Enquanto isso, na economia
Dólar nas alturas |
O Globo - 20/06/2013 |
Após reunião do Fed, moeda dispara e chega a R$ 2,22. Bolsa cai 3,18%, e Tesouro promete recomprar títulos WASHINGTON, RIO, SÃO PAULO e brasília Os sinais de mudança na política monetária americana, anunciados ontem pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, causaram forte turbulência no mercado brasileiro, na Europa e nos Estados Unidos. Sem intervenção do Banco Central, o dólar fechou em alta de 1,92%, cotado a R$ 2,22, o maior patamar desde 27 de abril de 2009. Na máxima do dia, a moeda americana alcançou o patamar de R$ 2,224. Na Bolsa de Valores de São Paulo, o cenário foi de nervosismo, com a saída de investidores estrangeiros, e o Ibovespa, índice de referência do mercado, caiu 3,18%, aos 47.893 pontos, o menor nível desde abril de 2009. Num dia de perdas generalizadas, apenas quatro das 71 ações que compõem o índice encerraram o dia em alta. A instabilidade do mercado financeiro afetou as taxas dos títulos públicos e, após o encerramento dos negócios, o Tesouro Nacional anunciou que fará mais leilões extraordinários de recompra de títulos. Segundo nota divulgada pelo Ministério da Fazenda, serão recomprados hoje papéis prefixados e atrelados a índices de preços: LTN, NTN-F e NTN-B. No leilão serão ofertados papéis com vencimentos a partir de 2015, como perfil de médio e longo prazos. Segundo técnicos do governo, embora os fundamentos da economia brasileira sejam sólidos, as taxas no mercado futuro ficaram muito altas, o que significa que os investidores estavam tentando se desfazer de títulos do governo. FUNDOS DE RENDA FIXA TÊM QUEDA DE 0,07% NO MÊS Nesses momentos, o Tesouro costuma realizar leilões de recompra que dão aos detentores a opção de se desfazer dos papéis. Nessas operações, o governo se dispõe a recomprar um valor e oferece uma taxa considerada mais realista pelos técnicos. Na última terça-feira, o Tesouro já havia realizado um leilão extraordinário de recompra de até dois milhões de títulos, mas só chegou a adquirir 200 mil com vencimento em 2017. Com a volatilidade dos títulos públicos, os fundos de renda fixa acumulam perda de 0,07% este mês, até o dia 14. Nos últimos 30 dias, a perda é de 0,06%. - Os fundamentos da economia são bons, temos reservas elevadas, somos credores em dólares e rolamos a maior parte da nossa dívida no mercado doméstico. Mesmo assim, existe um movimento espiral que descolou as taxas dos fundamentos do país - explicou um técnico. A origem de tanta turbulência está na sinalização do banco central americano de que, diante da recuperação da economia, será possível iniciar o processo de retirada de estímulos ainda neste ano. A cada mês, o Fed despeja US$ 85 bilhões no mercado com a recompra de títulos. - O governo está tentando acalmar o mercado porque entramos num círculo vicioso. O movimento de saída de investidores estrangeiros da Bovespa e da renda fixa se acentuou, após a sinalização de Fed. É difícil prever o que vai acontecer, mas acredito que a tendência de alta se mantém e a moeda americana pode chegar facilmente aos R$ 2,30 - afirma Luciano Rostagno, estrategista do banco WestLB. Segundo especialistas, a alta do dólar ocorre num momento particularmente negativo para o governo, que tem enfrentado dificuldade para manter a inflação dentro da meta, de até 6,5% ao ano. Para o mercado, a decisão do Fed reforça uma tendência já verificada nos últimos pregões, com a saída de recursos de mercados emergentes para títulos dos Estados Unidos. Investidores antecipam que, após a retirada de medidas de estímulo, os juros devem subir nos EUA. Ontem, o rendimento dos títulos públicos americanos com vencimento em dez anos, considerados referência do mercado, passaram de 2,2% para 2,33%, a maior taxa desde março do ano passado. É também o maior salto desde dezembro de 2010. Dados da Consultoria EPFR mostram um aumento na saída de recursos do país de grandes fundos de investimentos até o dia 17 deste mês. Neste período, a retirada chega a US$ 1,543 bilhão. bolsas em queda na europa e nos eua Para Luiz Eduardo Portella, sócio da Modal Asset Management, até ontem, o mercado ainda tinha dúvidas se o BC americano sinalizaria os próximos passos da política monetária. - O mercado especulava sobre a redução do programa de recompras. Agora, o Fed deu uma sinalização oficial e clara. E os dólares começaram a voltar os os Estados Unidos. A repercussão da reunião do Fed afetou os principais índices. Nos EUA, o Dow Jones fechou em baixa de 1,35%, a S&P teve baixa de 1,39% e a Nasdaq, de 1,12%. Na Europa, o FTSE, de Londres, registrou queda de 0,4%. O recuo mais acentuado ocorreu em Madri, com queda de 1%. Segundo João Medeiros, diretor da Pioneer Corretora, uma remessa de US$ 700 milhões de uma estatal, para pagar contas no exterior, teria ajudado a pressionar ainda mais o mercado de câmbio brasileiro, que teve um movimento de US$ 3 bilhões ontem. - O BC apenas olhou o que aconteceu no câmbio. Precisamos ver o que ele vai fazer daqui para frente. Não vejo uma falta de moeda no mercado, não existe asfixia. Então, não acredito em venda de dólares à vista, com uso das reservas. O que existe é uma tendência que está sendo vista pelo mundo - avalia. A possibilidade de que o programa de estímulo fosse reduzido já vinha pressionando o dólar nas últimas semanas, no Brasil e em todo o mundo. Por aqui, desde maio, o Banco Central fez nove leilões de contratos de swap cambial, que equivalem a uma venda de moeda americana no mercado futuro, para tentar segurar a escalada do dólar. O BC despejou US$ 15 bilhões no mercado, mas a tendência da divisa americana continuou sendo de alta. O estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, explica que existe um movimento de vendas de ações em países emergentes como um todo, como México, Colômbia, Chile e Turquia. - O Bernanke disse que pode tirar os recursos, não disse que vai tirar. Mas, na dúvida, o investidor estrangeiro, principalmente, vende logos suas ações e deixa o dinheiro em caixa. Senta em cima e espera para ver o que vai acontecer. É um momento tenso - resume. Após a reunião do Fed, os juros futuros tiveram forte alta. O DI para janeiro de 2014 teve taxa de 9,00% ante 8,97% na véspera. Na Bovespa, as ações da Vale caíram 1,58%, a R$ 28,65, enquanto os papéis PN da Petrobras caíram 3,08%, para R$ 17,29. Os papéis do grupo EBX voltaram a sofrer uma nova rodada de desvalorização. As ações ON da OGX caíram 13,04%, para R$ 0,81, a maior baixa do Ibovespa. LLX ON perdeu 11,21%, a R$ 1,03; e MMX ON teve queda de 8,09%, para R$ 1,25. |
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