sábado, 6 de julho de 2013

Copa das Confederações: Fifa e governo tentam reduzir críticas à Copa

Copa das Confederações: Fifa e governo tentam reduzir críticas à Copa

Fifa e governo no contra-ataque
Autor(es): Jamil Chade Leonardo Maia Tiago Rogero
O Estado de S. Paulo - 25/06/2013
 

O governo negou ontem que tenha dado dinheiro para o torneio.
Valcke e o ministro Aldo Rebelo lançam ofensiva para amenizar as críticas e cobranças contra a Copa
A construção de estádios faz parte do plano de desenvolvimento social, a Fifa é uma instituição não lucrativa e "faz bem" ao País e o governo não deu dinheiro para a Copa. Temendo uma fuga em massa de torcedores estrangeiros para a Copa de 2014, de patrocinadores e mesmo investidores diante dos protestos contra o Mundial, a Fifa e o governo fizeram ontem uma ofensiva inédita para abafar a crise que afeta o governo de Dilma Rousseff e a instituição. Mas admitem: os estádios ficarão 9% mais caros.
Ontem, o que era para ser uma coletiva de imprensa para fazer uma avaliação da Copa das Confederações se transformou num palanque para tentar reverter uma das piores crises já vividas pela entidade. Se Brasília e a Fifa por tantos anos se atacaram, ontem a ordem era a de se unir para evitar um fracasso comercial da Copa.
Em algunsjogos, os organizadores admitiram ao Estado que cerca de 2 mil convidados VIP não apareceram, temendo a violência. Já patrocinadores têm comunicado à Fifa que querem adotar um perfil mais reservado e repensam planos para 2014. Para a entidade e para o governo, isso ameaça se traduzir em perdas financeiras.
Manipulando números, reciclando informes velhos e deixando muitas perguntas sem resposta, a cúpula da Copa tentou de tudo para convencer que o Mundial é um grande negócio, na esperança de acalmar as ruas. "Não devemos falar de custo da Copa, mas da oportunidade da Copa", justificou Luis Fernandes, secretário executivo do Ministério dos Esportes sobre o orçamento para o Mundial. "Estamos fazendo boas coisas (para o Brasil)", declarou Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa.
O dirigente confirmou que a receita da Copa deve chegar a US$4 bilhões e que serão gastos US$ 1,5 bilhão na organização. O restante será distribuído pa-
ra "desenvolver o futebol". "Não estamos ganhando dinheiro para circular em grandes Mercedes", disse. Segundo ele, é errada a percepção de que a Fifa veio ao Brasil "ganhar dinheiro, não pagar impostos e que irá sair correndo do País". "Estamos fazendo coisas boas. Não estou envergonhado do que estamos fazendo", disse.
Dinheiro. Enquanto a Fifa exaltava seuperfil de bom samaritano, o ministro Aldo Rebelo reforçava o discurso apresentado pela presidente Dilma, na sexta-feira, de que o governo federal não gastou um tostão com a preparação do País para as Confederações e o Mundial.
O conceito de recursos públicos, porém, foi modificado. "Não há recursos do orçamento da união. Há recursos na forma de renúncia fiscal, de subsídios, que é algo que o governo distribui de forma ampla e generosa", disse o ministro, que achou ocasião para cutucar os jornalistas e tentar constrangê-los. "Fazemos isso até para as empresas jornalísticas. O governo federal, pelas empresas estatais, promove um grande número de publicidade (nesses veículos).Vocês podem imaginar quanto as TVs járeceberam esses anos todos de empresas públicas."
Ao ser confrontado com o fato de o BNDES, com dinheiro público,ter financiado a edificação das arenas, Rebelo garantiu que os valores emprestados serão recuperados e que os estádios também têm um caráter de promover melhora nas condições de vida de determinadas áreas. "O BNDES trabalha com a meta de financiar projetos que estejam de acordo com o desenvolvimento do país. O estádio do Corinthians vai trazer desenvolvimento para a área com o pior índice de desenvolvimento humano de São Paulo." Ele não explicou que parte dos empréstimos vão justamente para governos estaduais, não citou o fato de que parte do estádio de Brasília é feito com recursos de empresas que têm a União como acionista nem que o BNDES dá juros com taxas subsidiadas.
Numa resposta às ruas, Rebelo ainda destacou que os bilhões destinados à construção de estádios não prejudicaram o investimento em áreas essenciais como saúde e educação. Os recursos para saúde entre 2007 e 2013 foram de R$ 447 bilhões, enquanto o orçamento do Ministério do Esporte teria sido apenas 1% desse valor. "Não há desvio de recursos destinados à saúde e educação para obras da Copas", disse.
Recursos. Rebelo insistiu que os investimentos privados superam em muito os gastos públicos. Para ele, o grosso dos R$ 28 bilhões de despesas previstos na Matriz de Responsabilidade já seriam necessários no futuro, com ou sem a Copa do Mundo.

Esse valor, porém, é 9% superior às projeções feitas há três meses. Mas tiveram de admitir que o valor do projeto hoje é maior do que previam em abril. Os estádios,por enquanto, ficarão orçados em R$ 7,6 bilhões, cerca de R$ 600 milhões a mais do que se imaginava em abril. Em 2010, o plano inicial indicava que os estádios custariam R$ 5,5  bilhões. Já as obras nos aeroportos foram recalculadas, com um incremento de 24% nos custos, em mais de R$ 1,5 bilhão.
Na operação de abafa, a Fifa e o COL ainda usaram um informe de 2010 mostrando que a Copa renderia R$ 112 bilhões à economia nacional e criaria 3,6 milhões de empregos. Em outros dados, o governo insiste que 24.5 mil empregos foram criados nas obras dos estádios e R$ 100 milhões em negócios para pequenas empresas.
A Fifa insiste que parte de seu dinheiro vai ficar no Brasil. Contratou 15 empresas nacionais para fornecer alimentos nos estádios e vai gastar R$ 448 milhões em quartos de hotéis apenas para a família Fifa em 2014.

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