BC pode 'intensificar' uso de juros contra inflação
Banco Central pode ‘intensificar’ uso dos juros contra a inflação, diz diretor |
Autor(es): Gélia Froufe Eduardo Gucolo / Ricardo Leopoldo |
O Estado de S. Paulo - 26/04/2013 |
Com uma frase, o diretor de Política Econômica
do Banco Central, Carlos Hamilton, provocou uma reviravolta no mercado
financeiro ontem. Ele mudou a interpretação que os analistas haviam
dado para o rumo da taxa básica de juros após lerem os 75 parágrafos
da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada mais cedo. A
ata serve como referência dos planos do BC.
“Gostaria de registrar que cresce em mim a
convicção de que o Copom poderá ser instado a refletir sobre a
possibilidade de intensificar o uso do instrumento de política
monetária”, afirmou Hamilton, durante evento do banco Itaú BBA.
A frase que arrematou o dis curso de Hamilton
surpieen deu. Para a maioria dos analistas, a ata havia indicado que o
ritmo de alta continuaria a ser de 0,25 ponto porcentual a cada
reunião, para chegar, no máximo, a 8,25% ao ano. Na semana passada, o
Copom aumentou a Selic de 7,25% para 7,5% ao ano.
A interpretação de agentes financeiros depois
da fala foi a de que os juros poderiam subir mais, no ritmo de o,5ponto
porcentual ao mês, ou por mais tempo. As taxas no mercado de juros
futuros, que estavam em queda até aquele momento, passaram a subir. A
dúvida era se Hamilton falava por si ou pelo BC, Uma fonte do governo
disse que o discurso não foi manifestação isolada.
Sem o uso de meias palavras, como costumam se
pronunciar os membros do Copom, o diretor afirmou que a inflação está
elevada, disseminada e resistente. Negou, porém, que a alta dos preços
vá ficar fora do controle. Até porque, disse, o BC usa a Selic para
combater a inflação.
“O Banco Central dispõe - e está fazendo uso -
do instrumento de política (a taxa de juros), que, por excelência, se
destina a combater a inflação, e o faz com eficácia”, apontou.
Segundo ele, a situação não é simples e o Copom
não fará “escolhas erradas” ao decidir que problema enfrentar. “A
escolha do comitê é o combate à inflação.” Sobre o crescimento,
afirmou que a previsão de 3,1% feita pelo BC está próxima do limite
sustentável. Para ele, algo muito acima disso tende a gerar pressões
inflacionárias. "E por que o crescimento potencial não seria muito
diferente de 3,1%? Minha resposta, decerto, está entre as menos
sofisticadas: essencialmente, porque nossa taxa de investimento é
baixa.” A contribuição da política monetária para que um país tenha
taxas de expansão mais elevadas no médio e longo prazos é, conforme o
diretor, a garantia de estabilidade dos preços. “E a meu ver existe só,
e somente só, esse caminho.” Um dos diretores que votaram pelo
aumento dos juros na semana passada, Hamilton também argumentou que o
controle da inflação não é uma panaceia, mas condição necessária,
principalmente para países com histórico inflacionário como o Brasil,
que viveu uma hiperinflação no início da década de 1990.
Hamilton afirmou que o IPCA ultrapassou o
limite de 6,5%, definido pelo governo, antes do que indicavam as
projeções do BC. Ao explicar os motivos para a alta da inflação,
citou cinco fatores, quatro relacionados a ações recentes do governo:
depreciação do real, salário mínimo e políticas fiscal e monetária
expansionistas. O diretor listou ainda os choques nos preços dos
alimentos.
Ele afirmou ainda que o pior da crise externa
passou e a tendência é que o crescimento global provoque alta nas
cotações das commodities.
“Cresce em mim a convicção de que o
Copom poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de
intensificar o uso do instrumento de política monetária.”
Carlos Hamilton
DIRETOR DE POLÍTICA ECONÔMICA (BC) |
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