quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Joaquim Barbosa afirma que Lula tem de ser investigado

Joaquim Barbosa afirma que Lula tem de ser investigado

Presidente do STF diz que Lula tem de ser investigado
Autor(es): Felipe Recondo,Mariãngela Gallucci
O Estado de S. Paulo - 12/12/2012
 

O presidente do STF, Joaquim Barbosa, defendeu que o ex-presidente Lula seja investigado pelo Ministério Público, após as denúncias de Marcos Valério. Barbosa disse que teve acesso ao depoimento: "Tomei conhecimento oficioso, não oficial". Segundo integrantes da Corte, Barbosa e o procurador-geral Roberto Gurgel não quiseram misturar as novas declarações com o processo do mensalão. Gurgel disse que aguardará o fim do julgamento.

O presidente do Supremo Tri­bunal Federal e relator do men­salão, Joaquim Barbosa, defen­deu ontem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja in­vestigado pelo Ministério Pú­blico. Barbosa confirmou que teve acesso às 13 páginas do de­poimento prestado por Mar­cos Valério em setembro à Procuradoria-Geral da República.
No depoimento, cujo conteú­do foi revelado ontem pelo Esta­do, Valério acusou Lula de rece­ber recursos do esquema para pa­gar despesas pessoais e de ter da­do o "ok" para a tomada de em­préstimos bancários fraudulen­tos que constituíram a fachada fi­nanceira que bancou o mensalão (mais informações no quadro ao la­do). A oitiva ocorreu em 24 de se­tembro, em Brasília, dias depois de o empresário mineiro ter sido condenado como o operador do mensalão, esquema de pagamen­to de parlamentares que, segun­do o Supremo, serviu para com­prar apoio político no Congresso entre 2003 e 2005, no primeiro mandato de Lula no Planalto.
Na ocasião, o empresário minei­ro, além de fazer novas revela­ções, afirmou que ainda tinha mais a falar. Queria, em troca, pro­teção e redução da sua pena - ele viria a ser condenado a mais de 40 anos pelo Supremo por sua parti­cipação no mensalão; Valério res­ponde ainda a outros processos, como o do mensalão mineiro, no qual políticos são acusados de des­viar dinheiro público do governo de Minas a fim de abastecer, em 1998, a campanha à reeleição do então governador tucano Eduar­do Azeredo, ex-presidente do PSDB e hoje deputado federal.
Barbosa afirmou que conhe­cia o depoimento de Valério. "Tomei conhecimento oficioso, não oficial", disse. O ministro preferiu não fazer juízo de valor sobre a gravidade das denúncias feitas por Valério, mas disse que o Ministério Público deve abrir uma investigação sobre os fatos. Ao ser perguntado se o ex-presi­dente deveria ser investigado, afirmou: "Creio que sim"
Dias depois de Valério prestar o novo depoimento, a íntegra foi re­metida para o Supremo. Mas Bar­bosa, relator do processo, devol­veu o depoimento para o Ministé­rio Público. De acordo com inte­grantes da Corte, Barbosa e o pro­curador-geral da República, Ro­berto Gurgel, não quiseram mistu­rar as novas declarações com o jul­gamento da ação penal do mensa­lão. Por isso, o depoimento não foi anexado ao processo.
Os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello também de­fenderam uma nova investiga­ção sobre as declarações do em­presário. "Isso aí, se procedente, é muito grave", disse Marco Auré­lio sobre a afirmação de Valério de que dinheiro do mensalão pa­gou despesas pessoais de Lula.
Ambos disseram que even­tuais suspeitas contra o ex-presi­dente não podem ser incluídas no processo que está em fase fi­nal de julgamento pelo STF. Mas as investigações poderiam trami­tar perante a Justiça Federal em um inquérito autônomo ou ain­da poderiam ser incluídas em ou­tros procedimentos já em anda­mento no Judiciário. "Sabemos que o que está aqui (no STF) é um porcentual muito pouco sig­nificativo do que se fez", afir­mou Mendes. Para o ministro, um eventual inquérito para apu­rar suspeitas contra Lula não tra­mitará no STF. "Ele não detém prerrogativa de foro", disse.
Segundo os ministros, o depoi­mento de Valério não afeta o pro­cesso em julgamento no Supre­mo, mas pode influenciar os pro­cedimentos abertos na Justiça Fe­deral, como o que apura suspeitas de irregularidades em emprésti­mos concedidos pelo BMG.
Para os ministros, o fato de Va­lério ter dado a declaração lan­çando suspeitas sobre Lula não garante ao empresário o benefí­cio da delação premiada no julga­mento do mensalão. "Se tivesse feito isso lá no início, quando o inquérito estava tramitando, aí ele poderia ser tido como dela­tor", disse Marco Aurélio. Consi­derado o operador do esquema, Valério foi condenado pelo STF a mais de 40 anos de prisão.
CAMINHO DA ACUSAÇÃO
O Ministério Público pode...
Arquivar o depoimento por en­tender não haver elementos para abrir qualquer investigação
Abrir procedimento interno para fazer uma investigação pré­via sobre as acusações
Depois se houver indícios...
Pedir a abertura de um inquéri­to no Supremo nos casos dos citados com foro privilegiado, como é o caso do senador Hum­berto Costa (PT-PE)
Instaurar inquérito em instân­cias inferiores do Ministério Públi­co para investigar os citados sem foto privilegiado, como é o caso do ex-presidente Lula
Depois, se houver provas...
Denunciar os envolvidos à Justiça a fim de que as acusa­ções sejam julgadas

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