segunda-feira, 17 de junho de 2013

CAIXA OMITIU LIBERAÇÃO DO BOLSA FAMÍLIA E ADMITE ERRO

CAIXA OMITIU LIBERAÇÃO DO BOLSA FAMÍLIA E ADMITE ERRO

CAIXA E GOVERNO ADMITEM ERRO AO TRATAR DOS BOATOS SOBRE BOLSA FAMÍLIA
Autor(es): Anne Warth Ricardo Della Coletta
O Estado de S. Paulo - 28/05/2013
 

O banco nega, porém, que a antecipação do pagamento tenha motivado boatos e corrida a caixas eletrônicos
O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiram ontem que os recursos do Bolsa Família foram liberados para saque na sexta-feira, dia 17, véspera dos boatos que provocaram a corrida de milhares de pessoas a agências em 13 Estados. Até então, a versão do governo federal afirmava que o benefício tinha sido liberado somente após os tumultos, no sábado, dia 18. Ambos também admitiram que sabiam desde segunda-feira da semana passada que o banco havia antecipado o benefício. O Planalto, no entanto, nega que a medida tenha sido a causa dos boatos. Segundo o banco, a ação foi uma forma de evitar que famílias que tiveram o cadastro modificado tentassem sacar o benefício antes de estar disponível. Segundo o presidente da Caixa, nenhum beneficiário foi avisado da mudança de calendário. Após as entrevistas, a avaliação no governo é de que o desempenho de Jorge Hereda foi fraco. O PSDB entrou com representação para que o MPF investigue a responsabilidade da Caixa no caso.

Administração. Presidente do banco e ministro da Justiça afirmam que sabiam desde o início sobre antecipação de pagamentos a beneficiários de programa, mas negam que medida tenha motivado corrida de dez dias atrás por saques em caixas eletrônicos


O governo federal disse ontem que errou ao tratar publicamente dos boatos sobre o fim do Bolsa Família que levaram centenas de pessoas a caixas eletrônicos dez dias atrás. Integrantes da gestão Dilma Rousseff admitiram que seguraram por pelo menos quatro dias a informação segundo a qual os recursos do programa social foram liberados para saque na véspera da corrida aos bancos iniciada no dia 18.
Entre segunda-feira, dia 20, e sexta-feira, dia 24, aversão oficial dava conta de que a liberação do benefício havia ocorrido só após o início dos tumultos em agências bancárias da Caixa Econômica Federal, responsável por distribuir as verbas. Nesse período, integrantes do governo Dilma classificaram os boatos como uma "ação orquestrada". A ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário, chegou a falar em uma "central de notícias da oposição". Após quatro dias a Caixa divulgou nota confirmando que a liberação havia, sim, sido feita no dia 17.
Ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, admitiram que sabiam já naquela segunda-feira do dia 20 que o banco havia antecipado a liberação dos recursos. Hereda disse, em uma entrevista concedida após Dilma pedir que ele desse um esclarecimento público, que a primeira versão oficial se tratou de um "erro".
A Caixa nega, porém, que a liberação excepcional de recursos do Bolsa Família na véspera tenha motivado os boatos sobre o fim do benefício e causado a corrida aos caixas eletrônicos. Já a oposição diz que esse pode, sim, ter sido o motivo do pânico.
Questionado sobre o motivo de ter levado quatro dias para confirmar a informação, Hereda disse que ordenou, ainda na segunda- feira, que fosse feito um levantamento completo sobre o ocorrido, que teria levado uma semana para ser concluído. "Eu sou presidente de um banco e não vou a público apenas com parte da informação", afirmou Hereda. "Essa imprecisão só se justifica pelo momento que a gente estava vivendo e eu peço desculpas pelo engano na manifestação". Já o vice-presidente de Governo do banco, José Urbano, disse que não houve demora. "Se três dias é muito tempo, é uma questão de opinião."
Falhas. Segundo a Caixa, desde março atualizações no sistema de beneficiários mostraram que cerca de 692 mil famílias possuíam mais de um cadastro, chamado de número NIS. O banco decidiu eliminar a duplicidade e adotar apenas o número mais antigo para fazer o depósito.
Como o calendário de pagamentos segue a ordem do último número desse cadastro, o banco justificou a antecipação para evitar que algumas famílias tentassem sacar o benefício sem que ele estivesse liberado.
Mas, conforme Hereda, nenhum beneficiário foi avisado sobre essa liberação antecipada.
Segundo a Caixa, os beneficiários somente foram contatados a partir de segunda-feira, 20. Por SMS, 2,588 milhões de celulares, de usuários de 13 Estados, receberam às 20h a seguinte mensagem: "A Caixa informa: o Bolsa Família está sendo pago normalmente, de acordo com o calendário de pagamentos. Não acredite em boatos".
Urbano negou também que a Caixa tenha deixado prosperar o boato de que o fim do Bolsa Família estivesse ligado à oposição. "Jamais iríamos tomar essa iniciativa de saber que houve um problema e deixar que ele continuasse acontecendo."
O vice-presidente do banco disse que o boato ocorreu independentemente das ações da Caixa. "Ele aconteceu por um fator alheio à decisão, e pode ter se valido dessa decisão. A Polícia Federal vai investigar, mas esse não foi o fator motivador" , afirmou o dirigente da Caixa.
Dilma ficou preocupada com o impacto dos boatos sobre o fim do Bolsa Família, razão pela qual chamou Hereda ontem para uma reunião pela manhã. Nesse encontro, pediu que o presidente da Caixa desse as explicações públicas.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criador do Bolsa Família, classificou ontem os boatos sobre o fim do benefício como um "ato de vandalismo"./ Colaboraram Tânia Monteiro, Vera Rosa e Fernando Gallo

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