segunda-feira, 6 de maio de 2013

BC pode 'intensificar' uso de juros contra inflação

BC pode 'intensificar' uso de juros contra inflação

Banco Central pode ‘intensificar’ uso dos juros contra a inflação, diz diretor
Autor(es): Gélia Froufe Eduardo Gucolo / Ricardo Leopoldo
O Estado de S. Paulo - 26/04/2013
 

O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, surpreendeu o mercado ao dizer que o BC pode "intensificar o uso" da taxa Selic contra a inflação. Para analistas, a frase indica que os juros podem subir em um ritmo mais intenso, de 0,5 ponto porcentual ao mês.


Com uma frase, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton, provocou uma reviravolta no mercado financeiro ontem. Ele mudou a interpretação que os analistas haviam dado para o rumo da taxa básica de juros após lerem os 75 pará­grafos da ata do Comitê de Po­lítica Monetária (Copom), di­vulgada mais cedo. A ata ser­ve como referência dos pla­nos do BC.
“Gostaria de registrar que cresce em mim a convicção de que o Copom poderá ser insta­do a refletir sobre a possibilida­de de intensificar o uso do ins­trumento de política monetá­ria”, afirmou Hamilton, duran­te evento do banco Itaú BBA.
A frase que arrematou o dis curso de Hamilton surpieen deu. Para a maioria dos analis­tas, a ata havia indicado que o ritmo de alta continuaria a ser de 0,25 ponto porcentual a cada reunião, para chegar, no máxi­mo, a 8,25% ao ano. Na semana passada, o Copom aumentou a Selic de 7,25% para 7,5% ao ano.
A interpretação de agentes fi­nanceiros depois da fala foi a de que os juros poderiam subir mais, no ritmo de o,5ponto por­centual ao mês, ou por mais tempo. As taxas no mercado de juros futuros, que estavam em queda até aquele momento, pas­saram a subir. A dúvida era se Hamilton falava por si ou pelo BC, Uma fonte do governo dis­se que o discurso não foi mani­festação isolada.
Sem o uso de meias palavras, como costumam se pronunciar os membros do Copom, o dire­tor afirmou que a inflação está elevada, disseminada e resisten­te. Negou, porém, que a alta dos preços vá ficar fora do controle. Até porque, disse, o BC usa a Selic para combater a inflação.
“O Banco Central dispõe - e está fazendo uso - do instru­mento de política (a taxa de ju­ros), que, por excelência, se des­tina a combater a inflação, e o faz com eficácia”, apontou.
Segundo ele, a situação não é simples e o Copom não fará “escolhas erradas” ao decidir que  problema enfrentar. “A escolha do comitê é o combate à inflação.” Sobre o crescimento, afir­mou que a previsão de 3,1% feita pelo BC está próxima do limite sustentável. Para ele, algo muito acima disso tende a gerar pres­sões inflacionárias. "E por que o crescimento potencial não seria muito diferente de 3,1%? Minha resposta, decerto, está entre as menos sofisticadas: essencialmente, porque nossa taxa de in­vestimento é baixa.” A contribuição da política monetária para que um país tenha taxas de expansão mais eleva­das no médio e longo prazos é, conforme o diretor, a garantia de estabilidade dos preços. “E a meu ver existe só, e somente só, esse caminho.” Um dos direto­res que votaram pelo aumento dos juros na semana passada, Hamilton também argumen­tou que o controle da inflação não é uma panaceia, mas condi­ção necessária, principalmente para países com histórico infla­cionário como o Brasil, que vi­veu uma hiperinflação no início  da década de 1990.
Hamilton afirmou que o IPCA ultrapassou o limite de 6,5%, definido pelo governo, an­tes do que indicavam as proje­ções do BC. Ao explicar os moti­vos para a alta da inflação, citou cinco fatores, quatro relaciona­dos a ações recentes do gover­no: depreciação do real, salário mínimo e políticas fiscal e mo­netária expansionistas. O dire­tor listou ainda os choques nos preços dos alimentos.
Ele afirmou ainda que o pior da crise externa passou e a ten­dência é que o crescimento glo­bal provoque alta nas cotações das commodities.
“Cresce em mim a convicção de que o Copom poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento de política monetária.”
Carlos Hamilton
DIRETOR DE POLÍTICA ECONÔMICA (BC)

Nenhum comentário:

Postar um comentário