Dilma, Obama e a guerra Brasil-EUA
O duelo comercial entre Dilma e Obama |
Autor(es): » DENISE ROTHENBURG |
Correio Braziliense - 25/09/2012 |
A presidente brasileira ataca hoje, em assembleia na ONU, o"tsunami monetário" norte-americano. Os EUA acusam o Brasil de protecionista Nova York — Dilma Rousseff e Barack Obama terão um rápido encontro hoje na sede das Nações Unidas (ONU), num momento em Brasil e Estados Unidos andam às turras nas relações comerciais. Enquanto os norte-americanos reclamam da decisão do parceiro de aumentar, de forma sistemática, os impostos incidentes sobre importações, os brasileiros não se conformam com a decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central do EUA, de injetar US$ 40 bilhões mensalmente na maior economia do planeta até que o desemprego, que passa dos 8%, recue. Para o governo Dilma, essa medida promove "um tsunami monetário" no mundo, valoriza o real e tira a competitividade dos produtos nacionais no exterior. A líder brasileira vai deixar o seu descontentamento com o Fed no discurso desta manhã. Já os EUA ameaçam recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o que classificam como protecionismo do Brasil. Esse embate, somado à campanha pela reeleição de Obama, serviu para que os dois governos evitassem um encontro bilateral demorado durante a passagem de Dilma por Nova York. A expectativa dos diplomatas brasileiros, entretanto, é a de que os dois presidentes troquem algumas palavras na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, que líder brasileira abrirá às 9h da manhã. Logo depois, será a vez do presidente norte-americano. "Creio que deverá imperar a cortesia no encontro entre os dois, apesar das desavenças na área econômica. Os dois lados têm argumentos de sobra para defender seus pontos de vista", disse um ministro que participa da comitiva brasileira. Ontem, Dilma se reuniu com o presidente da Comissão Europeia (CE), José Manoel Durão Barroso, por uma hora e meia, no Hotel St. Regis, onde ela está hospedada. O tema central da conversa foi a crise que assola a Zona do Euro. "Tive a oportunidade de conversar sobre as medidas adotadas (pelo bloco econômico). A vocês brasileiros, que gostam de futebol, posso dizer o seguinte: a primeira fase do jogo já passou. Estamos na segunda fase. E, contrariamente ao que dizem os apostadores, não perdemos nenhum jogador e ninguém foi expulso e nem estamos perdendo o jogo", disse Durão. Dilma foi mais direta nos queixumes contra os países ricos. Para ela, é importante que as medidas adotadas pela Zona do Euro — o Banco Central Europeu também está pondo caminhões de dinheiro na economia — não prejudiquem o Brasil, um país que se mantém numa situação econômica favorável e, se não for afetado, pode, inclusive, contribuir com soluções para a crise. Ela evitou usar a expressão "tsunami monetário", adotada em uma viagem à Europa no ano passado, mas o sentido continua o mesmo: o governo brasileiro tem ressalvas às medidas que afetam os países emergentes, sobretudo por meio da valorização de suas moedas, que deixam suas exportações mais caras. Recessão As declarações de Barroso coincidem com as de muitos analistas sobre a crise. Há quem diga que, sem as medidas adotadas na Europa e nos Estados Unidos, o crescimento do Produto Interno do Bruto (PIB) do Brasil não chegaria nem aos tímidos 2% previstos pelo governo para este ano. Afinal, há um consenso entre os países de que uma recessão generalizada não interessa a ninguém. A conversa entre Dilma e Barroso começou com o presidente da CE levantando o tema do acordo comercial Brasil-União Europeia (UE), que vem sendo negociado há anos e sem um desfecho à vista por conta da crise na Zona do Euro. Além de acelerar um possível acordo, eles começaram a desenhar uma reunião de cúpula entre o Mercosul e a UE para janeiro de 2013. Encerrada a conversa com Barroso, no inicio da noite, a presidente dispensou ministros e assessores e avisou que sairia para jantar com a filha, Paula, que a acompanha na viagem. Antes, as duas foram assistir uma ópera. Assim, a líder brasileira não participou da recepção no Waldorf Astoria, que teve Barack Obama como anfitrião. Não foi a primeira vez que Dilma dispensou esse convite. No ano passado, ela também não compareceu a esse encontro que ocorre sempre às vésperas da abertura da Assembléia Geral da Nações Unidas. Pelo menos neste caso, a ausência da líder brasileira nada teve a ver com o fato de Brasil e Estados Unidos estarem estremecidos comercialmente. Na avaliação de Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e atual sócio da Barral MJorge Consultores, não há muito com o que se preocupar com a guerra comercial entre Brasil e EUA. "A troca de farpas tem um lado eleitoreiro dos Estados Unidos. Para ele, a lista de 100 produtos que tiveram aumento do Imposto de Importação no país é pequena se comparada com a gama de produtos comprados dos norte-americanos. "Além disso, o Brasil elevou as tarifas até 25% e não ao máximo permitido, é 35%", destacou. Para ele, por ser um tema polêmico, o Obama aproveitará para ganhar mais alguns votos questionando o protecionismo brasileiro. » Segurança no trânsito O ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, juntou-se ontem à comitiva brasileira para cuidar da reunião que a presidente terá sobre uma campanha mundial de segurança no trânsito com o presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Jean Todt. Ribeiro encontrou-se com Todt acompanhado do ex-piloto Emerson Fittipaldi. O Ministério deve investir este ano R$ 73 milhões na redução de acidentes. "O Brasil vai liderar a iniciativa com a FIA. Vamos usar o selo da ONU na campanha", disse Fittipaldi. |
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