Para EUA e Reino Unido, Damasco pode ter
destruído provas do uso de armas químicas
Forças Armadas. Soldados do Exército sírio patrulha bairro em Damasco:
governo de Bashar a-Assad culpa os rebeldes pelo uso de armas químicas,
na quarta-feira
Alquimia. Ativistas fabricam máscaras químicas num subúrbio de Zamalka,
em Damasco
Washington e Moscou
A oferta da Síria de permitir que especialistas da ONU vistoriassem
bairros onde supostos ataques com armas químicas ocorreram na
quarta-feira foi recebida com desconfiança pelos Estados Unidos e pelo
Reino Unido, que já discutem abertamente uma intervenção militar. Horas
após o sinal verde de Damasco, os dois países afirmaram que o governo de
Bashar al-Assad pode ter apagado evidências.
"Tarde demais para ter credibilidade", afirmou o governo americano,
fazendo crescer os temores de uma intervenção militar na Síria sem a
autorização das Nações Unidas. Para Washington "há pouca dúvida" de que
Assad usou armas químicas contra rebeldes. A oposição do país afirma que
o governo vem bombardeando os locais onde, de acordo com eles, o regime
usou armas químicas num massacre de até 1.300 pessoas.
- O fato é que muita evidência foi destruída por bombardeios de
artilharia - disse o chanceler britânico William Hague.
O ministro da Informação da Síria, Omran al-Zoubi, rebateu afirmando que
o país tem "provas incontroversas de que os terroristas usaram armas
químicas", referindo-se aos rebeldes. Ele disse ainda que uma
intervenção americana causaria um "turbilhão de fogo" e garantiu aos
americanos que a ação militar não seria um "piquenique".
Nos últimos dias, os planos de intervenção começaram a ser oficialmente
discutidos. Obama analisou opções com seus assessores, conversou com o
primeiro-ministro britânico, David Cameron, e, ontem, ligou para o
presidente francês, François Hollande. A França, na semana passada,
também já tinha defendido o uso da força na Síria. Uma ligação de Obama
para a chanceler alemã, Angela Merkel, foi agendada. A Alemanha também
afirma que há poucas dúvidas de que o governo matou civis com armas
químicas.
Hoje, generais do Reino Unido, França, Qatar, EUA e outros países
favoráveis a troca de regime na Síria se reúnem para discutir o tema.
Também começam os trabalhos da equipe da ONU para avaliar se houve uso
de armas químicas.
Especialistas nesse tipo de armamento afirmam que é possível detectar
contaminação em pessoas anos após um ataque. A ONU afirmou que Assad
concordou com um cessar-fogo enquanto durar a inspeção liderada pela
alemã Angela Kane, a alta representante de temas de desarmamento das
Nações Unidas. Em Damasco, no sábado, três hospitais registraram 355
mortes com sintomas neurotóxicos.
A Rússia disse que qualquer ação unilateral na Síria seria um erro de
"consequências catastróficas" para a região e solicitou respeito à
investigação da ONU. O país pediu que Washington não cometa os "erros do
passado", mencionando que a invasão ao Iraque foi justificada pela
presença de armas químicas nunca encontradas.
- Todos os patrocinadores da oposição, que têm influência sobre ela,
devem buscar um acordo o mais rápido possível para que os opositores de
Bashar al-Assad iniciem as conversas - disse Alexander Lukashevich, o
porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, em referência a uma
possível reunião de paz em outubro, sob liderança de Rússia e EUA.
AMERICANOS SÃO CONTRA INTERVENÇÃO
Moscou argumentou, ainda, que Assad não tem interesse em usar armas
químicas, justamente por temer uma intervenção que favorecesse aos
rebeldes, a quem é superior militarmente.
O Irã, que, como a Rússia, reconhece o uso armas químicas e suspeita que
os rebeldes as utilizaram, disse que Washington não deveria cruzar a
"linha vermelha" e atacar a Síria.
- Cruzar a linha vermelha da Síria terá consequências severas para a
Casa Branca - disse Massoud Jazayeri, vice-chefe de Estado Maior do Irã.
O senador democrata Jack Reed pediu cautela e disse que os EUA não
deveriam intervir unilateralmente. Bob Corker, um republicano da
comissão de relações exteriores do Senado, afirmou que discutiu a
intervenção com o governo na semana passada. Ele acredita que Obama
pedirá autorização ao Congresso, em recesso até o dia 9 de setembro,
para agir na Síria.
- Espero que, assim que voltarmos para Washington, o presidente peça
autorização ao Congresso para fazer algo bem cirúrgico e de forma
proporcional.
Um ataque, porém, pode prejudicar a imagem interna de Obama, já que 60%
dos americanos são contra uma intervenção na Síria, de acordo com uma
pesquisa Reuters/Ipsos.
Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, advertiu que qualquer
ataque sírio contra o país seria revidado. O presidente Shimon Perez
defendeu que as armas químicas sejam "tiradas" da Síria.
No ano passado, Rússia e China vetaram três tentativas de Londres e
Washington de aprovar punições a Assad no Conselho de Segurança da ONU,
como sanções econômicas e intervenção militar. Após a terceira derrota,
em junho, o presidente americano, Barack Obama, definiu, dois meses
depois, que o uso de armas químicas por Assad representava uma "linha
vermelha" que, se ultrapassada, teria resposta americana. |
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