200 mil fogem com medo de Al-Assad
Na linha de fogo |
Autor(es): RODRIGO CRAVEIRO |
Correio Braziliense - 30/07/2012 |
ONU revela que 200 mil já fugiram de Aleppo e teme por moradores. Ex-amigo diz ao Correio que Al-Assad é megalomaníaco Pelo menos 200 mil dos 2,5 milhões de moradores de Aleppo não resistiram à incursão das tropas de Bashar Al-Assad e às rajadas de metralhadoras disparadas pelos helicópteros. Nos últimos dois dias, por temerem um massacre sem precedentes, eles fugiram da capital econômica da Síria levando apenas o essencial. No que depender da obstinação dos rebeldes do Exército Sírio Livre, uma guerra aberta ainda está a caminho. "Aleppo será o túmulo dos tanques" das tropas do regime de Bashar Al-Assad, declarou à agência France-Presse o coronel sunita Abdel Jabbar Al-Oqaidi, líder militar dos rebeldes na cidade. "Nós pedimos ao Ocidente apenas uma zona de exclusão aérea. (...) Estamos prontos para derrubar o regime", acrescentou. Muitos civis que não arriscaram o êxodo agora se veem na linha de fogo. "Não sabemos quantas pessoas permanecem presas em locais onde os combates prosseguem", afirmou Valerie Amos, chefe do serviço humanitário da Organização das Nações Unidas (ONU). O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta, enviou um recado a Damasco: "Se continuarem com esse tipo de ataque trágico contra seu próprio povo em Aleppo, penso que, no fim das contas, isso representará um prego no caixão de Al-Assad". Por sua vez, o chefe da Liga Árabe, Nabil Elaraby, culpou Al-Assad de cometer crimes de guerra na cidade. No bairro de Seif Aldawlah (oeste), a segunda-feira começou ao som de explosões. "Estou escutando o barulho de morteiros caindo sobre vários bairros, além do meu, como em Salaheddine, Zebdiyah e Mash-dad", relatou ao Correio um morador identificado pelo nome fictício de Omar, 31 anos, por volta das 0h30 de hoje (18h30 de ontem em Brasília). Apesar de se sentir retido em meio ao fogo cruzado, ele afirma que não pretende abandonar Aleppo. Também diz não ter medo da morte. "Eu não temo. Esta é nossa liberdade, nós faremos qualquer coisa para obtê-la", prometeu. "Assim como muitos de meus vizinhos, não tenho para onde ir. No bairro de Sikkari, cerca de 80% da população já fugiu da cidade", comentou, por meio da internet. Omar reclama que as condições em Aleppo se aproximam às de um desastre humanitário. Segundo ele, antes de o Exército de Al-Assad começar a megaofensiva, no sábado, muitos sírios se dirigiram à cidade, provenientes de Homs, Hama, Damasco e Latakia. "Nós estamos tentando utilizar as escolas para comportar o grande número de desabrigados, mas não existem locais seguros para isso", explicou. Ele afirma que os preços dos alimentos e da água dobraram nas últimas duas semanas. "Eu tenho aproveitado para fazer compras quando os bombardeios cessam. No entanto, tudo está muito caro", emendou. A organização não governamental Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) anunciou que 60 pessoas foram mortas ontem no país, 24 delas seriam civis indefesos. No sábado, a violência custou a vida de 168 sírios — 94 moradores, 33 rebeldes e 41 soldados. O coronel Al-Oqaidi apelou por ajuda aos países ocidentais. "Acreditamos que eles podem cometer um massacre enorme, e pedimos à comunidade internacional que intervenha para evitar esses crimes", declarou o rebelde, após participar de um encontro com insurgentes em um esconderijo situado a alguns quilômetros de Aleppo. O Conselho Nacional Sírio (CNS), principal grupo da oposição, conclamou à ONU que realize uma reunião "urgente" do Conselho de Segurança. "Recai sobre a ONU o dever de fornecer proteção contra atos de genocídio e de deslocamento forçado de civis desarmados", afirmou a entidade, por meio de um comunicado à imprensa. No texto, a facção alerta que "o regime sírio se prepara para cometer massacres" em Aleppo e exorta "aos países amigos do povo sírio a imporem uma zona de exclusão aérea e a instalarem de áreas seguras para 2 milhões de deslocados". Irã Enquanto os rebeldes do ESL seguiam entrincheirados em vários bairros de Aleppo, o chanceler sírio, Walid Mouallem, visitava ontem Teerã e obtinha o apoio explícito na luta contra a revolução armada. O ministro de Al-Assad jurou aniquilar os opositores. "Hoje, eu digo a vocês, a Síria está mais forte. Em menos de uma semana, eles foram massacrados e o campo de batalha (em Damasco) foi transferido para Aleppo. E eu posso assegurar a vocês, os planos deles falharão", disse. O colega iraniano, Ali Akbar Salehi, frisou que qualquer ideia de transição de governo na Síria é "uma ilusão". "Pensar, inocente e erroneamente que, no caso de um vácuo de poder e de uma transição de poder na Síria, outro governo simplesmente ocupará o lugar, é simplesmente sonhar", comentou o chanceler de Teerã. Análise da notícia Enquanto o Exército Sírio Livre e as forças de Bashar Al-Assad travam combates em Aleppo, outra guerra ocorre na internet — a da contrapropaganda. Bem organizados, com atualização de notícias por meio do microblog Twitter e páginas no site Facebook, os insurgentes divulgam vídeos do front e transmitem a ideia de que mantêm o domínio sobre a capital econômica da Síria. Os simpatizantes do regime disseminam a noção de que o ESL recebe apoio de jihadistas, guerrilheiros da rede Al-Qaeda e de facções extremistas. A tevê estatal e a agência de notícias oficial corroboram com a versão de que o governo trabalha para "esmagar" os terroristas. Não é o que os vídeos lançados no YouTube pelos rebeldes mostram. Verdadeiras ou não, as imagens de execuções de civis ultrajam a comunidade internacional e servem de pretexto para ampliar a fileira de revoltosos. O difícil é separar a realidade da ficção, em um confronto marcado pela censura. (RC) "Aleppo será o túmulo dos tanques. (...) Estamos prontos para derrubar o regime" Coronel Abdel Jabbar Al-Oqaidi, chefe militar do Exército Sírio Livre (ESL) |
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