta vez marcado pela pesada ação da Tropa de Choque da PM contra o grupo que tomava as principais avenidas da cidade. A operação policial feriu manifestantes e diversos jornalistas que faziam a cobertura do ato. Não houve acordo com o governo e a prefeitura para a redução das tarifas. Os organizadores do Movimento Passe Livre (MPL) anunciaram que os protestos não vão parar. Nova mobilização foi convocada para a próxima segunda-feira.
Após o confronto, o grupo postou nas redes sociais um recado: "Já avisamos, enquanto a tarifa não baixar, a cidade vai continuar parada". O quarto dia de protestos, em uma semana, começou de forma pacífica no início da noite em frente ao Theatro Municipal de São Paulo. Cerca de 20 mil pessoas, segundo os organizadores, caminharam por mais de uma hora. A confusão começou quando a multidão chegou ao final do percurso que havia sido combinado com a Polícia Militar.
Na esquina das ruas da Consolação e Maria Antônia - famoso palco de repressão nos anos da ditadura militar -, enquanto organizadores do MPL negociavam com a PM a continuidade da passeata, policiais da Força Tática entraram no meio dos manifestantes atirando bombas de gás lacrimogêneo. Alguns participantes do protesto reagiram com rojões e pedras. Houve tiros de balas de borracha. Muitas pessoas que aguardavam uma decisão sobre o destino do ato, encurraladas, gritaram por socorro e pediram que não houvesse violência.
Mas a batalha continuou. Manifestantes se dispersaram em diversos grupos, e os confrontos se multiplicaram, chegando à região da Avenida Paulista. Na rua de um badalado restaurante, manifestantes e policiais se enfrentaram. Duas barricadas foram erguidas na rua. O comércio fechou as portas.
O jornal "Folha de S. Paulo" informou que teve sete repórteres atingidos por tiros de balas de borracha. Dois deles no rosto. Uma repórter foi atingida no olho quando estava num estacionamento na Augusta: um carro da Rota se aproximou e um PM atirou contra ela.
Antes mesmo do início da caminhada, os PMs detiveram, para averiguação, 137 pessoas, das quais oito continuavam presas durante a noite de ontem. Na Avenida Paulista, até mesmo quem deixava o trabalho foi abordado por policiais. No local, a Tropa de Choque e a Cavalaria da PM impediram qualquer ocupação. Ao menos, 41 pessoas foram detidas, segundo a Polícia Militar. O número é o maior desde a primeira manifestação organizada pelo MPL, na semana passada. A maioria delas, ainda conforme a polícia, foi levada à delegacia para averiguação.
A polícia adotou um procedimento diferente ontem à noite do que vinha usando nos atos anteriores. Um cordão de isolamento foi feito no entorno do local da concentração do protesto, no Theatro Municipal, para que houvesse uma revista de quem chegava para o ato. A PM informou ter apreendido nesse pente-fino dois coquetéis Molotov, máscaras, álcool e uma faca.
Entre os detidos estava o jornalista da revista "Carta Capital" Piero Locatelli. Ele tinha na mochila um frasco de vinagre. O produto é usado para aliviar os efeitos do gás lacrimogêneo, apesar de sua eficácia não ser comprovada. A detenção do jornalista, que estava no local a trabalho, foi condenada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e pela Anistia Internacional. Outro jornalista também chegou a ser detido: o fotógrafo Fernando Borges, do Portal Terra, passou 40 minutos com as mãos nas costas e de frente para uma parede, mas foi liberado.
Alguns ônibus foram pichados e lixeiras, destruídas. Em muros foram escritas frases contra o prefeito Fernando Haddad (PT) e palavras de ordens como "polícia fascista".
A Secretaria de Segurança informou que a Corregedoria da PM apura os episódios envolvendo jornalistas. A sede da prefeitura foi cercada por grades e homens da Guarda Civil Metropolitana.

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