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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

LUTA CONTRA A AIDS - GOVERNO DARÁ MEDICAMENTO A TODOS COM HIV

LUTA CONTRA A AIDS - GOVERNO DARÁ MEDICAMENTO A TODOS COM HIV

AIDS: GOVERNO LIBERA ACESSO A MEDICAMENTOS
Autor(es): Flávia Milhorance Erica Magni
O Globo - 02/12/2013
 
Programa estende antirretrovirais a todos os portadores de HIV e vai reforçar detecção precoce da doença

O Brasil será o primeiro país do hemisfério sul a adotar uma proposta mais avançada de tratamento da Aids. Para marcar o Dia Mundial de Combate à doença, o Ministério da Saúde informou ontem que vai estender o uso de antirretrovirais a todas as pessoas com HIVJ além de intensificar a realização de testes de infecção, oferecer um remédio 3 em 1 e iniciar um estudo para uma espécie de vacina. As medidas já são adotadas por países como Estados Unidos e Bélgica e, se de fato forem postas em prática, deixarão os brasileiros mais perto do controle da epidemia da doença.
O antigo protocolo de tratamento do Sistema Único de Saúde (SUS) não previa o uso de medicamentos no momento em que a pessoa contraía o vírus. Considerava que, embora um indivíduo estivesse infectado, os sintomas da Aids não se manifestariam de imediato. Assim sendo, os remédios só eram disponibilizados para o paciente que atingia uma taxa de 500 CD4 (as células de defesa do organismo) por milímetro cúbico de sangue, como ainda recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS).
A portaria publicada hoje no Diário Oficial determina, no entanto, que todos os adultos com HIV positivo recebam o tratamento, que, segundo o governo, estará disponível nos serviços de atendimento especializado e também nas Unidades de Pronto Atendimento.
— A partir de agora, assim que a pessoa for diagnosticada com o vírus, ela receberá o tratamento imediato na rede pública — disse, ontem, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante o anúncio do novo protocolo no Rio.
— Isto lembra o papel que o Brasil teve nos anos 1990, sendo o primeiro do Sul a adotar o acesso ao tratamento livre e gratuito, num momento de forte resistência internacional — disse o médico Luiz Loures, secretário-geral assistente da ONU e vice-diretor geral do Programa de Aids das Nações Unidas (Unaids). — Na época, assumimos um papel de liderança mundial, e é por este caminho que estamos indo novamente
Ontem, a presidente Dilma Rousseff publicou no Twitter uma série de mensagens sobre a Aids. Num deles, afirmou que o governo está lançando
uma "campanha para disseminar os testes gratuitos e rápidos sobre a presença do HIV" Isto será feito por meio de um caminhão que funcionará como uma unidade de testagem móvel. O Rio de laneiro será o primeiro estado a usar o veículo, que deverá realizar 1.700 testes por mês.
— Quem mais transmite o vírus não sabe que está infectado. Por isso, testar e diagnosticar é uma medida importante para diminuir a taxa de infecção. Isto que eles chamam de testagem móvel é um teste simples e rápido, cujo resultado sai em 20 minutos e é altamente confiável — explicou o médico e professor da UFRI, Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da universidade.
Cerca de 150 mil desconhecem infecção
Estimativas indicam que, atualmente, cerca de 700 mil pessoas podem estar infectadas com o HIV, sendo que cerca de 150 mil delas desconhecem esta situação. Estudos demonstram que o uso precoce de antirretrovirais reduz em 96% a taxa de transmissão do vírus. Tanuri, no entanto, questiona se o SUS suportará o aumento da demanda:
— Serão 150 mil novos pacientes, e tem a questão da sobrecarga do SUS. Outra preocupação é o
aumento do número de exames complementares para viabilizar a terapia. E o último ponto é a resistência do vírus ao antirretroviral, porque imagina um paciente infectado, mas sem sentir nada, ter que aderir ao tratamento. Se ele desistir, há a possibilidade de aumento da resistência, então o governo tem que trabalhar nisso.
Conhecido como 3 em 1, o medicamento oferecido pelo governo reúne em sua fórmula três remédios diferentes já ofertados separadamente no país. A vantagem é reduzir o número de comprimidos tomados diariamente e, até, incentivar a continuação do tratamento.
O gasto médio anual por indivíduo soropositivo gira em tomo de US$ 3 mil. O aumento do número de pacientes ficaria por volta de US$ 450 mil (cerca de R$ 1 bilhão). O investimento federal no combate à epidemia de Aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis foi de R$ 1,2 bilhão em 2013. O novo protocolo representará um aumento de 6% no investimento em prevenções antivírus HIV.
—- Antecipar o tratamento não representa impacto no orçamento, pois economizamos em diagnóstico e remédios, já que passamos a fabricá-los no Brasil — defende o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, Fábio Mesquita.

terça-feira, 5 de março de 2013

Cura da Aids em bebê divide os cientistas

Cura da Aids em bebê divide os cientistas

Cura do HIV em criança exige cautela
Correio Braziliense - 05/03/2013
 

O anúncio de que o vírus HIV sumiu após o tratamento feito numa criança dos EUA foi recebido com cautela pelos médicos. Para alguns especialistas, a técnica tem riscos e não seria alternativa de combate à doença.

Para a OMS e especialistas, o caso de um bebê que teve o vírus da Aids controlado mesmo depois de o tratamento ser suspenso requer mais estudos. A técnica não pode ser considerada uma alternativa de combate à doença, pois seria muito arriscada Bruna Sensêve
O caso do primeiro bebê a obter a cura da infecção pelo vírus da Aids, anunciado durante a 20ª Conferência Anual sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), nos Estados Unidos, movimenta a comunidade científica mundial. A criança adquiriu o HIV da mãe, soropositiva, durante o parto, mas, depois de uma intensa e precoce terapia com antirretrovirais, deixou de apresentar níveis detectáveis do micro-organismo, mesmo com a suspensão da medicação. O caso — apresentado pela equipe da infectologista Deborah Persaud, do Hospital Universitário Johns Hopkins, em Baltimore — foi comemorado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas a entidade, assim como especialistas da área, pediu ontem muita cautela sobre o episódio, já que a descoberta ainda precisa de confirmações.

Antecipado no fim de semana pelo jornal The New York Times, o caso foi apresentado à comunidade médica na manhã de ontem. O coordenador do Laboratório de Pesquisa em Infectologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Carlos Brites, acompanhou o evento e detalhou ao Correio o relato feito pelos autores do trabalho. Segundo ele, os pesquisadores contaram que a mãe só foi diagnosticada como portadora do HIV ao chegar, já em trabalho de parto, a um hospital no estado americano de Mississipi . Todos os protocolos para diminuir as chances de transmissão do vírus à criança foram realizados, mas não foi possível impedir a infecção. Logo nas primeiras 24 horas, um exame detectou a presença do HIV, e o bebê passou a receber antirretrovirais 30 horas após o nascimento (veja ao lado).

Uma bateria de 16 testes foi feita na criança durante o primeiro mês de vida. Todos os exames confirmaram a infecção e registraram a multiplicação do HIV. “O vírus foi detectado em vários momentos, mostrando que ele tinha adquirido a infecção, e que não se tratava de um erro de laboratório ou algo do tipo”, contou Brites. A confirmação feita pela equipe refuta muitas indagações levantadas por especialistas da área após a primeira divulgação, no domingo. A principal dúvida antes da apresentação de ontem era se o bebê estava realmente contaminado.

O questionamento fazia sentido. Na transmissão vertical, essa confirmação ocorre, geralmente, seis meses após o nascimento. Isso porque os anticorpos da mãe e do bebê se misturam, ficando difícil identificar se as células que combatem o vírus observadas nos testes são, de fato, produzidas pela criança para combater a infecção ou se têm origem materna (nesse caso, o filho só herda as células de defesa, e não o HIV). “Ficou claro que esse tipo de erro não é uma possibilidade. Foi uma sequência grande de testes muito sofisticados que confirmou a infecção”, atestou o especialista brasileiro.

O que o caso tem de inédito é o fato de o paciente ter continuado com uma presença reduzidíssima do HIV no organismo meses depois de a medicação ter sido suspensa. Até a criança deixar de tomar os remédios, a equipe do Johns Hopkins realizou o procedimento considerado padrão nesses casos, mantendo o tratamento constantemente. Contudo, quando o bebê estava com 1 ano e 6 meses, a mãe parou de levá-lo ao hospital, interrompendo a terapia.

Cinco meses mais tarde, ela voltou. A expectativa dos médicos era observar elevados níveis de vírus no sangue. Surpreendentemente, os exames não confirmaram o quadro de piora. A equipe observou que o HIV não estava mais presente no sangue da criança e que algumas poucas células, só detectadas com tecnologia avançada, não se replicavam, mesmo na ausência do tratamento. “Provavelmente, a introdução precoce da terapia evitou que a infecção se instalasse definitivamente. É um caso que se junta ao do paciente de Berlim”, acrescentou Brites.

Funcional
O coordenador do Comitê de Retrovirose da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor de imunologia clínica e alergia da Universidade de São Paulo (USP), Esper Kallás, explica que a cura do bebê é chamada de funcional, pois o vírus, apesar de controlado, ainda está presente no corpo da criança. Assim, não é possível saber se o vírus pode voltar a se manifestar.

Os níveis não detectáveis de HIV encontrados no bebê são comuns em pacientes que estão sob terapia antirretroviral, mas não se mantêm quando a medicação é retirada. Uma vez iniciado, o tratamento é para a vida toda. “Se for retirado de uma pessoa que toma o coquetel hoje, em uns 15 dias o vírus volta a ser detectado no sangue. O acaso de a mãe suspender o tratamento por conta própria proporcionou essa observação”, observa Kallás.

O professor lembra ainda que uma parcela muito pequena (menos de 1%) de adultos soropositivos apresenta quadros semelhantes. “Espontaneamente, eles parecem controlar o vírus, mas infelizmente são muito poucos. O que faz com que eles controlem, a gente não sabe.” A própria natureza do experimento não é passível de replicação, pois a interrupção do tratamento em um recém-nascido pode piorar o estado de infecção. “É antiético propor um estudo desses. A mãe, nesse caso, suspendeu porque quis, colocando em risco a saúde da criança”, pondera.

Para o infectologista Alberto Chebabo, do Laboratório Exame e do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), se os resultados anunciados realmente forem verdadeiros, o estudo é uma confirmação do que já era imaginado pela comunidade médica. Chebabo explica que, atualmente, é possível reduzir a carga viral a níveis não detectáveis no sangue, mas o vírus permanece presente no organismo em locais denominados de reservatórios ou santuários. Ali, estão células infectadas do sistema imunológico que não passam na corrente sanguínea. Estão no cérebro, no intestino ou outras áreas que a droga não consegue atuar adequadamente.

“O que pode ter acontecido é que não houve tempo de o vírus evoluir para esses santuários”, analisa. “O resultado pode confirmar a teoria de que, se conseguirmos eliminar esses reservatórios, conseguiríamos a cura. Porém, é só o primeiro passo.”

Transplante

O americano Timothy Brown é considerado o primeiro caso de cura do HIV. O método usado ficou conhecido como cura por esterilização. Ele tomava o coquetel contra o HIV quando foi diagnosticado com leucemia. Brown passou por uma agressiva quimioterapia que destruiu sua medula e precisou receber um transplante com células-tronco. Seu doador possuía uma mutação genética que o tornava naturalmente resistente à infecção pelo HIV. Depois da cirurgia, realizada em Berlim, o vírus não voltou a se replicar no organismo do americano.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

CIÊNCIA MAIS PERTO DA VACINA CONTRA A AIDS

CIÊNCIA MAIS PERTO DA VACINA CONTRA A AIDS

NOVA ESTRATÉGIA CONTRA O HIV
Correio Braziliense - 01/10/2012
 
Pesquisa feita em parceria com brasileiros aponta caminho promissor no combate à Aids. Cobaias se tornaram resistentes à versão da doença que afeta macacos ao receber composto que estimula a produção de células de defesa
Roberta Machado
O sucesso de um estudo internacional realizado em parceria com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) pode apontar novos caminhos para a produção de uma vacina contra o HIV. A pesquisa, divulgada ontem pelo site da revista científica Nature, se inspirou nas pessoas que têm uma resistência natural à Aids e fez com que cobaias se tornassem resistentes à ação do SIV, vírus que causa nos macacos uma doença muito semelhante à síndrome que afeta os humanos.
Quando o vírus da Aids infecta um organismo, ele precisa entrar no DNA dos linfócitos para se reproduzir. Depois de se multiplicar lá dentro, ele rompe a estrutura e busca outras dessas células de defesa do corpo para invadir e destruir. O processo prejudica a imunidade do paciente e o deixa suscetível a uma série de doenças. No entanto, algumas pessoas produzem uma versão particularmente eficiente de uma célula de defesa chamada T CD8. Ela identifica os linfócitos invadidos pelo vírus e os destrói, impedindo que o HIV se liberte e se espalhe pelo sangue.
Para comprovar a eficiência dessa célula, os pesquisadores deram a macacos rhesus um composto que induziu a produção dessas células de defesa especiais. As cobaias receberam uma vacina de febre amarela alterada com três fragmentos do vírus que causam a multiplicação das T CD8. Depois, os animais foram infectados com o vírus da imunodeficiência símia, o SIV. Graças às células de defesa geradas pela vacina, o vírus não se multiplicou no organismo dos macacos, que se mantiveram saudáveis apesar da infecção.
"A produção de células T CD8 foi aumentada mediante o uso dos compostos, o que resultou em maior controle da carga viral do SIV", resume Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório Molecular de Flavivírus, do IOC/Fiocruz. Nos macacos vacinados, o vírus foi encontrado em uma concentração até mil vezes menor do que nas cobaias que não receberam o composto e também foram infectadas. "Nosso trabalho mostra claramente que somente esse tipo de resposta das células T CD8 poderia ser suficiente para o controle do vírus, impedindo a progressão da doença", assegura a pesquisadora, que participou do estudo.
Controle
Um segundo grupo de macacos usados no experimento também recebeu uma vacina com antígenos do SIV, mas esse composto não tinha os fragmentos específicos do vírus que estimulam as células protetoras. Sem o aumento das T CD8, essas cobaias não foram capazes de controlar a doença. "Descobrirmos na primeira fase do experimento que há três pequenos reagentes do vírus que são alvos para essas células. Agora, estamos tentando descobrir qual deles é mais importante. Assim que soubermos isso, poderemos usar essa informação para desenvolver uma vacina maior", esclarece o principal autor do estudo, David Watkins, da Universidade de Miami.
Como nem todas as pessoas têm o genótipo ideal para a produção da célula T CD8, o objetivo do pesquisador é entender que tipo de armas ela usa para interromper a replicação do vírus e, assim, tentar usá-la isoladamente para todos os tipos genéticos. Outro problema é que a abordagem desse experimento evita os sintomas da doença, mas não a infecção. "Com o tipo de vacina que estamos fazendo, as pessoas seriam infectadas, mas controlariam o vírus. Talvez possamos usar isso para fazer outra vacina, que libere os anticorpos e tenha resultados melhores", estima Watkins. "Temos de ser muito cuidadosos em dizer que estamos perto de uma vacina para o HIV, mas esses resultados podem ajudar projetos melhores", salienta.
As células T CD8 existem no corpo de todas as pessoas, mas a maioria não conta com versões fortes o bastante, ou em quantidade suficiente, para frear o HIV. "Normalmente, quando se contrai o vírus, a imunidade vai caindo devagar e, em um dado momento, a pessoa sofre com doenças que vêm com a baixa imunidade, como a toxoplasmose", ensina Simone Tenore, infectologista do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo, que não participou da pesquisa.
Apenas uma em cada 300 pessoas infectadas pelo vírus consegue produzir a célula ideal e não tem o sistema imunológico afetado pela Aids. Diferentemente dos soropositivos comuns, indivíduos assim, chamados de "controladores de elite", passam anos convivendo em harmonia com o vírus. O experimento da Fiocruz conseguiu transformar as cobaias em animais com essa mesma capacidade. "Também acredito que a chave para o combate ao HIV está mesmo no sistema imunológico e não no vírus. Vemos há muito tempo que o vírus é capaz de criar resistência ao medicamento rapidamente, por isso acho que combatê-lo diretamente não é mais eficaz", compara a especialista.