sexta-feira, 22 de junho de 2012

Unasul tenta evitar destituição de Lugo

Unasul tenta evitar destituição de Lugo

Congresso pode afastar hoje o presidente do Paraguai
Autor(es): Por Fabio Murakawa | De São Paulo
Valor Econômico - 22/06/2012
 

Convocada pela União das Nações da América do Sul (Unasul) por iniciativa do Brasil, missão de ministros de Relações Exteriores do continente faz hoje, em Assunção, uma tentativa para deter o processo de impeachment contra o presidente Fernando Lugo. A Câmara dos Deputados paraguaia aprovou o impeachment e o Senado realizou manobra para começar ontem mesmo o julgamento, cujo desfecho está marcado para a tarde de hoje. Lugo é acusado de "mau desempenho de suas funções" após conflito que provocou a morte de 17 policiais e camponeses.
A Unasul quer preservar "o direito de defesa" de Lugo e lançar mão da "cláusula democrática", que pode resultar no isolamento político do país.

O Paraguai deve ter na tarde de hoje um novo presidente. Às 16h30 (17h30 em Brasília), conclui-se um julgamento político relâmpago, instalado na noite de ontem pelo Congresso, para decidir a sorte de Fernando Lugo, no cargo desde 2008. Parlamentares de oposição e de sua frágil base aliada de o acusam de não cumprir suas funções na condução de um dos piores conflitos sociais da história recente do país - um enfrentamento entre policiais e camponeses que resultou na morte de 17 pessoas na semana passada.
Lugo disse que não vai renunciar ao cargo. Mas, a julgar pelo seu desempenho no embate pela abertura ou não do processo de impeachment, ontem no Congresso, suas chances de permanecer na Presidência são nulas. Primeiro, a Câmara dos Deputados aprovou o pedido de abertura do julgamento político do presidente por 73 votos a 1. Horas mais tarde, no Senado, o Lugo foi derrotado pelo placar de 42 a 3.
O julgamento começou já no final da tarde ontem, quando uma comissão de cinco deputados apresentou sua acusação, baseada em cinco pontos, dentre os quais a má condução do massacre da semana passada e o uso de um quartel para um ato político. A defesa terá hoje duas horas para expor suas alegações, a partir do meio-dia. Às 16h30, o plenário do Senado realiza uma sessão extraordinária para decidir o destino do presidente, em votação nominal.
Caso o impeachment seja aprovado, assume o vice-presidente Federico Franco, do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), que rompeu com Lugo nos últimos dias, após o massacre.
A provável deposição do presidente ocorre a exatos dez meses da eleição de 21 de abril e representa o fim de um processo de erosão do apoio político a Lugo, que teve em seu ápice com o confronto entre camponeses e policiais que tentavam fazer a reintegração de posse de uma fazenda em Curuguaty, a 400 km de Assunção, que resultou na renúncia do Ministro do Interior, Carlos Filizolla.
O frágil apoio a Lugo erodiu de vez depois que ele nomeou para o cargo o ex-procurador-geral do Estado Rúben Candida Amarilla, ligado ao Partido Colorado, de oposição. Nesta semana, o PLRA anunciou que deixaria a base de apoio de Lugo "Foi um erro terrível, pois desagradou ao PLRA, os movimentos sociais e também a vários setores do Partido Colorado", disse ao Valor o analista Francisco Caplis, da consultoria First, em Assunção. "Há uma semana, ninguém falava em deposição, mas esse episódio encerrou qualquer apoio político que Lugo poderia ter."
Segundo Capli, Lugo já vinha costurando com setores do Partido Colorado uma frente para concorrer à Presidência em 2013, iniciativa que rivais dentro da própria legenda já vinham sabotando.
"O massacre e seus desdobramentos geraram o momento certo para a oposição tentar uma espécie de golpe no país", afirmou Oswaldo Dehon, professor de relações internacionais do Ibmec.
Segundo as fontes, um possível impeachment de Lugo poder ter um desfecho violento. Para Dehon, apesar de desiludidos com Lugo, grande parte dos movimentos sociais devem dar apoio a ele, em caso de impedimento. E, segundo Capli, militantes pró e contra Lugo de várias partes do país se dirigiam a Assunção, para acompanhar o julgamento em frente ao Congresso. "Pode haver enfrentamentos."
As Forças Armadas, por enquanto, se mantêm neutras. Em um comunicado, disseram que "se mantêm dentro de suas funções específicas, estabelecidas por lei".

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