Para
Entender o Brexit, ou Bre(Shit)?
Por
Cássio Albernaz
Para compreender o
Brexit, cabe uma advertência inicial relacionada a alguns conceitos envolvidos.
Primeiramente, Brexit significa do inglês “Britain Exit” ou a saída da
Grã-Bretanha, mas surge um problema imediato, saindo do quê mesmo? Outro
problema conceitual se relaciona aos termos Grã-Bretanha e Reino Unido, onde o
primeiro designa a ilha composta por Inglaterra, Escócia e País de Gales, e o
segundo, o Estado sob administração da Rainha composto pelos mesmos países mais
a Irlanda do Norte. Entretanto, no recente plebiscito a Irlanda do Norte também
votou. Então não seria um “Ukexit” o termo mais correto?
Ainda para complicar um
pouco mais, a consulta popular trata de uma saída da União Européia, da Zona do
Euro, ou da Europa, como alguns incautos afirmam? Calma! Os Ingleses, Galeses,
Escoceses e Norte-Irlandeses continuarão sendo europeus! E não, a resposta é
NÃO, pois não há chance do Brasil entrar na União Europeia! A não ser que um
abalo sísmico descole o Brasil da América do Sul e pegando a corrente atlântica
certa nos leve a Europa. Mas isso não passa de devaneio.
Desfazendo os nós. O plebiscito
foi direcionado a população do Reino Unido, no qual deveriam responder à
seguinte pergunta na cédula eleitoral: "Deve o Reino Unido permanecer como
membro da União Europeia ou sair da União Europeia?" Cabe lembrar, que o
Reino Unido não faz parte da Zona do Euro, ou seja, já não adota o Euro como
moeda por medo de perder autonomia e ficar suscetível a instabilidade e
desvalorização da moeda. Entretanto, pertence à União Européia, no que diz
respeito ao livre trânsito de capitais, serviços, pessoas, e vantagens nas
trocas de produtos entre os membros.
Cabe ressaltar que a
consulta popular realizada no Reino Unido não é vinculante. Assim, o
primeiro-ministro pode ou não seguir o resultado da votação e até mesmo o Parlamento
Inglês pode vetar o resultado eleitoral. Entretanto, como se sabe, o custo
político desse ato ninguém quer assumir e levou o primeiro-ministro inglês a
renúncia frente a um parlamento controlado pelo Partido Conservador e pelo Ukip
(Partido Nacionalista) que são favoráveis a saída da União Europeia.
Por que a consulta
popular foi realizada? David Cameron, o até então primeiro-ministro inglês,
numa jogada política para sua reeleição parlamentar de 2015 se utilizou da
proposta como promessa de campanha frente à pressão crescente do seu próprio
partido (Partido Trabalhista) e dos conservadores e nacionalistas. Esses
partidos e a pressão pública popular advertiam uma influência cada vez maior
dos problemas da União Europeia no cotidiano dos cidadãos do Reino Unido se
sentindo fragilizados pela crise econômica e pela crise imigratória.
Dentre as novas e
velhas tensões, estão, entre outras, a defesa da soberania nacional, o orgulho
pela identidade britânica, desconfiança com a burocracia de Bruxelas, o
controle de fronteiras e questões de segurança interna e defesa. Entretanto, ao
sinalizar a saída da UE, investidores que utilizavam a ilha como um trampolim
para o mercado europeu já começam a retirar seus investimentos fora as
dificuldades candentes de importação e exportação que resultarão de tal medida.
Esses impactos levam novamente a Escócia, que votou em massa para seguir na UE,
a cogitar uma saída do Reino Unido, visando manter o pacto e o mercado europeu.
Por outro lado, a
Alemanha e os países europeus querem acelerar o processo de saída do Reino
Unido para dirimir os impactos econômicos e políticos, mas essa transição
poderá durar até 2 anos. Muitos temas polêmicos terão que ser discutidos,
taxação de produtos de importação e exportação, vistos de entrada e saída no
Reino Unido, investimentos de cidadãos europeus nas ilhas, a questão dos
imigrantes, e muitos acordos políticos e diplomáticos.
O Brexit, conduzido
pela opinião pública e alguns partidos políticos, pode gerar em médio prazo uma
crise política e econômica sem precedentes no Reino Unido. Bre(Shit)!
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