A ENCRUZILHADA DA ECONOMIA: NEM PIBINHO SEGURA JUROS, QUE VÃO A 8%
ECONOMIA NÃO DECOLA |
Autor(es): Henrique Gomes Batista, Clarice Spitz e Renata Cabral |
O Globo - 30/05/2013 |
PIB cresce só 0,6% no 1º tri, no piso das projeções. Analistas já veem alta de apenas 2% este ano Mais uma vez o resultado da economia brasileira frustrou governo, empresários e mercado financeiro. O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) medido pelo IBGE cresceu apenas 0,6% no primeiro trimestre de 2013, em relação aos últimos três meses de 2012 (já descontados efeitos sazonais), no piso das estimativas de analistas e abaixo da previsão oficial, de alta de 0,9% a 1%. A taxa de 0,6% é exatamente a mesma do quarto trimestre do ano passado, indicando que não ocorreu, até o momento, a esperada aceleração do crescimento. Nos últimos 12 meses, o PIB cresceu só 1,2%. E, frente ao primeiro trimestre do ano passado, a expansão da economia foi de 1,9%. Após a divulgação do PIB do primeiro trimestre, analistas do mercado reduziram suas projeções para o resultado fechado do ano e já há quem estime uma expansão de só 2% em 2013, dado que será conhecido em março do ano que vem, ou seja, às vésperas das eleições presidenciais. Em valores, o PIB somou R$ 1,11 trilhão. Além de ter crescido pouco, o PIB teve uma composição ruim no primeiro trimestre. Sem agro, alta seria de só 0,2% Se não fosse a forte expansão da agropecuária, que avançou 9,7%, o PIB teria crescido só 0,2% no primeiro trimestre. A indústria caiu 0,3%, devido sobretudo à piora na extrativa mineral. A alta de 9,7% na agropecuária foi a maior desde o segundo trimestre de 1998. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o setor avançou 17%. Além das safras recordes de soja e milho, o resultado foi influenciado pela fraca base de comparação. - Tivemos um ganho de produtividade frente a 2012, graças a um clima mais favorável. A partir de agora, os ganhos serão menores - afirmou Lucilio Alves, professor da Esalq/USP. Até mesmo os segmentos que vinham sustentando a alta do PIB decepcionaram. O setor de serviços cresceu apenas 0,5%, com quase todas suas atividades com resultados mornos. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias, que até então era o motor da economia, teve uma alta de apenas 0,1%, ou seja, viveu um quadro estagnação em relação ao fim do ano passado. - O governo está retornando algumas alíquotas de IPI que haviam sido reduzidas, a inflação aumentou e isso corroeu os salários reais. Além disso, o crédito também desacelerou. Isso desestimulou o consumo das famílias - disse Rebeca de Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE. Os investimentos deixaram para trás quatro trimestres seguidos de quedas e subiram 3% nos três primeiros meses do ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Em relação ao trimestre anterior, o avanço foi de 4,6%. Para Rebeca de Palis, o resultado do PIB mostrou uma mudança de perfil: investimentos crescendo mais que o consumo das famílias. Mas, para Cristina Mendonça de Barros, sócia da MB Associados, ainda é prematuro para se falar em um novo parâmetro do crescimento brasileiro: - O investimento foi positivo, mas daí a dizer que ele foi retomado é algo que ainda precisamos ver. Temos um ambiente regulatório incerto e dúvidas sobre a competitividade nacional. A economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, cita o setor externo como um vilão. Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, as exportações caíram 5,7%, enquanto as importações cresceram 7,4%. Ou seja, o setor externo teve contribuição negativa para o PIB - sem isto, a economia teria avançado 3,6% frente ao mesmo período de 2012, em vez de 1,9%. Com o fraco resultado da balança comercial, a necessidade de financiamento externo do Brasil mais do que dobrou - passou de R$ 25,86 bilhões no primeiro trimestre de 2012 para R$ 55,41 bilhões agora. - Demanda externa mais fraca, preços de matérias-primas mais baixos e câmbio parado fazem com que a perspectiva não seja boa. Se acentuar (o déficit na balança), vai haver um problema para o crescimento ou o governo vai ter de deixar o câmbio se desvalorizar, e aí existe um problema de inflação - disse Monica. Para Armando Castelar, da FGV, será muito difícil o país crescer no ritmo de 3% projetado pelo governo para este ano: - Para isso, os outros três trimestres precisam crescer 1,15%, ou seja, o dobro da velocidade dos três primeiros meses do ano, o que é muito improvável. |
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