Os desafios do governo Dilma
O primeiro ano do governo Dilma ficou marcado pela afirmação
da presidenta. Vencendo as desconfianças de alguns setores e
contrariando a expectativa da oposição, em 2011 o governo encerrou, com a
ampla aprovação da opinião pública, conseguindo inclusive superar os
melhores índices alcançados pelo presidente Lula.
Por Davidson Magalhães
No campo político, a oposição desnorteada viu surgir o PSD, do prefeito Kassab, que estendeu à adesão de líderes antes abrigados nas siglas oposicionistas, ao governo no âmbito federal e nos estados. Abriu-se, inclusive, uma perspectiva de isolamento dos tucanos em São Paulo. O crescimento econômico mesmo baixo contrastava com uma Europa em crise, EUA em marcha lenta e um Japão estagnado. Ultrapassamos o PIB da economia do Reino Unido passando a ser a 6ª economia do planeta. Estávamos nadando de braçada. O mundo em crise e nós em um céu de brigadeiro.
Mal começou o ano de 2012 e a outra face da realidade bateu a nossa porta. O IBGE divulgou o resultado do PIB de 2011, crescimento de 2,7%, mostrando forte desaceleração em relação ao crescimento de 7,5% registrado em 2010. A participação do setor industrial no PIB recuou para 14,6% ante 16,2% em 2010. Apesar da diversificação do nosso parque industrial, o peso relativo da indústria no PIB recuou aos níveis de 1956. Diferentemente da China, onde a indústria representa 43,1% do PIB, da Coréia com 30,4% e de 20,8% da Alemanha. No momento atual, um em quatro produtos industrializados consumidos no Brasil é importado, segundo a Fiesp. Em 2003 essa relação era de um para dez. Esses dados revelam um movimento de desindustrialização.
O desequilíbrio comercial somado à valorização cambial, com o real na posição de uma das moedas que mais se valorizaram no mundo, - só nos dois primeiros meses deste ano o real teve a valorização de 11% a maior entre todas as demais - além da adoção das maiores taxas de juros da economia global e a redução dos preços de commodities em 12,7%, ao longo dos últimos 12 meses, compõe um quadro de relevantes restrições à economia nacional.
No campo político, o inicio de 2012 trouxe novos episódios de antigos problemas. Na Câmara Federal, 53 dos 76 deputados do PMDB divulgaram manifesto de insatisfação com o atual governo. A presidenta Dilma sofreu a primeira derrota no Congresso, o senado rejeitou por 36 votos contra 31 a recondução de Bernardo Figueiredo, pessoa muito ligada à presidenta, ao cargo de diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres. Estes acontecimentos, demonstram o descontentamento e instabilidade da base governista, que pode colocar em risco a votação de importantes projetos e leis, a exemplo do novo Código Florestal.
Aos problemas no Congresso Nacional se somaram o lançamento da candidatura de José Serra à prefeitura de São Paulo, com um significativo potencial de reaglutinação dos setores conservadores tendo como expoente na sua articulação o “errático” Kassab, e a intensificação dos atritos e conflitos na base de sustentação do governo face às disputas locais, principalmente nos grandes municípios.
As dificuldades conjunturais, as oscilações macroeconômicas decorrentes de uma economia globalizada e instável, além de um movimento político de pressão e tensionamento, fruto da luta cotidiana pela hegemonia existente nas frentes políticas heterogêneas, nos reportam a problemas e limites estruturais do atual ciclo político iniciado por Lula e conduzido pela presidenta Dilma.
O primeiro destes limites está relacionado à política macroeconômica. Ao assumir o governo, o presidente Lula - pelas circunstâncias da correlação de forças então existentes - implantou uma política econômica híbrida. Elementos desenvolvimentistas e de mudança, convivendo, ao mesmo tempo com a atualização de compromissos com o capital financeiro e o rentismo neoliberal.
Especialmente no segundo governo Lula e no atual governo, um conjunto de medidas adotadas reforçam o sentido desenvolvimentista e a retomada do protagonismo do Estado brasileiro. Contribuem nesse caminho, o lançamento do PAC I e II, as iniciativas de política industrial, a ação do BNDES, o fortalecimento do mercado interno com o estímulo ao consumo e ao crédito, a política de redistribuição de renda. Contudo, a manutenção das altas taxas de juros, a política de câmbio flutuante e a falta de controle no fluxo de capitais internacionais, fazem com que o país pague um pesado ônus de uma transição dura, difícil e lenta para se livrar de uma macroeconomia de matriz neoliberal que freia seu desenvolvimento e transfere bilhões de reais para os banqueiros e especuladores. O Brasil obteve o menor índice de crescimento entre os BRICS com a manutenção desta política econômica híbrida.
A nova conjuntura econômica internacional, marcada pela retração econômica, pelo excesso de liquidez (inundação de moedas e títulos) decidido pelos países desenvolvidos para livrar do sufoco suas debilitadas economias, e pelo recrudescimento do protecionismo, desnudou os graves riscos e limites da manutenção da atual hibridez na orientação econômica do Brasil. O fraco desempenho do PIB brasileiro em 2011, a valorização cambial, e o risco de desindustrialização, evidencia que uma recuperação da economia brasileira, efetiva e duradoura, exige que se eleve a taxa de investimentos, o que implica no rompimento com a lógica rentista.
O segundo limite esta relacionado à arquitetura do poder e a condução da frente política liderada pelo PT. O Partido dos Trabalhadores elege o seu fortalecimento e sua consolidação como força hegemônica como estratégia de condução do projeto e a partir desta posição, busca incorporar as forças políticas de centro, especialmente por meio do compartilhamento dos espaços de governo. Esta equação é um fator constante de instabilidade. Para manter estável a base de apoio ao governo, os aliados precisam ser contemplados com espaços relativos à sua força política. Da mesma forma, para se consolidar hegemonicamente, o PT na função de pólo aglutinador da frente, busca avançar nos espaços institucionais, cargos e programas, que viabilizem conquistas de prefeituras, governos e ampliação das bancadas. A relação entre o hegemonismo petista e a frente política gera tensão permanente em torno da máquina administrativa, cujo desaguadouro quase sempre é o Congresso Nacional.
A articulação do segmento progressista e de esquerda, não ocorre de maneira orgânica e compartilhada, acontece exclusivamente nos períodos de crise e eleitoral.
Enfrentar as dificuldades conjunturais passa, no atual quadro político por superar os limites estruturais do projeto da frente política que sustenta o governo. Construir um novo pacto de forças políticas e sociais amplas, nucleado pelo conjunto das forças de esquerda, em torno de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento é o caminho para a superação dos atuais constrangimentos políticos e econômicos. Essa aliança pode se consolidar em maioria política e social, e assim alterar os mecanismos de articulação da frente e da forma de ocupação dos espaços de governo. A disputa pela hegemonia assim configura-se mais claramente como tarefa de um campo, não se confundindo com exclusividade e interesse de um único partido.
Só um novo pacto de forças políticas e sociais pode criar as condições de rompimento das amarras neoliberais que travam o crescimento econômico sustentável, a distribuição de renda e a ampliação da democracia no Brasil.
Professor, primeiramente parabéns pelo seu site, é excelente, sou de Uberlândia-MG e por aqui, pelo menos entre meus amigos concurseiros, todos têm o blog como principal fonte de estudo. Estou me preparando para o concurso do MPE-MG que terá 10 questões de atualidades com peso 2! O senhor poderia me ajudar, dando dicas de principais tópicos aos quais devo me atentar? No edital consta: Brasil: Contexto atual – economia, política e sociedade. Dilemas do governo Dilma. O mundo atual: dilemas e tensões mundiais. O fenômeno da globalização. Movimentos antiglobalização. Meio Ambiente. Direitos humanos.
ResponderExcluirReferência bibliográfica
BARBOSA, Alexandre de Freitas. O mundo globalizado. São Paulo: Contexto, 2001.
GOHN, Maria da Glória (org.). Movimentos sociais no início do século XXI, Antigos e novos atores sociais. Petrópolis, Vozes, 203 (PARTE I).
Declaração das Nações Unidas de 10 de dezembro de 1948.
Revistas e jornais de circulação nacional
Menino queria saber se esse professor te deu as dicas!Também estou querendo e gostei da sua pergunta.Se puder por favor me responda.Obrigada Paula
ExcluirProfessor Cassio, assim como nosso colega acima, temos muitos empenhados neste concurso aqui em Minas, umas dicas serão muito importantes, irei prestar este concurso tambem.
ResponderExcluirAbraços
Michelle
Para quem vai fazer a prova do MPE/MG, cabe salientar que quanto há uma bibliografia específica deve-se basear o estudo por ela.
Excluiratenciosamente,
Cássio Albernaz
Professor também vou fazer o concurso do MP e a matéria é a mesma do Artur que te deixou uma pergunta!Também queria que você me desse umas dicas de como posso estudar e o que vc acha mais importante!Desde já agradeço,e aguardo sua resposta.
ResponderExcluirProfessor também vou fazer o concurso do MP e a matéria é a mesma de todos que deixou uma pergunta! Agradeço se me ajudar!
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