segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Cuba abre espaço para a era pós-Castro

Cuba abre espaço para a era pós-Castro

Passagem de bastão em Cuba
Autor(es): Bernardo Barbosa
O Globo - 25/02/2013
 
Reeleito, Raúl Castro promete espaço para nova geração e garante que sai em 2018

Havana "Revolução é sentido do momento histórico, é mudar tudo o que deve ser mudado." A frase cunhada por Fidel Castro em 1º de maio de 2000 foi usada por seu irmão, Raúl Castro, para encerrar um discurso no qual deixou claro que Cuba será comandada por uma nova geração quando seu segundo e último mandato de cinco anos, para o qual foi reeleito ontem pelo Parlamento local, chegar ao fim em 2018. Diante dos irmãos Castro, Miguel Díaz-Canel, de 52 anos, foi escolhido como primeiro vice-presidente do Conselho de Ministros e desponta como o nome mais forte desta Cuba que, pela primeira vez desde a revolução que instituiu o comunismo na ilha, em 1959, será liderada por nomes que não pegaram em armas - ou mesmo nascidos depois da revolução, como Díaz-Canel.
- Este será o último mandato (...). Esta decisão (a escolha de Díaz-Canel) representa um passo definitivo na configuração da direção futura do país, mediante a transferência paulatina e ordenada dos principais cargos às novas gerações - disse Raúl no Parlamento. - Díaz-Canel não é um forasteiro.
Raúl fez questão de citar ponto a ponto os mais de 30 anos de trajetória do novo primeiro vice-presidente no Partido Comunista de Cuba (PCC). Até ontem, o engenheiro eletrônico Díaz-Canel era um dos cinco vice-presidentes cubanos, posição que assumiu em março de 2012. Antes, em 2009, foi nomeado ministro da Educação Superior. Sua trajetória no PCC teve início em 1993, e em 2003 passou a fazer parte da direção da legenda a convite do próprio Raúl. O novo número 2 do regime cubano também foi o enviado de Havana à aliada Venezuela para a simbólica posse do quarto mandato de Hugo Chávez no dia 10 de janeiro.
"Sociedade menos igualitária, mas mais justa"
Díaz-Canel substitui um dos revolucionários originais e um dos principais nomes do comunismo cubano, José Ramón Machado Ventura, 82 anos, que será agora vice-presidente. Visto com frequência como o braço-direito de Raúl Castro, Machado Ventura é um ideólogo comunista linha-dura que ajudou a fundar o PCC. Segundo o presidente cubano, o ex-primeiro vice-presidente teve a iniciativa de oferecer seu cargo "em favor da promoção da nova geração".
Outra escolha que indica mudanças no castrismo é a de Esteban Lazo, de 68 anos, como presidente da Assembleia Nacional (Parlamento). Lazo é da segunda geração de políticos cubanos e substitui o revolucionário Ricardo Alarcón, de 75 anos, que comandava o Legislativo desde 1993.
Com o discurso de ontem, Raúl Castro reforçou o lado político do processo de reformas em Cuba iniciado por ele em 2008, quando assumiu a Presidência, mas que até agora foi mais dedicado à economia do país, em crise. Entre as principais mudanças, o aumento do número de atividades que podem ser exercidas por autônomos e o anúncio do corte de 500 mil postos do funcionalismo público até 2015 - 250 mil já foram extintos em 2011 e 2012, diz o regime.
- Temos definido pelo Partido o rumo para atualizar o modelo econômico cubano e alcançar uma sociedade socialista próspera e sustentável, uma sociedade menos igualitária, mas mais justa - afirmou Raúl, prometendo mais consultas populares.
Prova de que as reformas citadas por Raúl têm mais a ver com mudanças dentro do PCC e do regime que com uma possível abertura política foi a repressão a atividades de dissidentes ontem. Um protesto organizado pela organização dissidente Damas de Branco, formada por mulheres parentes de ativistas presos, com a presença de quase 60 pessoas, terminou com a maior parte dos presentes detida durante quase todo dia. Segundo Julia Estrella Aramburo, uma das integrantes do grupo, dois estrangeiros, entre eles um brasileiro, também foram presos e liberados - ao GLOBO, o Ministério das Relações Exteriores disse não ter recebido informações sobre o caso. Nomes de peso da oposição cubana, como Guillermo Fariñas e Angel Moya, também passaram o domingo presos. Em seu discurso, Raúl Castro se mostrou mais preocupado com o fortalecimento e a renovação dos quadros do PCC nos próximos cinco anos:
- Devemos agir de maneira previdente, a fim de evitar que se repita a situação de não contar com suficiente reserva de quadros preparados para ocupar os postos superiores do país.
Até agora, além da limitação de mandatos consecutivos em cargos estatais (no máximo dois períodos de cinco anos), a outra medida reformista que até agora teve grande impacto político foi a extinção do chamado "visto de saída", ocorrida no mês passado. Mas o presidente cubano não deixou margem para dúvidas quanto à velocidade de possíveis mudanças:
- Àqueles que dentro ou fora do país, com boas ou más intenções, nos incentivam a ir mais rápido, dizemos que continuaremos sem pressa, mas sem pausa.

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