Em cenário de Pibinho, dólar chega às alturas
Sobrou para o dólar |
Autor(es): DECO BANCILLON |
Correio Braziliense - 03/12/2012 |
Economistas acreditam que, diante do fraco desempenho de medidas adotadas para aquecer a atividade, governo recorrerá à política cambial Soou o sinal de alerta na Esplanada dos Ministérios. Com a fraca expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,6% no terceiro trimestre do ano e a constatação de que as medidas de incentivo ao consumo não foram bem-sucedidas, o Palácio do Planalto determinou à equipe econômica que encontre novas soluções para garantir a retomada da atividade. Nesse cenário, já há quem defenda, dentro do governo, que o câmbio será o novo instrumento para estimular o crescimento. Até a última sexta-feira, vigorou a tese de que o governo trabalhava com uma banda informal para a cotação do dólar. O intervalo seria algo entre R$ 2 e R$ 2,10. Sempre que a moeda ultrapassava esse limite, o Banco Central (BC) atuava vendendo dólares para trazer o valor para abaixo desse teto. Essa regra geral foi válida até a divulgação do PIB. Com a equipe econômica ainda juntando os cacos da economia, o mercado viu uma brecha para testar um novo limite de alta da moeda. Sem a ação do BC, a divisa encerrou o pregão no maior patamar desde maio de 2009, cotada a R$ 2,13 (veja ilustração). Para analistas, essa nova marca alimenta a discussão sobre qual o limite para a alta do dólar no país. "Todos estão se perguntando até onde vai essa política mais intervencionista do governo Dilma", dispara o economista-sênior do BES Investimento, Flávio Serrano. "No fundo, é isso o que vai definir o ano de 2013", devolve o economista da Tendências Rafael Bacciotti. Não é preciso muito esforço para enxergar os objetivos do governo com o câmbio desvalorizado. O economista-chefe da Votorantim Wealth Management, Fernando Fix, entrega o jogo. "Dada a fraqueza do setor produtivo brasileiro, que é muito sensível à variação do dólar, a sinalização que temos hoje é de que o governo deverá usar o real mais fraco para dar competitividade à indústria em 2013", diz. Indústria em alerta Tidos como os maiores beneficiados dessa medida, os industriais têm observado com cautela a disparada do câmbio. Ainda que, em tese, um dólar mais forte ajude a indústria, grandes empresas que têm dívidas em moeda estrangeira contabilizam prejuízos devido à disparada da divisa norte-americana. Essa alta de custos já apareceu nos balanços divulgados pelas companhias no segundo e no terceiro trimestres, quando, após uma série de intervenções do BC, o câmbio pulou de R$ 1,72, em fevereiro, para R$ 2,03, em outubro. Como consequência, o endividamento das empresas não financeiras aumentou 3,6% no período, chegando a US$ 103,5 bilhões. Em valores, significou um aumento de US$ 3,6 bilhões no passivo delas. "É evidente que o que está acontecendo no balanço do setor privado se deve, em parte, a essa alta do dólar. E o governo tem que estar atento a isso para evitar o que já aconteceu em 2008, quando problemas com o câmbio levaram a desajustes nos balanços das empresas", alerta Fernando Fix. Ele se refere às operações desastrosas feitas por companhias, entre as quais a própria Votorantim, com derivativos cambiais. Esses instrumentos, em tese, permitem que elas se protejam (hedge) contra fortes variações do câmbio, mas da forma como foram usados resultaram em prejuízos. Até meados de 2008, diversas empresas faziam operações de swap cambial reverso (troca de moeda no mercado futuro) apostando na queda da cotação do dólar. Com o estouro da crise financeira global, em setembro daquele ano, a divisa norte-americana pulou de R$ 1,60 para mais de R$ 2,40, o que levou companhias a terem grandes prejuízos. Analistas dizem que o cenário de 2012 é claramente menos nebuloso que o de 2008. "Mas nem por isso o governo deve baixar a guarda", lembra Fix. Recentemente, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou uma pesquisa que mostrava que uma em cada quatro indústrias está totalmente endividada. Como grande parte desse passivo é feito em dólar, lembra o estrategista-chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno, há um risco real de que a alta da moeda traga prejuízos para essas empresas. Tripé ameaçado A afirmação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que "o câmbio acima de R$ 2 veio para ficar" põe em xeque o respeito a um dos pilares do tripé econômico brasileiro. Ao lado das metas de inflação e do superavit primário, o câmbio flutuante foi uma receita que garantiu ao Brasil viver o mais longo período de estabilidade econômica desde a redemocratização. Dessa forma, há quem questione a eficácia de usar o real desvalorizado como instrumento de política econômica. A principal crítica é quanto à continuidade da medida, uma vez que o dólar alto torna mais cara a aquisição de máquinas e equipamentos do exterior. Somada à falta de confiança na recuperação brasileira, isso pode minar o investimento produtivo, que, após recuar durante cinco trimestres consecutivos, está no mais longo ciclo de baixas desde 1989. |
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