Cerca de 1,5 milhão de jovens entre 19 a 24 anos, concentrados
nas faixas mais pobres da população brasileira, não trabalham, não
estudam, nem procuram emprego - e o número de pessoas que se encaixam
nesse perfil cresce. É o que mostra estudo feito por Joana Monteiro,
pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, batizado de
"Os Nem-Nem-Nem: exploração inicial sobre um fenômeno pouco estudado". O
levantamento, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD) de 2011, mostra que o grupo de jovens desalentados (exclui donas
de casa com filhos) já representava 10% da população nessa faixa
etária. Com pouca escolaridade e baixa renda, eles podem elevar o
desemprego se buscarem trabalho após os 24 anos ou serem
permanentemente dependentes do governo.
Cerca de 1,5 milhão de brasileiros entre 19 a 24 anos, concentrados
nas faixas mais pobres da população e excluindo donas de casa e
mulheres com filhos, nem trabalham, nem estudam e nem procuram emprego e
esse perfil tem crescido dentro do total da população jovem do país.
É o que mostra o estudo "Os Nem-Nem-Nem: Exploração Inicial Sobre um
Fenômeno Pouco Estudado", da pesquisadora do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Joana Monteiro. Para a
especialista, o avanço desse perfil preocupa. A maioria desses jovens,
com parcela significativa de baixa escolarização, podem ajudar a elevar
o desemprego, caso decidam tentar a sorte no mercado de trabalho, após
os 24 anos. "A baixa qualificação limita muito o tipo de trabalho que
podem conseguir."
Além disso, o fato de pertencerem a famílias mais pobres, com pouca
capacidade de sustentá-los, eleva a probabilidade de se tornarem
dependentes do governo, avalia a especialista. Do total de 1,5 milhão,
em torno de 46% podem ser considerados pobres, pois vivem em domicílios
que estão entre os 40% mais pobres na distribuição de renda, segundo
cálculos de Joana.
O recorte por faixa etária a partir de 19 anos é proposital, visto
ser difícil encontrar jovens abaixo de 18 anos fora da escola, tendo em
vista o avanço da escolaridade entre os brasileiros na última década,
bem como a legislação envolvida em manter os jovens na escola, até essa
idade.
O recorte por faixa etária a partir de 19 anos é proposital, visto
ser difícil encontrar jovens abaixo de 18 anos fora da escola, tendo em
vista o avanço da escolaridade entre os brasileiros na última década,
bem como a legislação envolvida em manter os jovens na escola, até essa
idade.
O levantamento, que trabalhou basicamente dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que, esses jovens
desalentados, excluindo donas de casa e mulheres com filhos, já
representavam 10% da população total de jovens nessa faixa etária em
2011 - um avanço em relação a 2006, quando a fatia era de 8%. "Nem
mesmo a melhora nos indicadores de emprego, com aumento de vagas e de
renda, estimulou a entrada desse jovem no mercado de trabalho", diz a
pesquisadora da FGV.
O nome da pesquisa vem daqueles que "nem trabalham, nem estudam, nem
procuram emprego", explicou Joana, usando expressão "nem-nem" que já
vem sendo utilizada por economistas para delimitar jovens que não
trabalham nem estudam.
Excluir donas de casa e mulheres com filhos, que também não
trabalham, não estudam e nem procuram emprego, torna mais claro o
possível impacto desse cenário no mercado de trabalho futuro, afirma
Joana. A economista informou que, com a inclusão de donas de casa com
filhos, essa fatia de "nem-nem-nem" na população entre 19 e 24 anos
pularia para 17% dessa faixa etária - em torno de quatro milhões de
pessoas.
No entanto, Joana observou que há probabilidade menor de que
mulheres donas de casa com filhos, que não procuram vagas, conduzirem a
um impacto negativo no emprego. Isso porque é relativamente baixa a
perspectiva de que essa mulher vá procurar trabalho, em futuro próximo,
porque já cuida da casa e dos filhos.
O mesmo não se pode dizer dos jovens desalentados sem filhos. Desses
1,5 milhão de jovens, 20% tinham menos de cinco anos de escolaridade -
a maior fatia entre as faixas de estudo delimitadas. Ela considerou
que, em um segundo momento, esses jovens podem se converter em adultos
em busca de uma vaga. Mas a baixa qualificação tornaria difícil um
lugar na população ocupada. Na prática, seriam mais pessoas em busca de
trabalho, sem encontrar, impulsionando indicadores de desocupação.
Outro aspecto estudado por Joana é o ambiente domiciliar que permite
esse jovem não trabalhar, não estudar e não procurar emprego. Ela
admitiu que jovens de baixa escolaridade têm chance muito maior de
serem inativos, quando estão em domicílios cuja renda conta com forte
presença de benefícios sociais, como programas de transferência de
renda. Mas essa não pode ser considerada a única explicação, frisou.
"Impossível dizer se recebimento de benefícios sociais é causa ou
consequência da inatividade", afirmou.
Para ela, o fenômeno não é puramente econômico. A figura protetora
da mãe brasileira, disposta a sustentar os filhos até mais tarde,
ajudaria na formação do cenário, segundo Joana. "Incentivar a entrada
dos "nem-nem-nem" na população economicamente ativa está longe de ser
trabalho fácil. O grupo não responde às condições do mercado de
trabalho. É possível que essa parcela entre 8% e 10% [sem donas de casa e
mulheres com filhos] seja um nível normal de inatividade", disse.