Crise mundial pode inviabilizar acordos
Crise global põe em xeque fundo ambiental |
O Globo - 15/06/2012 |
O agravamento da crise econômica na Europa
minou qualquer possibilidade de sair da Rio+20 um texto ambicioso. Na
véspera do fim das negociações — previsto para hoje —, o embaixador
Luiz Alberto Figueiredo, chefe da delegação brasileira na Conferência
das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, disse que o mundo
"não pode ficar refém de uma retração gerada por uma crise financeira,
que pode acabar em um ou dois anos". O temor parece estar virando realidade. Ontem, nos corredores do Riocentro, já se admitia a possibilidade de um texto genérico, sem compromissos a curto prazo, o que inviabilizaria a criação do fundo de US$ 30 bilhões para projetos de desenvolvimento sustentável, defendido pelos países emergentes. — A retração forte de recursos financeiros de países doadores está dificultando internacionalmente uma postura solidária — admitiu Figueiredo. Numa mudança de postura inesperada, o G-77 (grupo de 130 países mais pobres e emergentes) partiu para o to, ameaçando inviabilizar a discussão sobre economia verde se o fundo não for aprovado. O diretor do Departamento de Desenvolvimento Sustentável, Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, Nikhil Seth, também reconheceu a enorme dificuldade para se obter um acordo e fechar o documento final. Os nós mais difíceis de serem desatados estão nas discussões sobre regras de financiamento. Reunidos no Encontro da Indústria para a Sustentabilidade, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), especialistas mostraram ceticismo com a possibilidade de aprovação do fundo — além de apontar que, mesmo se criado, seus recursos não seriam suficientes. — Acredito que (o fundo) é um cenário ganha-ganha para países ricos e pobres, mas a realidade orçamentária em diversos países torna mais improvável chegar a isso — afirmou o economista Dani Rodrik. A ex-primeira ministra da Noruega Gro Brundtland, que cunhou nos anos 80 a expressão desenvolvimento sustentável, também admitiu que o fundo não deve sair, embora tenha expressado esperança quanto a avanços no financiamento. O fundo, porém, está longe de ser o único ponto de desavenças na Rio+20. A transformação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente numa agência especializada da ONU— com orçamento próprio e autonomia — também não é consenso. Outra pendência é quanto ao fim dos subsídios aos combustíveis fósseis: o G-77 está se opondo em bloco, mas o Brasil não deixou clara sua posição. No Forte de Copacabana, o chanceler Antônio Patriota admitiu que as negociações podem se estender além do prazo. — Estamos trabalhando ativamente para encontrar as convergências necessárias que possibilitem submeter aos chefes de Estado um texto limpo. É natural que haja dificuldades, isso é próprio do processo democrático. Ninguém adota em dois dias um projeto sobre uma questão tão complexa como desenvolvimento sustentável — afirmou. (Liana Melo, Eliane Oliveira, Lucianne Carneiro, Henrique Gomes Batista e Flávia Milhorance) |
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